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Eleições municipais de São Paulo

Na reta final, Haddad associa rivais a Temer e se coloca como o voto da esquerda

Na briga contra a rejeição, prefeito se apresenta como o nome capaz de frear candidato mais conservador

Haddad, em evento que oficializou sua candidatura em julho deste ano.
Haddad, em evento que oficializou sua candidatura em julho deste ano.Ricardo Stuckert (Instituto Lula)

Fernando Haddad, até então conhecido como ex-ministro da Educação de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff, surgia na TV em sua primeira propaganda eleitoral, em 2012, diante do mote "um homem novo para um novo tempo". O PT precisava de um nome fresco para emplacar na Prefeitura de São Paulo e Haddad, um intelectual renomado, professor da Universidade de São Paulo, poderia ajudar a legenda a transcender para além de sua já segura base, a periferia, numa cidade conservadora onde o partido não costuma ter vez. "Com os governos Lula e Dilma, o paulistano viu sua vida mudar para melhor da porta para dentro de casa. Tem mais emprego, mais comida, mais eletrodoméstico. Mas da porta para fora, que é onde a prefeitura atua, a história foi bem diferente", descrevia ele, enquanto entrava na cozinha totalmente equipada de uma casa pobre cenográfica.

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Aproveitando-se da boa maré de Dilma Rousseff, cuja gestão dois meses antes daquela eleição municipal era avaliada como ótima ou boa para 62%, Haddad conseguiu derrotar José Serra (PSDB) no segundo turno com 55% dos votos. Mas, quatro anos depois, com seu partido imerso em uma enorme crise, Dilma retirada da presidência, Lula réu da Lava Jato e a economia agonizando, um já tarimbado Haddad periga não chegar nem ao segundo turno. Em quarto lugar nas pesquisas, ele luta agora para reconquistar os votos da periferia, que deixou de ser a base segura do PT e se pulverizou entre Celso Russomanno e Marta Suplicy, e para garantir boa parte dos votos da esquerda, que divide suas preferências com a ex-petista Luiza Erundina, hoje no PSOL.

A estratégia final de Haddad começou a se desenhar na semana passada e se intensificou nesta. Por um lado, ele quer se aproximar dos eleitores de Erundina, colocando-se como o voto útil da esquerda e o único com força política, neste campo ideológico, capaz de frear a eleição de um nome mais conservador. Por outro lado, quer atacar seus rivais à direita associando-os ao presidente Michel Temer, altamente impopular e ligado a um conservadorismo que pede cortes sociais -uma tática que tem como alvo, principalmente, Marta, a ex-prefeita pelo PT, hoje no PMDB. Na campanha de Haddad, a avaliação é que os eleitores dela são os que têm mais chance de migrar para Haddad, enquanto os de Russomanno podem mudar para João Doria. Segundo o último Datafolha, 51% dos eleitores que dizem que vão votar em Marta afirmam que seu voto ainda pode mudar. É o maior número de incerteza entre todos os candidatos. A maior parte deles, entretanto, diz que sua segunda opção é Russomanno.

Marta, que se apoia em marcas de sua gestão municipal petista, como os CEUs e o Bilhete Único, é a segunda preferida pelos mais pobres: 23% dos que ganham até dois salários mínimos dizem votar nela. Haddad, por sua vez, tem 7% dos votos dessa faixa de renda, uma queda brusca se comparado a 2012, quando nas vésperas daquele primeiro turno o prefeito tinha 21% dos votos desta faixa de renda. Hoje, quem lidera entre os mais pobres é Russomanno, com 31% dos votos. Apesar de ainda ser alvo dos ataques, a avaliação que se faz no PT é que Russomanno não precisa de tanta ajuda para cair Assim como em 2012, ele começou a declinar nas pesquisas após declarações polêmicas; lá, quando apostou na ideia de cobrar mais tarifa de ônibus de quem mora mais longe e, agora, ao dizer que proibiria o Uber, intenção que já retirou.

"É muito importante que a população de São Paulo saiba que tem uma Lei que o Governo Temer está propondo que congela os gastos sociais por 20 anos. Ela vai comprometer todo o planejamento da cidade de São Paulo, independentemente de quem for o prefeito. E tem três candidatos: a Marta, o Russomanno e o Doria que estão apoiando. Então a gente faz um apelo para que as pessoas entendam que essa Lei do Governo Temer vai trazer grande prejuízo para os programas sociais", ressaltou ele, em uma caminhada eleitoral. "Marta, Doria e Russomanno estão fazendo um jogo duplo. Eles falam como se tivessem dinheiro para tudo, mas apoiam o Governo Temer que quer retirar dinheiro da saúde, educação e transporte. Estão dizendo uma coisa na campanha e fazendo outra no Congresso Nacional. Você acha isso correto?", afirmou novamente, em uma propaganda eleitoral. Já, na outra ponta da tática, não sobram elogios a Erundina: "Estou muito feliz de estar ao lado de democratas, como Erundina", destacou Haddad em um carro de som na semana passada.

Rejeição

A dificuldade de Haddad, entretanto, parte da enorme rejeição que os eleitores têm a seu nome. No último Datafolha, 45% das pessoas disseram que não votariam nele de jeito nenhum. "Ele já entra na campanha derrotado. Por causa da rejeição, seu teto de crescimento é muito baixo", ressalta a socióloga Fátima Pacheco Jordão, diretora da Fato Pesquisa. "Sua administração é considerada ruim ou péssima por grande parte da população e isso confluiu com a diminuição da potência do PT em muitas cidades", ressalta ela.

O marceneiro Antônio Pereira Ramos, ex-eleitor do PT que agora está em dúvida sobre em quem votar.
O marceneiro Antônio Pereira Ramos, ex-eleitor do PT que agora está em dúvida sobre em quem votar.Talita Bedinelli

"Eu não voto mais no PT. Eles tinham tudo nas mãos para serem o salvador da pátria, mas olha o que fizeram", dizia o motorista Dener Pereira, 41, em uma esquina de Capão Redondo (região pobre da zona sul de São Paulo) nesta quarta-feira, onde ocorreria uma caminhada com Haddad, que acabou cancelada por problemas de agenda. Ex-eleitor do Partido dos Trabalhadores -"sempre votei em Lula e Dilma"-, ele diz que se desiludiu com os escândalos de corrupção e que, agora, votará em João Doria, o candidato tucano. Do outro lado da rua, dentro de uma kombi, um funcionário da campanha do prefeito lia na manchete do jornal popular Agora: "Moro decide julgar Lula por corrupção". "Olha aí, isso aqui mata o PT", afirmou à reportagem.

De um carro de som, o locutor elencava as melhorias que Haddad havia feito na região daquela subprefeitura: 41 creches, 1.375 moradias populares entregues, o asfalto da avenida recapeado. Mas, perto dali, não era difícil achar quem se lembrasse apenas das ciclovias e dos radares. "Haddad jamais. Estou entre Marta e Russomanno. Marta fez melhorias, trouxe os corredores de ônibus. Russomanno passa na TV defendendo o pessoal", explica o marceneiro Antonio Pereira Ramos, 41, na porta de sua oficina no Jardim Ângela (também na zona sul). "Na outra eleição votei no Haddad porque Lula e Dilma foram bons presidentes, mas agora surgiu essa coisa toda [Lava Jato]. Haddad não teve envolvimento, mas tem essa indústria da multa, que eu até recebi. E essas ciclovias, feitas de qualquer jeito. Tinha que ser nos locais adequados, não na avenida Paulista!", conclui.

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