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FMI alerta sobre a dívida das empresas dos países emergentes

Países em desenvolvimento têm dívidas no valor de 11,6 trilhões de reais

ALICIA GONZÁLEZ (ENVIADA ESPECIAL)
Participantes da reunião do FMI e do Banco Mundial em Lima (Peru).
Participantes da reunião do FMI e do Banco Mundial em Lima (Peru).MARIANA BAZO (REUTERS)

A estabilidade financeira global não está assegurada, alerta o Fundo Monetário Internacional (FMI). Depois de anos de ajustes, reformas e mudanças regulatórias para enfrentar a maior crise econômica global desde a Grande Depressão, o sistema financeiro ainda enfrenta graves riscos e, como quase tudo nesse momento, o principal foco de incerteza vem das economias emergentes, em particular, do elevado endividamento das empresas desses países, boa parte dela em moeda estrangeira.

O departamento de Assuntos Monetários e Mercados de Capitais do Fundo, dirigido pelo espanhol José Viñals, fez cálculos e estima que as economias emergentes têm dívidas no valor de três trilhões de dólares (11,6 trilhões de reais), o que dá uma ideia do ajuste que devem enfrentar. Essa debilidade é somada com os resquícios da crise financeira nos países desenvolvidos e menores garantias de liquidez nos mercados, como demonstrou o contágio das bolsas deste ano. Se esses desafios forem corretamente abordados, a economia pode crescer 0,6% a mais para 2018; caso contrário, o PIB pode cair 2,4% em relação ao cenário previsto para o momento. “Estão em jogo três pontos de PIB”, alertou Viñals na quarta-feira em Lima.

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Três trilhões de dólares é o mesmo valor com que os países da zona do euro tiveram de lidar em 2010, com uma diferença fundamental: o ajuste europeu foi produto da crise, e, portanto, abrupto, e que o alerta do Fundo para os emergentes é preventivo, o que permite moderar o ritmo do pagamento das dívidas, como insiste o órgão. “Um alto endividamento do setor privado e sua maior exposição às condições financeiras globais deixaram as empresas muito mais expostas à desaceleração econômica e os países emergentes, à saída de capitais e à deterioração na qualidade do crédito”, disse Viñals.

A China lidera no tamanho da dívida em relação ao PIB, com uma dívida de 25% acima do que os especialistas consideram apropriado e só recentemente, disse o Fundo, o setor financeiro começou a abordar o problema dos créditos não pagos. Depois da China, respectivamente, estão a Tailândia, Turquia, Brasil, Indonésia, Malásia, Arábia Saudita, México, Rússia e Argentina. Países que estão, portanto, mais propícios a sofrer uma crise bancária e empresarial, que pode acabar contagiando a dívida soberana e a qualificação pelas agências de rating, como aconteceu recentemente com o Brasil.

Críticas à gestão da China

São muitas questões – os resquícios da crise financeira, a queda dos preços das matérias primas, a normalização da política monetária, a ida da China a um novo caminho de crescimento, a vulnerabilidade dos emergentes – e a probabilidade de que alguma delas saia da trajetória prevista é alta. E mais, alguns desses riscos já estão se cristalizando, como o contágio sofrido nas Bolsas de meio mundo em 2015 pelas mudanças na política cambial chinesa.

Chama a atenção neste momento o cordial tratamento dispensado pelo Fundo às autoridades chinesas. A travada da economia do gigante asiático é um dos principais motivos da queda do crescimento global e das perspectivas de muitos países, mas seu cenário permanece o mesmo desde abril. Por isso talvez chame mais a atenção a crítica do relatório coordenado por Viñals à gestão das autoridades de Pequim das turbulências financeiras sofridas neste ano. “Mesmo que a China conte com recursos suficientes para lidar com os choques, incluindo reservas em divisas que excedem o volume da dívida externa do setor privado, o que o mercado recebeu como intervenções não convencionais para frear a volatilidade das Bolsas chinesas e da taxa de câmbio debilitaram a confiança do mercado em uma resolução tranquila desses desafios”, diz o relatório em suas primeiras páginas.

Viñals frisou, também, a necessidade de que tanto os Estados Unidos como a zona do euro abordem os resquícios da crise financeira. Por um lado, que o Banco Central dos EUA realize com sucesso “o processo mais telegrafado, mas sem precedentes, de elevar os juros pela primeira vez em nove anos”, uma mudança que deve “esperar”, alertou, até que existam maiores sinais de subida da inflação e o mercado de trabalho esteja mais forte.

O executivo do Fundo instou a Europa a resolver os créditos não pagos que as entidades ainda têm em seus balanços e que pode permitir aos bancos aumentar em 3% sua capacidade de empréstimo. “Isso implicaria em aproximadamente 600 bilhões de euros (2,62 trilhões de reais) adicionais”, ressaltou.

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