EUA acusam Rússia de promover ciberataques para interferir na campanha eleitoral
WikiLeaks publica e-mails do diretor de campanha de Clinton
Os Estados Unidos acusaram oficialmente a Rússia, nesta sexta-feira, de estar por trás dos casos de pirataria que afetaram nos últimos meses organizações políticas como o Comitê Nacional Democrata (DNC na sigla em inglês). O objetivo de Moscou com esses ciberataques, segundo Washington, seria “interferir no processo eleitoral” de novembro.
“A comunidade de inteligência dos EUA tem certeza de que o Governo russo mandou que se fizessem interferências nos correios eletrônicos de pessoas e instituições norte-americanas, incluindo os de organizações políticas do país”, afirmam, em comunicado conjunto, o Diretor de Inteligência Nacional, James Clapper, e o Departamento de Segurança Nacional, que é dirigido por Jeh Johnson.
O Kremlin reagiu prontamente, qualificando as acusações de Washington de “sandices”.
“Trata-se, mais uma vez, de algum tipo de sandice. (Nossa) rede sofre dezenas de milhares de ataques de hackers todos os dias”, disse o porta-voz do Governo russo, Dimitri Peskov, à agência russa Interfax.
Entre as instituições pirateadas está o DNC. As mensagens haqueadas revelam que alguns de seus dirigentes atuaram em favor de Hillary Clinton no processo das primárias, o que durante a convenção na Filadélfia que a elegeu, em julho, como candidata democrata à Casa Branca foi objeto de fortes protestos por parte dos apoiadores do senador Bernie Sanders, derrotado no encontro e que, de acordo com os dados que foram obtidos pelos piratas, teria sido prejudicado pelo DNC. O roubo de dados e revelações, publicados pelo WikiLeaks e por novos sites como DCLeaks e Guccifer 2.0, provocou, entre outras coisas, a demissão da diretora do DNC, Debbie Wasserman Schultz.
Segundo o Guccifer 2.0, a Fundação Clinton, dirigida pelo ex-presidente Bill Clinton, marido da candidata democrata, também foi pirateada.
A campanha democrata, assim como vários especialistas da rede, acusaram imediatamente Moscou, que, na sua visão, visa a beneficiar o candidato republicano, Donald Trump, que fez elogios ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, em várias ocasiões. Agora, o Governo de Barak Obama, que tem endurecido suas posições em relação à Rússia principalmente por causa da guerra civil síria, confirma essas suspeitas.
“Acreditamos que, pela amplitude e delicadeza desse trabalho, ele só poderia ser feito com autorização de altos funcionários russos”, defende Washington, que não chega a apontar diretamente o nome de Putin.
O objetivo dos ciberataques seria “interferir no processo eleitoral norte-americano”, diz a acusação oficial, que destaca que essa é uma atividade que “não é nova para Moscou”. A Rússia já adotou “técnicas e táticas em toda a Europa e na Eurásia para influenciar a opinião pública” dessas regiões, afirma o texto.
Os serviços de segurança também analisaram as denúncias sobre os ciberataques sofridos por alguns sistemas eleitorais estaduais. Em seu comunicado, Clapper e Johnson confirmam que “na maioria dos casos” esses ataques “foram oriundos de servidores operados por uma empresa russa”. Assinalam também, no entanto, que não foi possível vinculá-los diretamente ao Governo de Putin.
A inteligência norte-americana avalia que seria “extremamente difícil que alguém, mesmo um agente estadual, pudesse alterar a contagem de votos ou os resultados eleitorais com um ciberataque ou uma invasão”. No entanto, o Departamento de Segurança Nacional instou as autoridades eleitorais locais a permanecerem “vigilantes” diante de possíveis ciberataques.