_
_
_
_

Lula é indiciado por favorecer empresa de sobrinho na África

Segundo a PF, ex-presidente teria usado sua influência para que Odebrecht firmasse contratos com a Exergia

Gil Alessi
Y. CHIBA (AFP)

O ex-presidente Lula foi indiciado nesta quarta-feira pelo crime de corrupção passiva envolvendo negócios da empreiteira Odebrecht em Angola. De acordo com informações da Polícia Federal obtidas pela revista Época, o petista teria ajudado a empresa Exergia, da qual seu sobrinho Taiguara Rodrigues é sócio, a obter contratos de até 20 milhões de reais em negócios com a construtora. Segundo investigadores citados na reportagem, os contratos só se realizaram em função do parentesco com Lula. O indiciamento é consequência da operação Janus, realizada em maio, que focou os negócios da Exergia e investiga também o possível tráfico de influência do ex-presidente em negócios internacionais. É mais uma frente de problemas jurídicos que se abre para Lula, que já é réu na Lava Jato em dois processos.

Mais informações
Sérgio Moro decreta prisão preventiva de Palocci
Sergio Moro volta atrás e manda soltar Guido Mantega
Eike Batista será investigado por suspeita de pagamento de propinas

Além de Taiguara, sete executivos da Odebrecht e o ex-presidente afastado da construtora, Marcelo Odebrecht, preso pela Lava Jato, também foram indiciados. A construtora negocia um acordo de delação premiada com a Procuradoria Geral da República por seu papel no esquema de corrupção da Petrobras. De acordo com documentos apreendidos na sede da Exergia em Santos, o ex-presidente recebia os apelidos de tio, presidente e chefe maior. Taiguara mantinha um diário em seu computador onde relatava o andamento das negociações e até a duração de reuniões. Em uma das passagens, de 2009, ele afirma que Lula deu “carta branca” para os negócios em Angola após reunião com o então presidente em Brasília.

Taiguara, que é filho de Jacinto Ribeiro dos Santos, amigo de Lula na juventude e irmão da primeira mulher (já falecida) do ex-presidente, teria então obtido parte dos contratos bilionários da Odebrecht em Angola, que eram financiados com dinheiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Em tese, a Exergia prestava serviços de sondagem, avaliação da topografia e gerenciamento de obras, conforme relatou Rodrigues em 2015, quando foi convocado a depor na CPI do BNDES. No total as duas empresas fecharam negócios 16 vezes - uma delas para serviços na ampliação da hidrelétrica de Cambambe, que rendeu 2 milhões de dólares à Exergia.

Para a PF, a Exergia foi criada para receber dinheiro da empreiteira sem oferecer contrapartida, uma vez que não fazia negócios com outros clientes e não existem indícios de que serviços eram executados. Uma perícia feita a pedido dos agentes apontou a “incapacidade técnica e operacional” da companhia de Taiguara, e um documento interno da Odebrecht diz que o serviço contratado é “imprestável”. Antes da Exergia, Rodrigues atuava com a instalação de vidros em varandas. Em depoimento na Comissão, Taiguara afirmou que não houve interferência alguma de Lula para a obtenção dos contratos.

Durante seus dois Governos, Lula sempre fomentou o investimento de empresas brasileiras no continente africano como forma de desenvolver a economia e fortalecer a infraestrutura na região. Em uma mensagem de Whatsapp encontrada em seu telefone celular, o sobrinho do ex-presidente relata a um intelocutor, em 2015, dificuldade em fechar negócios com a Odebrecht, uma vez que a Lava Jato já estava em curso. Novamente ele evoca o tio, dizendo que ia conversar com Lula para que ele resolvesse o impasse com a Odebrecht.

A assessoria do Instituto Lula informou que a defesa do ex-presidente ainda não teve acesso aos documentos do caso, e reiterou que o petista sempre “agiu dentro da lei, antes, durante e depois de exercer dois mandatos eleito de presidente da República”. A reportagem não conseguiu entrar em contato com os advogados de Taiguara.

Lula já é réu em dois processos ligados à Operação Lava Jato. Em um deles, que está nas mãos do juiz Sérgio Moro, o ex-presidente responde pelos crimes de corrupção passiva, ativa e lavagem de dinheiro por supostamente ter recebido benesses da construtora OAS. Em outro, que corre na Justiça Federal do Distrito Federal, ele é réu por tentativa de obstrução da Justiça, em uma suposta tentativa de comprar o silencio do ex-senador petista Delcidio do Amaral.

Esta não é a primeira polêmica envolvendo a Odebrecht, o PT e Angola. O marqueteiro João Santa e sua mulher, Mônica Moura, que trabalharam em diversas campanhas eleitorais para a legenda, teriam recebido da empreiteira pagamentos no exterior quitar dívidas do PT. Um desses países seria a nação africana. Esses pagamentos seriam uma contrapartida da empreiteira pelo então presidente Lula ter aberto as portas do continente africano para as empresas brasileiras.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_