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Republicanos buscam de maneira desesperada forma de frear Trump

O ‘establishment’ tem quinze dias, antes da primária da Flórida, para encontrar a fórmula que evitaria a indicação

Marc Bassets
Marco Rubio decide seu futuro nas primárias da Flórida, em 15 de março.
Marco Rubio decide seu futuro nas primárias da Flórida, em 15 de março.Alan Diaz (AP)
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O Partido Republicano está queimando os últimos cartuchos para evitar que Donald Trump consiga ser o candidato às eleições presidenciais de novembro. Depois de ganhar na maioria dos Estados nas primárias da Superterça, o nacional-populista Trump, um magnata com uma mensagem alheia à tradição conservadora dos Estados Unidos, está mais perto da indicação republicana. Mas carece de um número suficiente de delegados. A resistência, no aparato do partido e nas bases, é forte. Seus oponentes querem, desesperadamente, levar a batalha até a convenção que decidirá o candidato em julho.

O habitual no processo de primárias e caucus (assembleias eleitorais) que serve para escolher os candidatos às eleições presidenciais dos Estados Unidos é que os partidos se unam em torno de um favorito quando está claro que não existem rivais de peso. Em circunstâncias normais, este seria o momento para que os republicanos aceitassem que Trump será o candidato. Seus rivais começariam a abandonar a corrida e os doadores e estrategistas se concentrariam em impulsioná-lo para a corrida presidencial contra o candidato democrata.

Mas, neste ano, nada é normal na campanha para a Casa Branca. O fenômeno Trump – um bilionário nova-iorquino conhecido por seu arranha-céus, seus reality shows, seu ego desmedido, suas teorias conspiratórias e seu penteado – rompe as leis da gravidade política.

Quando anunciou, em junho, sua candidatura para a indicação republicana, ninguém o levou a sério, a começar pelo Partido Republicano. Agora, a cúpula da legenda descobre, horrorizada, que Trump – um homem desbocado e grosseiro, machista e xenófobo, que mistura a retórica de extrema direita sobre os imigrantes em situação irregular e posições econômicas próximas à esquerda sindical – está às portas da indicação.

O aparato republicano, o famoso establishment, não dispõe de um manual que ensine como reagir. Durante meses acreditou, como a maioria dos observadores, que Trump não iria longe. Seus comentários inconvenientes, insultos e piadas com imigrantes, muçulmanos, mulheres, portadores de deficiência e prisioneiros de guerra teriam liquidado a corrida de qualquer outro político.

Sucessão de vitórias

A sucessão de vitórias desde o início do processo de primárias há um mês disparou o alarme. Na última semana, os rivais passaram à ofensiva. Pela primeira vez questionaram sua integridade pessoal e seu sucesso empresarial. Repudiaram sua ambiguidade em relação a grupos racistas como o Ku Klux Klan.

Quem liderou o ataque foi o senador pela Flórida Marco Rubio, filho de cubanos, fiel às tradições republicanas em política externa e economia: o candidato ideal se o partido quisesse se abrir para um país mais diversificado, menos anglo e mais latino. Mas Rubio, última esperança do establishment, coleciona uma derrota atrás da outra. E a alternativa, o senador pelo Texas Ted Cruz, desagrada a alguns setores republicanos quase tanto como Trump, por sua intransigência ideológica e também por sua antipatia pessoal.

As vitórias de Trump na Superterça – o dia com mais primárias em todo o processo – consolidam-no como favorito. Nos próximos dias, a estratégia do establishment pode consistir, primeiro, em redobrar os ataques com anúncios negativos. Até agora, os grandes milionários da direita, apesar de assistirem com espanto à ascensão de Trump, se abstiveram de enlamear-se na briga.

As primárias da Flórida, em 15 de março, podem ser a última tábua de salvação da facção Rubio: se Rubio não ganhar em seu Estado, sairá muito enfraquecido e as opções do establishment se reduzirão ainda mais.

O aparato pode tentar adiar a indicação de Trump. O argumento é matemático. Porque, embora Trump tenha vencido 10 das 15 primárias e caucus realizados até agora, só conseguiu 46% dos delegados e 34% dos votos. Ou seja, dois terços dos eleitores preferem outros candidatos.

Isso significa que, se o restante do partido se unisse para apoiar um único candidato, talvez fosse possível disputar a indicação de Trump. Mas isso exigiria que os rivais de Trump abandonassem a corrida, e nem Rubio nem Cruz estão dispostos a fazê-lo.

Um novo partido

Poucos acreditam na possibilidade de derrotar Trump durante o processo de primárias, mas ainda seria possível evitar que ele chegue à convenção com uma maioria de delegados. Ou seja, ele poderia ganhar na maioria dos Estados e ter maior número de delegados que os demais candidatos, mas, se esse número for inferior a metade mais um do total de delegados, uma frente anti-Trump o derrotaria na convenção.

A terceira opção, discutida por alguns políticos republicanos e líderes de opinião, é formar um terceiro partido no caso de Trump ser o indicado republicano, ou votar diretamente na favorita democrata, Hillary Clinton, como um mal menor.

Alheio a essas digressões agônicas, Trump ajusta sua mensagem. No discurso de vitória, na noite de terça-feira em Palm Beach (Flórida), evitou seu tema estrela, a imigração, e se concentrou no prejuízo que o comércio internacional causou à classe média. Enumerou uma série de empresas que transferiram suas fábricas para países em desenvolvimento. Lamentou que os Estados Unidos tenham se esquecido da classe média. E se apresentou como um empresário que criará mais empregos do que nunca.

Era uma mensagem dirigida às classes trabalhadoras castigadas pelas recessões das últimas décadas e pela crescente desigualdade. Uma mensagem quase democrata, pensada para as eleições presidenciais de novembro em que, se for ele o candidato republicano, provavelmente enfrentará a democrata Hillary Clinton.

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