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Para Portugal basta uma chance

Quaresma aproveita um rebote no final da prorrogação e elimina uma Croácia com mais posse de bola

Jordi Quixano
Quaresma marca o gol de Portugal.
Quaresma marca o gol de Portugal.Charles Platiau (REUTERS)

Tapava o rosto, esfregava os olhos e balbuciava como podia as melancólicas notas do hino da Croácia enquanto a câmera o mostrava nos telões do estádio. Mas Srna, o capitão perene, não podia segurar as sentidas lágrimas antes do começo da partida, consciente de que ocasiões como essa se apresentam poucas vezes na vida. Era um duelo magnético entre duas equipes entre as mais competitivas, um choque grande daqueles de verdade, uma partida de peso das oitavas de final.

Mas a mesquinhez segurou a ambição e, somente após 115 minutos de autêntica sonolência, aconteceram as duas primeiras finalizações certas. A primeira foi de Perisic, mas Rui Patricio e a trave esquerda defenderam; a outra, na área contrária, foi de Cristiano Ronaldo. Subasic rebateu, mas Quaresma, atento ao rebote, mandou para a rede. Ganhou Portugal, que avança para as quartas de final após vencer sua primeira partida na Eurocopa; e sofreu a Croácia, que tremeu na hora de atacar e pagou com a eliminação.

A equipe balcânica era a que queria a bola, paciente na composição e em busca de uma fissura que esperava encontrar. Errou o tiro porque se deparou com um Portugal simplório e, principalmente, pequeno; defendeu com os 11 jogadores atrás da linha de meio-campo, sempre com um linha recuada, carente de ambições com a bola nos pés, a não ser a busca por contra-ataques esporádicos. Mas era o suficiente. E ainda mais contra uma Croácia que durante longos períodos padeceu da síndrome do handebol, uma vez que o jogo de toca e vai não era vertical. Com uma circulação lenta demais, a zaga trocava passes sem que ninguém atrapalhasse. Daqui para lá, e de volta, com um futebol de aborrecer qualquer espectador. Pepe, que olhava de longe, cobrava que sua equipe avançasse as linhas, que alguém pressionasse os adversários para forçar o erro e tomar a bola. Mas não havia quem fizesse, porque Portugal tinha um plano e dele não se afastava

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Sua rota de fuga era muito mais simples. Queria roubar para sair no contragolpe com pressa através das arrancadas de Nani e Ronaldo. Proposta invalidada pela Croácia, que realizava a transição ataque-defesa na velocidade da luz. Mas parecia melhor para a equipe lusa, que tem força para aguentar até além dos limites. Ou ao menos isso se pensava, porque André Gomes estava mais perdido do que nunca e João Mario apenas participava do jogo. Não restou outra possibilidade a não ser se refugiar nas jogadas de estratégia. E foi em uma falta lateral cobrada por Guerreiro –uma das grandes surpresas do torneio– quando Pepe, que subiu mais alto do que todos, finalizou pela primeira vez. A bola foi alta demais. A réplica, claro, foi idêntica. A Croácia chegou com outra falta indireta que Vida arrematou para a linha de fundo; e, na prorrogação, Vida completou um escanteio com uma cabeçada desviada. Inclusive repetiu o destino nos segundos finais, com outro chute torto.

Todos pareciam conformados. Ou quase. Modric e Rakitic não concordavam com o que estava acontecendo. O meio-campista do Real Madrid nunca foi de tomar calmantes, de forma que se posicionava por trás –sempre perseguido por Adrien Silva– para tentar agitar a partida ou encontrar um caminho até o gol. Acontece que não era a sua noite, perdido em meio ao denso emaranhado de pernas que tinha pela frente e sempre com o bafo de Silva em seu cangote. Até que encontrou um Rakitic que queria a bola, porque com sua seleção tem muito mais responsabilidades ofensivas do que no Barça. Nessa noite, no entanto, foi várias vezes ao chão porque Portugal lhe segurou a base de faltas. Uma entrada de Pepe no joelho, um pisão de Fonte na panturrilha, e uma botinada de William Carvalho na canela. Mas Rakitic, resistente, manteve-se firme e participou da jogada de Perisic, aquele que ao entrar na área cortou para dentro e soltou uma bomba de esquerda que acertou a trave. Também entregou a bola para Brozovic, que chutou tão alto que seria uma conversão no rúgbi. Pouco ou nada mais acontecia do lado contrário.

A entrada de Renato

O isolamento de Cristiano não tinha remédio. Generoso na fase defensiva porque sempre recuava com seus companheiros, quase não participava do jogo porque a bola não chegava tão longe. E quando a tinha, ficava preso em cantos impossíveis em que, quando muito, conseguia uma falta. Não criava problemas nem ameaçava. E um Cristiano inexpressivo não é Cristiano. Para sua sorte, Renato Sanches entrou com seu cabelo rastafári para acender Portugal. Ao contrário dos demais, o novo reforço do Bayern não só corria para trás, mas também com a bola nos pés buscava o lado oposto. Sem chutão. E, em uma dessas, após uma tabela com João Mario, chutou da entrada da área. Para seu azar, e de seu país, pegou terrivelmente mal na bola.

Sem mais futebol, o duelo chegou à prorrogação e por pouco não acaba na disputa de pênaltis. Mas em um contra-ataque finalizado de forma errada por Nani, a bola sobrou para Cristiano bater de primeira e, após defesa do goleiro, Quaresma se certificou que Portugal, ainda que pequeno e sem brilho, avançasse para as quartas. Assim, a Croácia e Serna voltaram a chorar.

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