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Pelo segundo dia, PM dispersa atos contra Temer em São Paulo com bombas de gás

MTST bloqueou vias e ato foi reprimido no centro da cidade. Movimentos prometem novos protestos

Mulher é detida em ato contra o impeachment nesta terça.
Mulher é detida em ato contra o impeachment nesta terça.NACHO DOCE (REUTERS)

Enquanto senadores debatem o impeachment de Dilma Rousseff em Brasília, em São Paulo, atos contra o impedimento da petista terminaram em repressão da Polícia Militar nesta terça-feira e pelo segundo dia consecutivo. O dia começou e terminou com protestos pela cidade: pela manhã, militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) pararam alguma das principais vias e estradas da cidade. As marginais Pinheiros e Tietê, avenidas de grande tráfego, foram bloqueadas por algumas horas e, em alguns pontos, foram montadas barricadas com pneus em chamas. O ato acabou com três detidos, acusados de dano ao patrimônio. À noite, uma marcha convocada pelos grupos Luta pela Democracia e Coletivo pela Democracia começou na avenida Paulista e terminou, dispersada por bombas de efeito moral, na região do Arouche. Ambos os atos pediam pelo "Fora Temer".

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Saindo do Masp - mesmo local onde na segunda-feira a polícia reprimiu o ato também contra o impedimento de Rousseff -, a marcha desta noite foi em direção ao centro pela rua Augusta. Os manifestantes haviam decidido finalizar o protesto na praça Roosevelt, mas, chegando lá, mudaram de ideia. Em um jogral, votaram por ir até a Folha de S. Paulo, cuja redação fica no centro da cidade. Segundo Juliana Oliveira, uma das organizadoras do ato, a escolha do ponto final foi por "se tratar de um veículo de comunicação, onde talvez possamos ter visibilidade". A Polícia Militar foi comunicada da mudança de rota, e assentiu.

O ato foi pacífico até as proximidades do Largo do Arouche. Ali, a polícia tentou deter um grupo de manifestantes, entre eles alguns adeptos da tática black bloc - que portavam paus e pedras nas mãos. Neste momento, foram arremessados paus e pedras em direção aos policiais, que passaram a reagir com spray de pimenta e, posteriormente, com bombas de efeito moral. O centro da cidade ficou com ruas bloqueadas e sacos de lixo espalhados. O batalhão de choque iniciou a caça aos manifestantes, que se dispersaram pela região da República. Um grupo pequeno, de cerca de dez pessoas, chegou até a Folha de S. Paulo, onde encerrou o ato, dizendo que "vão resistir ao golpe". A entrada do jornal foi totalmente bloqueada por policiais.

A Polícia Militar confirma que quatro pessoas foram detidas e levadas para o 2º Distrito Policial, somando ao menos sete detidos ao longo da jornada. Informa também que um PM foi ferido. O Grupo de Apoio ao Protesto Popular atendeu ao menos dois manifestantes feridos nesta noite. A estimativa de quantas pessoas participaram da marcha só será divulgada na manhã de quarta-feira, segundo a assessoria de imprensa da PM.

A entrada da redação da Folha de S. Paulo foi totalmente bloqueada por policiais do Choque.
A entrada da redação da Folha de S. Paulo foi totalmente bloqueada por policiais do Choque.Marina Rossi

Enquanto que pela manhã as manifestações foram convocadas pelo MTST, que vem liderando atos contra o impeachment desde o início do ano, o ato da noite não tinha lideranças tão claras, mas a convocação do protesto no Facebook dava o tom do que poderia acontecer nesta noite. "Queremos paz, mas se querem guerra, devemos mostrar que sabemos fazê-la", dizia. "A tendência é perder o controle", afirmou David Villalva, 27, que se disse coordenador dos coletivos Luta pela Democracia e Coletivo pela Democracia, antes do ato sair, em frente ao Masp. De acordo com ele, os coletivos surgiram ao longo das manifestações contra o impeachment deste ano, por pessoas que não se identificavam com os grupos que lideravam as marchas. "Independentemente de serem contra ou a favor do impeachment, as pessoas devem saber que estão tendo seus direitos cassados", disse Villalva.

A marcha desta noite era formada por estudantes - havia bandeiras da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da União Paulista dos Estudantes Secundaristas (Upes) - representantes da Democracia Corintiana, pessoas com bandeira do arco-íris, que representa o movimento LGBT, do MST e de Dilma Rousseff. Além de "Fora Temer", entoaram cantos enaltecendo as mulheres, os direitos homossexuais e contra a burguesia.

A agenda

Nos primeiros dois dias da semana que marca a reta final do julgamento do impeachment da presidenta Dilma Rousseff as ruas lembraram ao presidente interino, Michel Temer, que, mesmo caso efetivado no cargo por decisão do Senado, ele terá algo de resistência a enfrentar.

O MTST e a polícia não divulgaram balanços, mas os militantes afirmam que não “arredarão o pé das ruas” - haviam prometido também durante o afastamento de Dilma Rouseff, mas essa presença constante não se materializou. Não há uma agenda de protestos definida, mas lideranças do grupo afirmam que haverá novas manifestações semelhantes nesta semana. “Esse Governo interventor e ilegítimo que ataca direitos do trabalhador não conseguirá governar”, afirma Michel Navarro, um dos coordenadores do grupo. Os manifestantes porém, não se iludem de que o quadro atual de impeachment possa ser revertido. “Acho que não dá mais pra virar né? Mas vamos continuar indo para a rua”, disse Fabio Teodoro Silva, que aguardava a liberação dos três dos militantes presos em frente ao 11º Distrito Policial, na zona sul de São Paulo.

No caso do MTST, um dos maiores pontos de atrito com o Governo de Temer foi a suspensão, em maio, de novas contratações do Minha Casa Minha Vida. Dias depois o movimento ocupou a sede da presidência na avenida Paulista, e Temer recuou. A trégua, porém, mostrou-se insuficiente. O Governo acena ao mercado com alterações em leis trabalhistas e na aposentadoria, o que tem potencial para inflamar as ruas, avaliam observadores. Navarro confirma que o grupo, que reúne cerca de 50.000 famílias em sete Estados, que “Temer pode esperar muita resistência e luta” por parte dos movimentos sociais.

Por outro lado, Navarro também prevê um endurecimento da repressão aos protestos – na noite de segunda um ato convocado pela Frente Brasil Popular, Povo sem Medo entre outros na avenida Paulista terminou com bombas de gás e repressão policial. “Não me surpreende, eles vão vir para cima de nós”, disse. Navarro afirma não acreditar que a presidenta possa reverter os votos do julgamento. “Tudo indica que esse golpe parlamentar vai se concretizar”. O militante afirma que o MTST defende a realização e um plebiscito para avaliar “se o povo quer antecipar as eleições”. “A população tem o direito de eleger seus governantes, isso é o básico, é o mínimo da democracia burguesa”, diz.

Para esta quarta-feira, o dia da votação final do impeachment de Dilma Rousseff no Senado, um novo ato contra o impeachment foi convocado pelo grupo Luta pela Democracia, na avenida Paulista, a partir das 18h.

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