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Delação de Delcídio do Amaral é homologada pelo Supremo e se torna pública

As revelações, que já vinham fazendo estrago por vazamentos, devem intensificar a crise No Palácio do Planalto, receio é de que ministro Aloizio Mercadante seja preso

O senador Delcídio do Amaral, em imagem de setembro.
O senador Delcídio do Amaral, em imagem de setembro.Wilson Dias (Agência Brasil)
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Se já vinha fazendo estrago enquanto hipótese, a delação do senador Delcídio do Amaral (PT) deve aumentar mais alguns graus na crise política do país após sua homologação pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro Teori Zavascki liberou o conteúdo das revelações feitas pelo ex-líder do Governo Dilma Rousseff à Procuradoria-Geral da República nesta terça-feira. A delação confirma tudo o que já vazou do acordo de colaboração premiada, e piora muito a situação para a presidenta Dilma. Mas a oposição ao Palácio do Planalto também pode acabar em maus lençóis.

As primeiras informações sobre o conteúdo da delação davam conta, no meio da manhã, de que o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, teria tratado com um assessor de Delcídio, após a prisão do senador por tentar interferir no andamento da Operação Lava Jato, para negociar seu silêncio — no Palácio do Planalto, o receio é de que Mercadante possa ser preso nos próximos dias. No meio da tarde, o conteúdo da delação, que já havia sido vazado mais cedo por alguns jornais, se tornou público.

A se confirmar, a tentativa de interferência do ministro nas investigações leva a Lava Jato para o centro do Governo, já que Mercadante, gravado por um assessor de Delcídio, é o ministro mais próximo da presidenta Dilma — em entrevista coletiva, Mercadante se defendeu, dizendo que estava preocupado apenas com Delcídio. No depoimento, Delcídio ainda diz que tanto Dilma quanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sabiam da existência do esquema de corrupção na Petrobras.

Do outro lado do espectro político, o depoimento de Delcídio pode prejudicar o senador Aécio Neves (PSDB), um dos maiores expoentes da oposição. De acordo com a  delação premiada do senador, Aécio teria atuado, ainda enquanto governador de Minas Gerais, para ocultar dados da quebra de sigilo do Banco Rural, que demoraram a ser enviados à CPI dos Correios, em 2005 — a comissão investigava o esquema do mensalão, cujo procedimento original remonta ao governo de outro tucano, Eduardo Azeredo, que foi condenado a 17 anos de prisão pelo esquema. A outra menção de Delcídio a Aécio em seu depoimento diz respeito a um esquema em Furnas.

Outro que entrou na roda a partir dos vazamentos foi o vice-presidente Michel Temer. Segundo a revista IstoÉ, Delcídio afirmou que Temer apadrinhou João Augusto Henriques, que participou de um esquema de compra ilícita de etanol entre 1997 e 2001, quando o presidente da República era Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Augusto Henriques está preso, mas segundo Delcídio, Temer pressionou para que fosse nomeado pela presidenta Dilma na diretoria internacional da Petrobras, em substituição de Nestor Cerveró — a presidenta vetou.

A homologação do acordo de delação de Delcídio chega quando o mundo político esperava pela notícia de que o ex-presidente Lula poderia virar ministro do Governo Dilma. A própria presidenta Dilma declarou publicamente que gostaria de ter seu mentor político na Esplanada dos Ministérios, mas a suspeita de que Lula se uniria ao Governo para tentar se valer do foro privilegiado contra a investigação da Lava Jato tumultuou o ambiente em Brasília e desgasta ainda mais o Planalto desde que essa possibilidade passou a ser considerada. A Bolsa de Valores opera em queda e os investidores atribuem a baixa a essa eventual ida do ex-presidente ao Governo. Aos olhos do país, é mais uma medida desesperada de Dilma para se manter no cargo.

Repercussão

A estratégia do Governo, agora, é descolar a ação de Mercadante da gestão Dilma. Flagrado em uma conversa com um assessor de Delcídio em que promete ajudar o parlamentar preso, o ministro ainda não se manifestou. Coube a líderes da base aliada no Congresso tomar a linha de frente de defesa do Planalto. Depois de participar de uma longa reunião com o ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, os deputados saíram dizendo que Dilma não participou de nenhum ato ilícito e que as delações premiadas precisam ser comprovadas, inclusive nos casos que envolvem opositores.

"Temos a convicção de que todos fazem um esforço para chegar à presidenta. Estamos convencidos de que nada chega à presidenta", afirmou o líder do Governo na Câmara, José Guimarães (PT). "Há três delações premiadas em relação ao senador Aécio Neves e ninguém pode dizer que ele é culpado. A presunção de inocência deve valer para ele e para qualquer outro que for citado. É necessário respeitar o devido processo legal", ponderou o líder do PT na Câmara, Afonso Florence (PT-BA).

Mais cedo, o advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, seguiu nessa mesma linha. Em um encontro com jornalistas na AGU, Cardozo, que deixou recentemente o Ministério da Justiça, afirmou que todas as investigações precisam ser aprofundadas, independentemente de quem seja o alvo. O ministro reforçou que, até o momento, nada que implicasse a presidenta foi encontrado.

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