Sem-teto e servidores vão às ruas enquanto o PT tenta sair das cordas
Partido cria conselho de ‘notáveis’ para avaliar sua situação diante da crise de Rousseff Ao mesmo tempo, movimento anti-impeachment racha e sem-teto protestam nesta quarta
Imersa em uma grave crise econômica e diante de enormes dificuldades políticas, a presidenta Dilma Rousseff enfrenta um dilema que aflige seu partido: como realizar os cortes orçamentários necessários para conter o rombo do Orçamento sem atingir mais a sua já combalida base social, que poderia ajudá-la a segurar nas ruas o impeachment articulado pela oposição? Diante de um cenário de cabo de guerra, que nesta quarta-feira ganha mais um puxão com protestos da esquerda contra o Governo, o Partido dos Trabalhadores tenta agora tomar medidas para tentar reerguer sua imagem.
A situação tornou-se crítica. Ao mesmo tempo em que o cerco do impeachment se fecha e os aliados políticos ameaçam pular do barco, a frente de esquerda que foi às ruas em 20 de agosto defender a permanência de Rousseff, ainda que com críticas a sua política econômica, rachou. O Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), que levou grande parte dos participantes do ato, não ficou feliz com a falta de metas do Governo para a terceira fase do Minha Casa, Minha Vida, principal bandeira petista para a área da habitação, lançada sob pressão do próprio movimento no último dia 10. O MTST havia garantido incendiar o país caso o lançamento fosse cancelado por causa dos cortes. Para evitar isso, Rousseff lançou a nova etapa do programa, mas o fez discretamente, para evitar críticas de que estava ostentando gastos. Também não deu nenhuma garantia de quantas novas casas serão construídas, ou prazo para fazê-lo.
O movimento decidiu, então, aumentar o tom de suas críticas ao Governo. Nesta quarta pela manhã, realiza atos em diversas capitais do país para pressionar Rousseff a se comprometer: os sem-teto ocuparam as sedes do Ministério da Fazenda em cinco capitais (Brasília, São Paulo, Rio, Goiânia e Boa Vista), e planejam ampliar o protesto para outras cidades ainda não reveladas. “O MTST está chamando grandes mobilizações em todo o país contra os cortes que foram anunciados pelo Governo, um pacote que ataca investimentos sociais e que aprofunda um ajuste fiscal feito no lombo dos mais pobres, dos trabalhadores”, disse o coordenador nacional do movimento, Guilherme Boulos, que liderou o ato do último dia 20 com o PT.
Ao MTST, juntam-se ao protesto desta quarta-feira funcionários públicos federais, entre eles docentes das universidades que estão em greve há quase quatro meses por conta da falta de reajuste salarial. Eles também criticam a decisão do Governo de suspender a realização de concursos públicos por causa da falta de verba.
A baixa dos sem-teto deve trazer um enorme impacto nos atos em defesa do Governo liderados pelo PT. O partido, que aos poucos também tem subido as críticas contra as medidas econômicas de Rousseff, organiza um novo contra o que chama de “golpe” do impeachment no próximo sábado, dia 26. Mas na página do evento do Facebook o número de confirmados não chegava aos mil. O partido ainda terá a seu lado outras legendas de esquerda aliadas e movimentos sociais ligados aos petistas, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a União Nacional dos Estudantes (UNE), que também criticam a forma como o Governo tem realizado os cortes.
Reação
Diante do atual cenário político e sem uma base sólida para sustentá-lo nas ruas, o partido decidiu reavaliar seus rumos. Nesta terça-feira, 18 petistas de diversas áreas se reuniram em torno de um ex-presidente Lula abatido e vestido de preto, cor que se tornou habitual em seus trajes, para analisar o que é preciso fazer para se sair dessa situação. Foi a primeira reunião do recém-formado Conselho Consultivo da Presidência Nacional do PT, com 31 membros, que deverá assessorar o presidente da legenda, Rui Falcão, e o próprio Lula em reuniões periódicas. Segundo o partido, farão parte do conselho nomes como o do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, considerado agora um dos nomes cruciais para vencer as eleições municipais do próximo ano, o governador Wellington Dias, dono de uma votação expressiva no Piauí no ano passado, além de notáveis como a professora de filosofia da USP Marilena Chauí (não presente nesta terça) e o economista Marcio Pochmann.
Uma das avaliações do grupo é que diante das medidas do ajuste que afetam trabalhadores e movimentos sociais tornou-se muito difícil pedir para as pessoas irem para as ruas defenderem a presidenta contra o impeachment, afirmou um dos participantes da reunião, que foi cercada de silêncio. Abordados pela imprensa na saída, todos se negaram a falar. O próprio ex-presidente Lula, que comandou o encontro, também saiu sem fazer declarações, como tem feito com frequência.
Em uma coletiva de imprensa depois do encontro, Falcão afirmou que o conselho buscou fazer uma avaliação do atual cenário político econômico do país e do partido e traçou os desafios enfrentados pela legenda. “Na opinião da maioria, é importante que haja mudanças na política econômica”, disse o presidente do PT, citando como propostas a queda da taxa de juros e mudanças tributárias, como a taxação de grandes fortunas, algo defendido há tempos pela esquerda, mas que até o momento não avançou na Câmara dos Deputados.
Nos bastidores do encontro, por onde circularam outros políticos petistas, fontes confirmaram que o ex-presidente tem viajado à Brasília para ajudar na articulação política necessária para recompor a base parlamentar do Governo. Ele teria se reunido, inclusive, com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, do PMDB, para tentar uma reaproximação com o partido que é crucial para a governabilidade. Nesta terça, os jornais brasileiros traziam a informação de que os peemedebistas poderão ganhar, finalmente, uma pasta de peso no Governo nesta próxima reforma ministerial que está sendo gestada no Planalto, em troca de uma maior colaboração. O Ministério da Saúde, maior Orçamento federal, poderá ganhar o comando do PMDB. A pasta costuma ser reservada a nomes do PT, por ser considerada estratégica para a implementação de políticas sociais –a grande marca de propaganda do partido. Caso isso se confirme, a transição deverá levar mais reforço para a ala dos movimentos sociais descontentes.
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