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Nicolás Maduro intensifica a guerra contra o setor alimentício

O presidente venezuelano expropria um grande centro de distribuição

Lorenzo Mendoza, proprietário das Empresas Polar, em Caracas em 2013.
Lorenzo Mendoza, proprietário das Empresas Polar, em Caracas em 2013.REUTERS

Nada desvia o presidente Nicolás Maduro de seu empenho no sentido de transformar a Venezuela em um arremedo dos países comunistas da Guerra Fria. Seu Governo decidiu na quarta-feira, dia 29 de julho, tomar um terreno em La Yaguara, região industrial de Caracas, para construir moradias populares. O espaço serve de centro de distribuição das empresas Pepsi Cola de Venezuela, Cargill e Alimentos Polar.

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Na manhã de quinta-feira, os conselhos comunitários, organizações de base do chavismo, comemoravam a decisão. Os funcionários das empresas afetadas protestavam antes que a Guarda Nacional tomasse as instalações. “Trabalho sim, expropriação não”, eram as palavras de ordem. No dia 26 de março passado, Maduro tinha se comprometido com a comunidade de Antímano, de tradição chavista, a construir moradias para 140 famílias, lembra o jornal de oposição El Nacional.

O nobre propósito do chavismo para tentar saldar a dívida social e destinar os melhores terrenos da capital venezuelana para as pessoas está batendo de frente com a urgência de garantir o envio de produtos básicos na pior crise de abastecimento dos últimos tempos. A decisão envia um péssimo sinal às empresas que ainda produzem na Venezuela e revive o monstro das expropriações de utilidade pública, um recurso muito utilizado por Hugo Chávez, mas ao qual o Governo de Maduro quase nunca apelou.

O Governo decidiu tomar um terreno em uma região industrial de Caracas, para construir moradias populares

Empresas Polar, principal produtor de itens da cesta básica, emitiu um comunicado no qual denuncia que o envio dos produtos de suas filiais Pepsi Cola e Alimentos Polar foi interrompido. Desse centro de distribuição saíam todos os meses 12.000 toneladas de alimentos e seis milhões de litros de bebidas para 19 municípios da região metropolitana de Caracas, e os vizinhos Estados de Vargas e Miranda. Também existe o risco de perda de empregos em um país com um alto índice de empreendedorismo e poucas vagas por falta de investimento privado. A empresa afirma que a situação afeta 477 trabalhadores da Pepsi Cola Venezuela e 138 da Alimentos Polar, e que a operação do centro de distribuição gera 1.400 empregos indiretos. A Cargill, que produz óleos, farinhas e massas, emprega cerca de 170 pessoas.

A decisão revela até que ponto Maduro está disposto a chegar para concretizar o projeto de país que Chávez deixou: uma intervenção do Estado em todos os âmbitos da vida nacional e um modelo econômico que coloca obstáculos de toda sorte ao empresariado. Os economistas ligados à oposição advertiram sobre a impossibilidade de suprir com importações oficiais tudo que o setor privado produzia ou trazia do exterior. Segundo eles, o regime se nega a tomar medidas que reanimem a máquina produtiva e detenham o caminho para a hiperinflação. Em 6 de dezembro, data prevista para as eleições parlamentares, existe o desafio de manter o controle do Poder Legislativo.

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