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Análise
Exposição educativa de ideias, suposições ou hipóteses, baseada em fatos comprovados (que não precisam ser estritamente atualidades) referidos no texto. Se excluem os juízos de valor e o texto se aproxima a um artigo de opinião, sem julgar ou fazer previsões, simplesmente formulando hipóteses, dando explicações justificadas e reunindo vários dados

Sem passar a limpo

Nasce no Brasil um novo Governo que não tem a legitimidade das urnas

Dilma Rousseff, em ato em Brasília no último dia 24.
Dilma Rousseff, em ato em Brasília no último dia 24.Cadu Gomes (EFE)

Parece ter se instalado um consenso entre a elite política e empresarial do Brasil. Esta semana marca um antes e um depois na história do país. Com Dilma Rousseff fora do Governo de forma definitiva, a crise política se resolverá, criando as condições propícias para uma melhora econômica, que estancará a escalada de inflação e desemprego. Muito poucos se atrevem a contestar publicamente que os problemas vão acabar com a ratificação em seu posto do presidente interino Michel Temer e sua legião ministerial de 22 homens brancos de meia-idade.

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Durante dois anos, desde que conseguiu a reeleição com 54,5 milhões de votos, Rousseff se transformou, aos olhos da opinião pública, na causa de todos os males que assolam o Brasil. Não importa qual crise nacional seja considerada, a presidenta é responsabilizada por praticamente todas, desde a corrupção de ministros e partidos políticos até a galopante crise econômica e a epidemia do zika vírus.

As concentrações de detratores da presidenta, com seu lema “tchau, querida”, tornaram-se elemento fixo em São Paulo, sendo suas barracas tão presentes quanto os arranha-céus e as antenas da avenida Paulista. E conseguiram. Depois de tantos protestos, panelaços e sessões-maratona no Congresso, finalmente Rousseff está à beira de deixar a Presidência, algo que ela parece ter admitido, apesar de tudo. Já se comenta em Brasília que ela avalia fazer uma viagem particular à Europa quando sua deposição se tornar definitiva.

O que acontecer no primeiro dia da presidência definitiva de Michel Temer já não poderá ficar no plano dos desejos. Seu partido está encurralado pelos mesmos escândalos de corrupção que o Partido dos Trabalhadores, de Rousseff. Três ministros de seu gabinete –criado em maio– pediram demissão quando se viram citados no caso de corrupção da Petrobras. O próprio Temer foi mencionado na investigação. Uma nova era no Brasil? Perguntem isso à metade dos legisladores em exercício, que têm causas pendentes na Justiça.

Não, na nova presidência definitiva de Temer não terá desaparecido por mágica a corrupção; nem a falta de demanda internacional de matérias-primas; nem a enorme dívida pública e privada de empresas e famílias. Vou além, atrevendo-me a prever que também não terão se esfumado os eleitores tradicionais do PT em seus feudos do Nordeste, ou os 40 milhões de pessoas que o partido tirou da pobreza extrema em seus 13 anos no poder. É provável que todos esses eleitores, num país em que o voto é obrigatório, tenham algo a dizer daqui a dois anos, quanto Temer precisará se submeter não ao julgamento dos protestos nas ruas, e sim ao da verdadeira legitimidade, que nesse caso somente as urnas dão.

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