Uma (boa) exposição na qual você não vai ver nada
Novo centro cultural paulistano convida as pessoas a explorar uma mostra sem a visão
Caíram-se as últimas barreiras do que costumamos relacionar com o conceito de exposição: uma obra exibida em um espaço e um espectador a apreciá-la (primeiro) com os olhos. Há menos de um mês, foi inaugurada em São Paulo a Diálogos no escuro, mostra cenográfica em que não há nada nas paredes para ser visto e, mesmo que houvesse, os visitantes são privados da visão para percorrê-la na escuridão total. É um passo além da interatividade que já conhecemos de exposições cujo conteúdo nos chega por mais de um sentido e que nos permitem traçar um percurso próprio: você chega, é vendado para percorrer quatro ambientes ricos em texturas, sons e odores que pode explorar com a ajuda de um guia.
A ideia é viver na pele a experiência de um deficiente visual. Por sinal, é acompanhado de alguém que perdeu a visão ou que nunca a teve, que o visitante descobre quatro ambientes – parque, cidade, mercearia e bar – que incluem uma ponte sobre um pequeno rio, os cheiros e barulhos de uma feira livre e várias texturas diferentes. Diálogos no escuro, que já mobilizou cerca de oito milhões de pessoas fora do Brasil, propõe uma janela de uns 45 minutos em que experimentamos o mundo no lugar de quem é cego. E, querendo ir além, reserva seu momento final para que, retiradas as vendas, os que veem e os que não debatam sobre a experiência vivida e troquem conhecimentos sobre como assimilam a vida.
Inaugurada na Alemanha e acolhida por mais 32 países do mundo todo, a iniciativa chegou ao país pelas mãos da Unibes Cultural, novo centro de cultura inaugurado em São Paulo em 17 agosto, no imponente prédio de concreto onde ficava o Centro de Cultura Judaica, agora aposentado, ao lado do metrô Sumaré. Lá, ela ficará por cerca de seis meses, ao lado de uma vasta programação em grande parte gratuita que nasceu, segundo os organizadores, para ampliar e democratizar a oferta cultural da cidade, incluindo, por exemplo, atividades voltadas à terceira idade e à formação profissional de jovens ligados nas novas tecnologias.
Essa exposição, no entanto, é paga: até R$ 30 (sextas e sábados) e até R$ 24 (durante a semana). Só às terças-feiras a entrada é livre.
Cultura na praça
A variedade parece ser, de fato, a marca do novo espaço de 5.000 m², que em parte mantém a vocação para a cultura hebraica, sobretudo nos cursos, por causa das raízes israelitas da Unibes (União Brasileiro-Israelita do Bem-Estar Social) – uma instituição sem fins lucrativos que há 100 anos realiza ações sociais com comunidades paulistanas em situações vulneráveis.
Programas de artes, cinema, teatro e música se combinam com atividades de formação (em geral cobradas) nas áreas de carreira e empreendedorismo, cidadania, dança e cinema de animação – para citar alguns destaques. As crianças também são contempladas com oficinas infantis, contação de histórias, teatro e mais.
O objetivo, dizem os responsáveis, é promover no espaço o espírito daquela pracinha antiga, em que atividades acontecem, mas o prato principal é a convivência. Nesse sentido, aos fins de semana, merecem a visita a Pátio Design, uma feira de design que promove a venda de produtos assinados por jovens designers, sob curadoria da instituição, e também o Food Park Oscar Freire, que garante comida de rua com toque gourmet para sair da rotina.
De segunda à sexta-feira, além da ampla programação, um café com conexão gratuita de internet e os pocket shows no saguão principal já devem atrair o público – antes um pouco intimidado pelas grossas paredes do edifício, que em breve serão substituídas por muros de vidro e uma entrada mais aberta e convidativa.
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