Lula: “Os que pensam que só posso ajudar como ministro se enganam”
Em encontro com os sindicatos, ex-presidente cobra mudança na política econômica
Cansado e mais rouco que o normal. Praticamente sem voz. Mas no ataque. Assim se apresentou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta quarta-feira em São Paulo para uma plateia formada por sindicalistas, que se reuniram para defender o Governo Dilma Rousseff e "os direitos do trabalhadores" do que eles acreditam ser um "golpe". Apesar de pregar a união de todo o Brasil, Lula deixou de lado o tom "Lulinha paz e amor", que desfilou com ele pela avenida Paulista na última sexta-feira. À vontade entre os seus, defendeu de maneira enfática o mandato de Dilma, ameaçada por um processo de impeachment, e assegurou que vai "ajudar" a sua herdeira a governar o país, independente de ser ministro — a decisão está nas mãos do STF, após o ministro Gilmar Mendes ter suspendido sua nomeação na semana passada, em meio a uma maratona de acontecimentos.
"Aqueles que pensam que só posso ajudar como ministro estão enganados", assegurou, sob gritos de "Não vai ter golpe" e "Lula, guerreiro, do povo brasileiro!". Caso não venha a assumir o cargo, Lula desde já se mostra firme em não renunciar de sua função de articulador político do Governo para a qual foi chamado. Nesta quarta, Jaques Wagner, agora chefe de gabinete no Planalto, também se antecipou a um eventual revés legal e disse que o ex-presidente pode ser assessor de Dilma.
Mudanças na política econômica
Com os dois pés já dentro do Governo, segundo deu a entender, seu objetivo é fazer o que, nas suas palavras, sabe fazer de melhor: "conversar". Pregou mais de uma vez a união entre os brasileiros, taxando de "babaquice" a divisão nas ruas, e explicou que quer percorrer o país. "No meu Governo conversei com os mais pobres, com os mais ricos, com os trabalhadores, com os empresários, com os sindicatos, com os banqueiros...", lembrou o ex-presidente. "Até com os meios de comunicação eu falava... Eles me adoravam", ironizou, para depois dizer que se sente "enojado" com a imprensa, sobretudo após a divulgação, com autorização judicial, de suas conversas telefônicas.
No entanto, o ex-presidente não parece apenas querer ajudar, mas principalmente influir: diante dos sindicatos, cobrou da presidenta uma mudança na política econômica, "que deve ser voltada para a geração de empregos". Era uma crítica que já fazia antes de se dizer parte do Governo e agora ela ganha mais força. Sem detalhar qual caminho a ser seguido, argumentou que os "os cortes retiram a capacidade do Estado de investir e só geram mais cortes". Logo depois, entretanto, explicou que o Governo não deve gastar mais do que arrecada. Para ele, isso aconteceu quando o Executivo desonerou vários setores, deixando de arrecadar "500 bilhões de reais", mas mantendo uma taxa de desemprego de 4,5%. Ainda assim, reconheceu a gravidade da crise e que "vai levar muito tempo para que o país possa viver de novo o que vivemos".
Operação Lava Jato
Para os presentes no ato desta quarta, a Operação Lava Jato é uma ferramenta da direita, personificada desta vez pelo juiz Sérgio Moro, para perseguir o ex-presidente Lula e acabar com o Governo de Dilma Rousseff. Lula pareceu respaldar esta versão, comparando o momento político que o Brasil atravessa ao vivido por Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e João Goulart (Jango), deposto pelos militares em 31 de março de 1964. "Da mesma forma que me acusam hoje de ter um apartamento que não tenho, acusavam o Juscelino de ter um apartamento na Viera Souto que ele não tinha. Diziam que ele tinha feito Brasília para roubar, mas quando ele morreu viram que ele não tinha nada".
Momentos depois, em um discurso que durou aproximadamente uma hora, afirmou: "Aqueles que dizem que sou contra o combate a corrupção estão enganados. Se fosse assim, não teria dado todas as condições para melhorar a Polícia Federal, o Ministério Público... O que não queremos é que as pessoas sejam condenadas pelas manchetes dos jornais antes de serem julgadas". Lula cobrou ainda que os sindicatos pressionem a Lava Jato, que para ele não está apenas condenando os empresários corruptos, mas também quebrando as próprias empresas. "Daqui a pouco vão estar todos presos, mas também todos sem emprego".
O ex-presidente argumentou ainda que "eles" devem "aprender a ficar calmos" e esperar as próximas eleições. "Não podemos aceitar o ódio que está sendo destilado neste país. (...) Vou ajudar a presidenta Dilma a governar, e pode ser a última coisa que faça na vida. Mas este país não pode aceitar o golpe".
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.
Mais informações
Em meio à batalha legal, Lula agora pode abdicar de ministério
Arquivado Em
- Luiz Inácio Lula da Silva
- Operação Lava Jato
- Dilma Rousseff
- Investigação policial
- Caso Petrobras
- Escândalos políticos
- Presidente Brasil
- Polícia Federal
- Financiamento ilegal
- Subornos
- Lavagem dinheiro
- Petrobras
- Financiamento partidos
- Corrupção política
- Caixa dois
- Polícia
- Delitos fiscais
- Corrupção
- Força segurança
- Delitos
- Empresas
- Economia
- Partido dos Trabalhadores
- Partidos políticos
- Política