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Venezuela investiga o sumiço de 28 mineradores no sul do país

Governo não reconhece o fato e governador acusa oposição de buscar ganhos políticos

O presidente venezuelano Nicolás Maduro
O presidente venezuelano Nicolás MaduroMARCO BELLO (REUTERS)
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A Procuradoria-Geral da República Bolivariana da Venezuela decidiu investigar um rumor que assustou o país no fim de semana. Segundo informações procedentes de Tumeremo, no Estado de Bolívar (sudeste), 28 mineiros estão desaparecidos desde sexta-feira. Teme-se que tenham sido assassinados por um grupo criminoso liderado por um indivíduo conhecido como El Topo, que pretendia ocupar a valiosa jazida de ouro descoberta horas antes na gleba Atenas, na estrada para o povoado de Guasipati. O Ministério Público designou dois procuradores para investigar a veracidade de um fato que ainda não foi reconhecido pelo Governo de Nicolás Maduro.

Tumeremo, a 10 horas de carro de Caracas, é parte da imensa savana onde se elevam as chapadas mais famosas do país e também uma terra sem lei, vítima do progressivo desaparecimento da arbitragem do Estado nas relações entre os cidadãos e da aparente cumplicidade entre o poder político local e a criminalidade. De acordo com relatos recebidos da região e jornais locais, os familiares dos 28 desaparecidos iniciaram no sábado um protesto que bloqueou as principais vias da cidade e a Troncal 10, a rodovia que liga o povoado à capital, Caracas, no norte, e ao Brasil, no sul.

Os relatos que os familiares dos desaparecidos, que se mantêm anônimos por medo de represálias, deram à imprensa local dão alguns indícios para supor que não se trata de um arranjo político, como sugeriu o governador da província, Francisco Rangel Gómez, ao desmentir a suposta chacina. “Até o momento as autoridades não encontraram os cadáveres nos locais onde os familiares afirmam que foram enterrados, nem se encontrou qualquer indício da chacina na gleba Atenas ou no setor de Hoja de Lata. Mas há desaparecidos, isso é fato. São irmãos, filhos e vizinhos das pessoas que estão bloqueando a principal via de comunicação”, afirmou por telefone ao EL PAÍS o opositor Carlos Chancellor, prefeito do município de Sifontes, que abrange Tumeremo.

A extração de ouro por pequenos e grandes comerciantes é a principal atividade na região, um ofício que também atrai brasileiros, guianenses e pessoas oriundas de outras partes do país. Em geral são pessoas que saem para trabalhar de manhã e retornam a seu domicílio à tarde. A preocupação entre os parentes se intensificou desde a sexta-feira ao comprovar que seus familiares não voltaram.

Familiares suspeitam que houve uma chacina

Chancellor não quis oferecer nem mesmo uma versão oficiosa do ocorrido, mas admite que as minas estão nas mãos de grupos criminosos. Quem tem levado a sério as suspeitas de chacina, como receiam os familiares a partir dos relatos de supostos sobreviventes, são os deputados Américo de Grazia e Andrés Velásquez, da Mesa da Unidade, de oposição. De Grazia, por exemplo, publicou no Twitter uma lista com os nomes de 17 desaparecidos. Velásquez comparou a ocorrência ao caso dos 43 estudantes desaparecidos em Ayotzinapa, México, em setembro de 2014.

São frequentes na região os confrontos armados pelo controle das jazidas, mas nunca antes se reportou um desaparecimento coletivo. Na atual crise econômica venezuelana esse fato assume um significado especial. A exploração industrial das riquezas auríferas da Venezuela é a nova obsessão do presidente Maduro na tentativa de diversificar as fontes de renda do Estado.

Em 24 de fevereiro o governante venezuelano ativou o que, no jargão oficial, se chamou de “motor da mineração”: uma ordem para quantificar e certificar as reservas de minérios no Estado de Bolívar, o maior do país. Caracas está, ao mesmo tempo, procurando uma maneira de incentivar as grandes companhias transnacionais a explorar esses recursos no curto prazo. O Governo está convencido de que, no futuro, esses investimentos resolveriam dois problemas: a diminuição do fluxo de caixa que sempre vem atrelada a cada queda do preço do barril de petróleo e o garimpo ilegal, palco de disputas mortais que às vezes são travadas nessa região agreste do país.

O Estado também participará na busca dos minérios. No início de fevereiro foi publicada no Diário Oficial a criação de uma empresa militar de indústrias mineradoras, petrolíferas e de gás. O anúncio causou alarme por acrescentar mais uma carga a uma burocracia estatal hipertrofiada.

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