Macri chega ao Brasil preocupado com a situação do seu sócio estratégico
Presidente argentino eleito precisa de Governo forte em Brasília para segui-lo em guinada
Mauricio Macri chega a Brasília nesta sexta-feira pela manhã, no pior momento possível, com a presidenta Dilma Rousseff em meio a uma gravíssima crise política que ameaça derrubá-la. Macri por enquanto decidiu manter a viagem, a primeira para fora da Argentina depois da sua eleição, inclusive antes de assumir o mandato, pois vê isso como um gesto de apoio político a Rousseff. Ele está preocupado com a crise política brasileira, segundo fontes do macrismo, porque precisa de um Governo forte no país vizinho para negociar com ele a guinada que pretende imprimir à política sul-americana e sobretudo para promover o acordo comercial do Mercosul com a União Europeia, cujas negociações se arrastam sem avanços há 20 anos.
“Temos um compromisso com o Brasil, já dissemos isso na campanha. É o nosso sócio estratégico”, afirma Fulvio Pompeo, o homem-chave de Macri para as relações internacionais. O presidente eleito deixou claro desde o primeiro dia que viajaria a Brasília em primeiro lugar, porque o mais importante na sua política externa é a relação com o grande gigante econômico do sul. No desenho político que Macri tem na cabeça, o Brasil e a Argentina são, dentro do Mercosul, como a Alemanha e a França dentro da UE: os dois motores políticos e econômicos condenados a se entenderem à margem das ideologias de seus governantes. Macri já manteve conversas com dirigentes europeus aos quais transmitiu sua intenção de revitalizar o processo de negociação UE-Mercosul e facilitar a abertura para a Aliança do Pacífico. Nisso ele acredita contar com o apoio do Brasil, mas precisa que o Governo — seja encabeçado por Rousseff ou outra pessoa — esteja forte internamente para poder dar esse passo.
Rousseff e seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, trabalharam muito para evitar a vitória de Macri, mas agora tudo isso parece esquecido, e o argentino está empenhado em travar uma intensa relação com a presidenta brasileira. Por isso este momento de fragilidade dela é tão inquietante.
Macri tem dois assuntos-chave na pauta da sua viagem a Brasília: a negociação do acordo UE-Mercosul, que estava bloqueado precisamente por reticências argentinas — e também de sócios da UE, em especial a Alemanha — e a questão da Venezuela. Aí também Macri precisa de uma Rousseff forte para que ela possa vencer as reticências dentro do seu partido e se distanciar do presidente venezuelano, Nicolás Maduro. O argentino já sabe que a brasileira não vai apoiar sua intenção de evocar a cláusula democrática do Mercosul contra a Venezuela, mas espera que ela se afaste de Maduro de forma discreta, porém profunda. Macri vê que a política econômica brasileira já passou por uma guinada na direção de posições mais liberais, inclusive semelhantes às que ele pretende implantar na Argentina, e quer aproveitar o momento para promover uma mudança total nos rumos da política latino-americana de mãos dadas com o Brasil. Para isso, no entanto, é preciso que Rousseff supere sua crise o quanto antes, ou seja substituída.
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