Uma história de vencedores e vencidos
México acerta ao realizar a premiação dos 50 melhores restaurantes da América Latina
O impressionante recinto do antigo Colégio de San Ildefonso, no centro histórico da Cidade do México, foi o palco da cerimônia de premiação dos 50 melhores restaurantes da América Latina (Latam 50 Best Restaurants) de 2015. Depois de dois anos em Lima, a cerimônia mudou-se para a capital mexicana, única candidata a abrigar a edição desse ano.
Como sempre, a cerimônia foi marcada pela presença de ganhadores e perdedores quase na mesma proporção. Os novos mercados exigem hierarquia, um ranking de referência e conquistas, quedas e fracassos, e isso está no menu dos organizadores. No final, os nomes acabam ficando acima das cozinhas, deixando-as em segundo plano até o ponto de ocultá-las. O resultado é uma espécie de reality culinário de forte caráter psicossocial que começou como uma disputa pela primazia entre os restaurantes, para terminar ocultando-os atrás dos nomes dos cozinheiros que os dirigem e está no caminho de transformar-se em um confronto entre países. Vista por essa perspectiva, a edição de 2015 voltou a ficar entre o México, Brasil, Peru e Argentina, praticamente iguais no número de restaurantes.
A cozinha peruana foi uma das grandes vencedoras. Não só melhorou o balanço geral, elevando a nove o número de restaurantes presentes na lista (um a mais do que o ano passado), como chegou a dominar a parte mais alta do ranking com três representantes entre os cinco primeiros. O Central, o restaurante de Virgilio Martínez em Lima, conquistou o primeiro lugar, enquanto o Astrid & Gastón ficou em terceiro e o Maido subiu ao quinto posto. A alegria estava estampada nos rostos da delegação peruana, ainda que alguns traços de preocupação fossem notados.
Também era possível enxergar rostos contrariados na delegação mexicana. A subida do Quintonil ao sétimo lugar foi ofuscada pela queda do Pujol, o grande restaurante do país, e o desaparecimento de referências com o peso e a qualidade do Merotoro (no Latam 50 Best é possível cair 30 posições na lista ou subir outras 18 de uma só vez) não deixou a noite especialmente animada.
Ainda assim o México foi o grande vencedor. Não pelo que foi visto na noite de quarta-feira, mas pelo que veremos dentro de um ano. O milionário investimento realizado pelo Governo mexicano para trazer a cerimônia à Cidade do México será, com toda certeza, uma de suas decisões mais acertadas. Não só serviu para consolidar a imagem do país como permitiu mostrar à comunidade gastronômica internacional o bom momento de suas cozinhas. Por volta de uma centena de jornalistas especializados de todas as partes do mundo percorreram durante uma semana, convidados pelo Executivo mexicano, os restaurantes e as ruas da capital.
O esforço feito terá consequências nas próximas votações. Uma centena dos cerca de 250 eleitores da lista – cozinheiros, jornalistas especializados e fãs de cozinha selecionados pela organização – percorreram durante esses dias os restaurantes mais importantes da Cidade do México e cidades próximas, convidados, servidos e mimados em todos os detalhes pelos organizadores. Uma circunstância nem um pouco desprezível. Em um contexto no qual boa parte dos eleitores mal viaja pelas cozinhas do continente, essa turnê subvencionada trará consequências evidentes em futuras votações.
Uma das derrotadas foi a própria lista, novamente incapaz de resolver os principais obstáculos de um sistema que a leva por caminhos previamente marcados, definindo um terreno que estimula a desconfiança e questiona a validade da própria lista. Seus dois grandes problemas continuam sendo o controle das formas de voto pelos coordenadores regionais e o monopólio dos votantes em algumas regiões geográficas, como o México, que fecha a porta aos eleitores centro-americanos, e a Argentina, que tem um número de eleitores que pouco tem a ver com o estado de suas cozinhas. O resultado é que apenas um minuto depois de divulgada a lista de 2015 já foram lançadas as dúvidas para a do ano seguinte.
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