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Blair pede perdão pela guerra do Iraque e a relaciona à ascensão do EI

Ex-primeiro-ministro britânico não se desculpa, porém, pela morte de Saddam Hussein

Pablo Guimón
O ex-primeiro-ministro britânico durante viagem a Jerusalém como enviado da ONU para o Oriente Médio, em julho de 2014.
O ex-primeiro-ministro britânico durante viagem a Jerusalém como enviado da ONU para o Oriente Médio, em julho de 2014.Sebastian Scheiner (AP)

O ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair pediu desculpas por seu papel na guerra do Iraque, à qual levou seu país há 12 anos. Em entrevista à CNN, o último líder trabalhista a ganhar uma eleição pediu perdão por utilizar informação de inteligência equivocada; reconheceu que não soube prever o caos que seria desatado após a derrubada de Saddam Hussein, e admitiu que esse mesmo caos pode ter contribuído para o surgimento e crescimento do grupo jihadista Estado Islâmico (ISIS, em sua siglas em inglês). Blair, no entanto, se negou a pedir desculpas por eliminar do poder o ex-ditador iraquiano e defendeu aquela intervenção armada, apontando para a atual guerra civil na Síria para destacar os perigos da falta de ação.

“Peço desculpas pelo fato de que a inteligência que recebemos foi errada”, diz em entrevista que será transmitida a partir de segunda-feira no especial Long Road to Hell, da emissora norte-americana, apresentado por Fareed Zakaria. “Também peço desculpas por algumas das falhas no planejamento e, certamente, por nosso erro em compreender o que aconteceria uma vez que derrubássemos o regime”.

“Porém, acho difícil pedir desculpas por derrubar Saddam”, acrescenta Blair, que, à pergunta de se a invasão do Iraque foi um dos fatores principais para o aparecimento do Estado Islâmico, admite que “há elementos de verdade nessa questão”, segundo trechos da entrevista citados pelo Daily Mail.

Essa não é a primeira vez que Blair admite erros na guerra do Iraque de 2003, que prejudicou enormemente sua popularidade e foi um dos motivos para sua saída da residência oficial de Downing Street em 2007. Mas é a primeira vez que assume com maior contundência. E o faz quando parece que estão a ponto de serem publicados os esperados resultados da investigação de John Chilcot sobre a guerra do Iraque, encomendada pelo Governo de Gordon Brown há seis anos.

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Muitos, inclusive a ministra principal da Escócia, Nicola Sturgeon, queriam ver na entrevista concedida à CNN uma tentativa de Blair de preparar o terreno ante as possíveis críticas que venha a suscitar a publicação das conclusões da investigação. Não há uma data concreta para a publicação do levantamento, que teve custo até o momento de quase 60 milhões de reais, mas o primeiro-ministro David Cameron expressou recentemente sua irritação pela demora e cobrou Chilcot a concluir o trabalho.

Apesar de admitir erros, segundo os trechos adiantados da entrevista, Blair se declara preparado para “enfrentar o juízo da história”. E destaca que outras atuações internacionais posteriores também não tiveram bons resultados. “Tentamos a intervenção com tropas no Iraque, a intervenção sem tropas na Líbia e a não intervenção, mas com um pedido pela mudança de regime, na Síria. Não estou certo de que, inclusive se nossa política não funcionou, as seguintes tenham funcionado melhor”, afirma.

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