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A vitória insuficiente de Rajoy dá opções para um pacto de esquerdas

Pedro Sánchez poderia tentar governar com o apoio do Podemos e dos nacionalistas

Miguel González

Quando lhe perguntaram na sexta-feira passada, dia 18, em Bruxelas qual seria um bom resultado para ele, Mariano Rajoy respondeu: “Ser a primeira força política e governar”. Seu partido, o PP, conseguiu vencer as eleições, mas está longe de ter garantido o Governo. Os populares, como são chamados, não só ficam a anos-luz da maioria absoluta (176 cadeiras) como obtêm o pior resultado conquistado por um partido vencedor das eleições na história recente democrática espanhola (123 deputados), muito abaixo dos 156 de Aznar em 1996.

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Aznar conseguiu governar há quase uma década graças ao acordo legislativo que assinou com os nacionalistas catalães de Jordi Pujo, ao qual se somaram PNV e Coalición Canaria. Descartado o nacionalismo catalão como parceiro, por sua tendência independentista, o olhar de Rajoy se dirige a outro partido de origem catalã e orientação contrária: Cidadãos, de centro-direita.

Mas, à luz dos resultados, o apoio do Cidadãos (40 cadeiras) não bastaria para que Rajoy fosse eleito presidente, não em primeiro turno por maioria absoluta, e o líder na nova força, Albert Rivera, já deixou claro durante a campanha que não dará seu voto afirmativo ao ainda presidente do Governo.

Nestas condições Rajoy só pode aspirar a que o Cidadãos se abstenha na segunda votação, na qual lhe basta uma maioria simples de votos para ser empossado. Mas —além de ainda não estar claro se tal abstenção seria incondicional ou exigiria contrapartidas— será insuficiente se todos os demais partidos votarem contra, já que, a soma das forças políticas restantes supera com folga a metade das cadeiras.

A política praticada pelo PP durante estes anos de maioria absoluta faz com que seja muito difícil conseguir apoios de outras fontes. Coalición Canaria e PNV seriam os mais acessíveis mas ambos, especialmente o segundo, se mostram muito relutantes.

A grande questão de Rajoy é que, devido à fragmentação do Parlamento saído das urnas, não seja possível desenvolver uma alternativa.

O pacto entre o Partido Socialista (PSOE), de centro-esquerda, e o Podemos, de esquerda, não parece fácil, devido às profundas diferenças de seus respectivos programas, incluída a realização de um referendo na Catalunha. Ainda que o PSOE tenha se imposto claramente como segunda força política e o Podemos não tenha conseguido a diferença que algumas pesquisas arriscavam, Pablo Iglesias chamou para si em muitas ocasiões a liderança de um eventual Governo de esquerda, da qual não abrirá mão facilmente.

Sem o voto positivo do Podemos, o socialista Pedro Sánchez não tem possibilidades de ser eleito, ainda que seja muito mais fácil para ele do que para Rajoy obter o apoio de PNV, Unidad Popular-IU, Coalición Canaria —com as quais os socialistas governam no arquipélago— ou até dos nacionalistas catalães. Com todos ou alguns deles, Sánchez poderia chegar a um pacto, pelo menos para que o apoiassem ou se abstivessem.

Descartado o PP, a maioria mais sólida é a que formaria uma tríada entre PSOE, Podemos e Cidadãos, mas Rivera já deixou claro que não apoiará nenhum Executivo que tenha o respaldo de Pablo Iglesias —sequer abstendo-se—, e por isso Sánchez deverá escolher um de dois parceiros incompatíveis entre si; ainda que só o Podemos tenha cadeiras suficientes para tentar sequer a formação de Governo.

Há outra opção, a mais sólida do ponto de vista aritmético e a mais polêmica politicamente, que é a grande coalizão entre populares e socialistas. Os segundos a recusaram de saída. E não é fácil que seja proposta, a menos que o Parlamento que saiu das urnas se demonstre ingovernável e que o novo Governo catalão, que deve ser constituído em janeiro ou convocar novas eleições autonômicas, acentue seu desafio independentista.

O presidente português, Aníbal Cavaco Silva, encarregou seu correligionário Pedro Passos Coelho da formação de Governo depois das eleições de 4 de outubro passado. Cavaco Silva se baseou no fato de que a coalizão conservadora tinha sido a mais votada, ainda que só tivesse obtido 107 das 230 cadeiras. Um mês depois, o presidente português teve de se render à evidência e propor como primeiro-ministro o socialista Antonio Costa, que construiu uma maioria parlamentar de esquerda.

A Constituição deixa nas mãos do Rei a decisão de propor às Cortes o candidato a presidente. Felipe VI não é obrigado a escolher o líder do partido mais votado, mas quem trouxer mais possibilidades de obter o mandato. Por isso, antes de tomar uma decisão, discutirá com os grupos parlamentares.

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