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Vídeo machista de Trump quebra a campanha republicana

Vários políticos republicanos pedem que o empresário retire sua candidatura à Casa Branca

O candidato republicano Donald Trump em um mitin.Foto: atlas | Vídeo: JIM LO SCALZO EFE / ATLAS

O candidato republicano Donald Trump enfrenta a mais grave crise de sua campanha eleitoral. A revelação de uma gravação com comentários lascivos pode selar seu futuro. A um mês das eleições presidenciais, multiplicam-se as vozes no Partido Republicano que pedem que ele saia, um gesto insólito a esta altura da campanha. O próprio candidato à vice-presidência, Mike Pence, declarou-se ofendido por suas palavras, e a cúpula do partido freou parte da campanha. Trump reiterou neste sábado sua negativa de abandonar.

“Nunca me renderia. Nunca me rendi na minha vida”, cravou numa conversa com o jornal The Washington Post. Dessa maneira o empresário tenta encerrar o mais recente escândalo de sua campanha, que explodiu nesta sexta-feira com a divulgação de um vídeo em que se refere às mulheres em termos vulgares e degradantes. Em poucas horas vários líderes republicanos condenaram sua atitude, e alguns propuseram que se retirasse da campanha. “Não. Eu não me rendo. Tenho um apoio incrível.”

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Nenhum dos escândalos provocados por Donald Trump, nem mesmo a revelação de que talvez tenha evitado pagar impostos por quase duas décadas, pôde com sua campanha até agora. Nenhum impediu que fosse apoiado pelos lideres máximos do Partido Republicano. Até agora. A revelação de um vídeo com alto conteúdo sexual, em que se gaba de “passar a mão” nas mulheres, fez com que vários republicanos pedissem sua saída, como única forma de continuar tentando a vitória em 8 de novembro.

Neste sábado, Melania Trump emitiu comunicado no qual afirma: “as palavras que meu marido usou são inaceitáveis e ofensivas para mim. Não representam o homem que conheço. Ele tem a mente e o coração de um líder”. A esposa do candidato acrescenta que espera que as pessoas “perdoem” Trump como ela fez e “se concentrem nos assuntos importantes que afetam nosso país e o mundo”.

A corrida entra numa dimensão desconhecida, com uma dos grandes partidos enfrentando seu candidato e com muito pouca margem para encontrar alternativas.

O presidente da Câmara dos Deputados e líder do Partido Republicano, Paul Ryan, condenou as palavras de Trump dizendo que lhe “embrulhavam o estômago” e anunciou o cancelamento do ato a que compareceriam no sábado em Wisconsin. Posteriormente, o aspirante à vice-presidência com Trump, Mike Pence, anunciou que também não o substituiria no evento. “Não posso perdoar suas palavras nem defendê-las”, afirmou Pence em comunicado de sua campanha no qual se mostrou “ofendido” pelo que era revelado no vídeo e afirmou que o debate que Trump e Clinton fazem neste domingo é uma chance “para demonstrar o que está de verdade em seu coração”.

Apesar do surpreendente avanço de sua candidatura desde o início das primárias, Trump desafiou todas as regras de uma campanha eleitoral, quebrou modelos e pôs contra as cordas seu próprio partido. Seus maus resultados entre o eleitorado feminino até agora já representavam um desafio nesta eleição, e agora talvez isso seja um obstáculo intransponível. Por enquanto, o site Politico informa que o Comitê Nacional Republicano cancelou o envio de propaganda eleitoral em nome de seu candidato.

O partido conservador, que há décadas constrói sua identidade em torno da defesa dos valores tradicionais para a sociedade e a família, tem hoje a cara de um homem que admitiu em 2005, meses depois de se casar com sua terceira esposa, que se sentia “automaticamente atraído” pelas mulheres “bonitas”, que “começo logo a beijá-las” e que “quando você é uma estrela, elas te deixam fazer de tudo. Agarrá-las pela boceta. O que for”.

Neste sábado, o candidato se concentrou em calar as vozes dos que pedem sua renúncia, com entrevistas aos principais jornais norte-americanos. Ao Post disse que nunca se rende e ao Wall Street Journal que há “zero possibilidade de que faça isso”. Num vídeo emitido por sua campanha, no qual pronunciou desculpas não usuais, prometeu “ser um homem melhor no dia de amanhã e nunca, nunca decepcioná-los”.

O senador Mark Kirk, um dos primeiros a rejeitar abertamente a nomeação de Trump, foi o primeiro a pedir sua saída. Kirk o chamou de “palhaço maligno” e pediu a convocação das instâncias do partido para substituir de emergência o empresário. A senadora Kelly Ayotte anunciou que escreverá à mão o nome de Mike Pence para votar pelo candidato à vice-presidência de Trump, mas não dará apoio a ele. E a ex-candidata em 2016 Carly Fiorina declarou que o nomeado deve “se afastar” pelo bem do partido. “Donald Trump não me representa, está demonstrado que não consegue assumir suas responsabilidades”, escreveu no Facebook.

As mulheres representam mais da metade do eleitorado nos EUA. Segundo as pesquisas, esse voto já vai na maioria para Clinton Depois das últimas declarações, Trump poderá perder um segmento dentro desse eleitorado, o das mulheres casadas, em que os republicanos ganharam nas últimas quatro eleições. Isso distanciaria muito Trump da vitória. No 8 de novembro pode acontecer que o machismo de um dos candidatos seja o que acabe decidindo a eleição em favor da primeira mulher na Presidência dos EUA.

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