Um chef (só) de avental na madrugada
A inspiração para encontrar o diferencial das receitas não tem hora para acontecer
Semana intensa. Dessas em que a gente faz mais coisas antes das 10h da manhã do que Michelangelo fez na Capela Sistina. Acordei às 5h de uma quarta-feira procurando o Pudim, um gato vira-lata metido a maine coon, com peso de jabuti de Itu e pelo suficiente para reprodução de um casaco de vison dos anos 30 e que dorme de conchinha comigo todas as noites. Meu pensamento primário foi: onde está o Pudim?
Olhei para o lado e tive um pensamento secundário, ainda sonolento: onde está meu marido? Senti um cheiro suave de fritura vindo da cozinha. Olhei novamente para o relógio, que marcava 5:07. É isso mesmo? O sol nem nasceu e o chef já está cozinhando? Não acho que seja lenda essa história de que os chefs de cozinha escolhem essa profissão por amor e que o que mais gostam na vida é estar entre as panelas. Mas daí a explorar esse sentimento naquele momento era demais para meu entendimento e minha solidariedade.
Cobri a cara com o travesseiro e tentei dormir, mesmo sem o Pudim. E o marido. O cheiro da fritura foi substituído por um aroma suave de floresta no verão, tipo jardim do éden no dia em que Adão mordeu a maçã... Sentei na cama, com muito sono tentando escolher entre ver o que estava acontecendo na cozinha e desmaiar. Lutando ainda contra o desmaio, ambos irrompem no quarto. Pudim, alegre, sobe na cama e senta, me olhando. O marido, alegre, senta na cama e me estende a mão, cheia de folhinhas verde escuras quentes, que tinham o farfalhar de folhas secas.
“Prova isso”, diz ele entusiasmado e estendendo a mão cheia daquilo.
A cena me parecia meio fantasiosa: meu marido de avental (só avental) e o gato sem sono empoleirados sobre a cama, felizes, de madrugada, como se juntos estivessem tramando um “assalto ao trem pagador”... #sqn
Resolvi provar a folha-verde-seca-cheirando-a-floresta-no-verão e grudei minha língua no emaranhado que rumorejava na palma da mão do chef. Aquilo me fez acordar. E entender porque estavam alertas àquela hora da manhã.
Não sei de onde veio o insight mas, mais do que nunca, o prato que levaria aquele espinafre frito, não seria o mesmo sem ele. O detalhe que faz a diferença. O gesto de estar atento à combinação de sabores e de ter a certeza que o paladar desperta emoções, recordações e sentimentos tão particulares que nem sabemos que existem até sentirmos.
E era só espinafre frito...
Adri Canton é paulistana, radicada no Rio, casada com um chef de cozinha. Não sabe fritar um ovo mas sabe como nascem as trufas negras no Condado de Périgord.
As receitas
Tartar de salmão
Espinafre
140 g de cebola picadinha
400 g de salmão picadinho
2 colheres de chá de gergelim preto e branco já misturados
6 colheres de chá de cebolinha picada
4 colheres de chá de suco de limão
2 colheres de chá de óleo de gergelim
1 pitada de sal
É só misturar tudo que o tartar está pronto. Mais fácil que isso, só pão com manteiga!
90 g de espinafre (só as folhas, sem o talo, e bem higienizadas)
Essa receita requer toda a sua sabedoria e habilidade. A técnica que o chef Leo Prieto ensina é para deixar o espinafre crocante.
- Seque bem as folhas de espinafre e corte-as em tirinhas.
- Coloque-as num saco e tire o ar. Amarre bem o saco.
- Deixe gelar por umas 4 ou 5 horas. Vai assistir a uma maratona de House!
- Retire da geladeira e passe imediatamente em 4 colheres de sopa de amido de milho.
- Frite em óleo quente.
- Depois, seque bem, retire qualquer excesso de óleo e polvilhe açúcar.
- Coloque esse espinafre frito sobre o tartar e voilà!
Acho q o maior desafio é deixar o tartar bem redondinho no prato! E não comer o do vizinho. Bom apetite!
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