María Dueñas: “Queria falar sobre o homem que perdeu tudo e ressurge”
Escritora espanhola veio ao Brasil lançar seu terceiro romance, La Templanza
Personagens que vão e vêm e que, quando voltam, se transformaram. Quase se arruínam, se apaixonam, ressurgem de suas cinzas, percorrem o mundo. Países que um dia foram colônias e se convertem em jovens repúblicas, revoluções que alteram a ordem estabelecida. Para a escritora espanhola María Dueñas (Puertollano, 1964), são tão importantes as circunstâncias internas como as que rodeiam seus protagonistas, e concebe uma realidade na qual nada é estático. Seu último romance, La Templanza (A Temperança), se desenvolve em três cenários muito distintos: um México recém-independente, uma Cuba em seus últimos anos de colônia e uma Jerez para onde voltam os emigrantes espanhóis. “Os personagens e os entornos em movimento me interessam”, afirmou no Hay Festival Segóvia, um encontro literário realizado este mês na cidade espanhola, antes de seguir para o Brasil, onde promove seu último livro e participa, neste sábado, de bate-papo na Livraria da Vila do shopping Pátio Higienópolis, às 15h.
A escritora confessara minutos antes da declaração, dada no Palácio de Quintanar, que é do tipo que precisa de uma organização rígida de trabalho para elaborar suas obras. E uma boa parte da preparação diz respeito ao processo de pesquisa. “Para escrever esse livro visitei Jerez muitas vezes, conheci os descendentes das grandes famílias bodegueiras, estudei não só a História com maiúscula, mas também com minúscula: livros de memórias, cartas, a imprensa da época...”. La Templanza narra a história de Mauro Larrea, um mineiro espanhol viúvo e com dois filhos que perde tudo de um dia para o outro e se vê obrigado a se mudar para Cuba. Acaba em Jerez após ganhar uma fazenda em uma partida de bilhar. Na cidade da Andaluzia conhece Soledad, uma mulher que transforma o seu mundo.
“Queria contar essa parte de um homem que perdeu tudo e ressurge, mas também mostrar essa outra cara, a do pai que vai para casa e tem uma relação especial com seus filhos”, afirma a autora. Para esse livro, Dueñas recuperou parte de suas raízes, uma vez que Puertollano é um enclave de mineração. “Minha filha inclusive se chama Bárbara, como a padroeira [dos mineiros]”, disse brincando. Para se documentar, mergulhou nos três lugares em que a história se ambienta. Em sua primeira viagem para fazer contato em Jerez para escrever a história chegou a ser reconhecida: “Eu estava sozinha, para começar a saber o que fazer, e a recepcionista do hotel me disse: ‘Você não vem escrever um livro aqui?’”. A escritora afirmou que, para ela, foi muito importante cheirar e passear pelas bodegas, algo que tentou transmitir no livro.
Um dos elementos que mais deu trabalho à autora foi refletir o modo de falar de lugares tão diferentes e, além disso, no século XIX. A escritora jogou com as diferentes expressões para que o leitor não sentisse estranheza com a linguagem que os protagonistas empregam: “também queria fazer um exercício de virtuosismo dialectal, tinha que ser compreensível para todo mundo”. Dueñas afirmou também que evita as descrições minuciosas de cada um dos acontecimentos e situações porque, segundo afirmou, “considero os leitores pessoas inteligentes e acho que não é necessário tanto detalhe”.
O terceiro livro de Dueñas foi lançado na Espanha em março e, desde então, figura no topo da lista dos mais vendidos. Seus dois primeiros, O tempo entre costura-se e A melhor história está por vir, venderam juntos mais de 5 milhões de exemplares em 35 idiomas. No Brasil, foram mais de 200 mil exemplares.
Filóloga de carreira, a escritora praticamente descartou a possibilidade de retornar a sua cadeira na Universidade de Murcia porque considera “impossível” combinar seu trabalho de escrita ao de professora.
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