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Ultraconservadores nacionalistas vencem as eleições na Polônia

Pesquisas de boca de urna dão 39% de votos ao partido de Kaczynski no pleito

Beata Szydlo, favorita nas eleições, vota com seu marido.
Beata Szydlo, favorita nas eleições, vota com seu marido.K PEMPEL (REUTERS)

Os ultraconservadores do partido Lei e Justiça (PiS) venceram as eleições na Polônia, segundo as pesquisas de boca de urna, que dão a eles 39% dos votos e 242 deputados de um total de 460. Com esses resultados, Beata Sdydlo será a nova primeira-ministra. A volta dos nacionalistas céticos com a União Europeia faz Bruxelas temer uma deterioração das relações e problemas em assuntos estratégicos, como o meio ambiente e a cooperação na crise dos refugiados. A Plataforma Cívica (PO), grupo da direita liberal até agora no poder, ficou muito atrás do PiS, com 23% dos votos, 133 parlamentares e uma imagem muito desgastada depois de oito anos no poder.

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A sexta economia da UE é o maior dos países ex-comunistas que se uniram à UE em 2014, por isso seu Governo se apresenta como uma força determinante em uma região com a qual a UE custa cada vez mais a fechar acordos, e o húngaro Viktor Orban já funciona como poder contrário a Bruxelas.

A relação da Polônia com a UE é ambivalente: se por um lado seus cidadãos apreciam a segurança econômica e estratégica da União, a parte mais vulnerável da sociedade —sobretudo os idosos, rurais e empobrecidos— teme que sua identidade católica se dissolva dentro da modernidade secularista que atribuem à Europa.

A retórica anti-europeia do PiS arrefeceu desde que seu presidente e líder espiritual, Jaroslaw Kazynski, ocupou o Governo, entre 2005 e 2007. “Atritos com Bruxelas existirão, sem dúvida: assim como as emissões de CO2 devido ao nosso carvão, ou a entrada no euro, que recusamos”, concorda Leszek Skiba, do Instituto Sobieski, think tank do PiS. Que a primeira visita oficial do novo presidente polonês [Andrzej Duda, do PiS, eleito em maio] tenha sido à Estônia dá pistas sobre o sotaque regional que a política externa pode assumir. No Parlamento Europeu o partido milita no Grupo dos Conservadores e Reformistas ao lado dos tories britânicos, que veem com bons olhos a ascensão de seus parceiros céticos quanto ao euro diante do referendo para a saída britânica da UE. Mesmo assim, os otimistas esperam que não haja incompatibilidades tão sérias como as de cerca de uma década, baseando-se na evidência de que a europeização alcançada pela sociedade polonesa parece dificilmente reversível.

Nesta lógica de relações tempestuosas com Bruxelas, um dos focos da campanha eleitoral foram os refugiados. O PiS criticou o Governo atual, a direita liberal da Plataforma Cívica (PO) por aceitar 7.000, com uma retórica muito hostil que encontrou eco na população. “Somos a sociedade mais homogênea da Europa. Os refugiados têm outra religião e isso assusta os poloneses”, pondera Malgorzata Druciarek, do think tank Instituto de Assuntos Públicos (ISP): “Esta crise deu muitos votos ao PiS, que tomou a posição de ‘Vou defendê-los e os muçulmanos não entrarão”.

Mas não foi a política externa que impulsionou o PiS. Sua campanha se concentrou na má distribuição da riqueza acumulada nestes anos de crescimento (25% desde 2008), com uma ótica reivindicadora e cristã. O ideólogo Kazynski aparece obcecado por recuperar a grandeza de uma Polônia imperial mediante a reeducação nacional, os valores tradicionais, a reindustrialização, a distribuição das riquezas e a criação de grandes destaques nacionais. Em campanha, prometeu intervenção do Estado em quase tudo, mas sem abandonar um capitalismo muito marcante.

O aumento da idade de aposentadoria e o fim dos contratos de lixo são suas propostas sociais mais populares. Para o PiS, a família e a pátria são a medida de todas as coisas: “As mulheres são reduzidas a mães. Chegam a dizer em seu programa que é necessário cuidar de sua saúde ‘para ter filhos sadios’”, explica Druciarek. Esta pesquisadora teme retrocessos especialmente em relação às minorias e às mulheres. A lei do aborto é outra das obsessões do PiS, apesar de ser uma das mais restritivas da Europa. “Queriam torná-lo ilegal, mas foi tão difícil chegar a um consenso no momento que a sociedade prefere não tocar no assunto”, afirma Druciarek.

O fracasso do ‘eu ou o caos’

Muitos analistas culpam os liberais do PO (23,4% dos votos segundo as pesquisas de boca de urna) de dar a vitória ao PiS de bandeja. “Acreditávamos que o PO se manteria por um tempo, mas estão jogando o ‘eu ou o caos’ sem propor nada e ameaçando com a entrada do PiS”, explica uma fonte diplomática europeia. A falta de reformas desmobilizou o eleitorado liberal.

Um escândalo de escutas em 2014 foi outro ponto. A gravação de conversas entre ministros em restaurantes indignou pelo tom depreciativo dos políticos ao falar dos cidadãos e aliados internacionais.

Considera-se outro erro a saída do antigo primeiro ministro Donald Tusk (eleito em 2011) para presidir o Conselho da Europa, deixando como primeira ministra Ewa Kopacz, uma política com pouca força.

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