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Tsipras: “A crise é um problema europeu e exige soluções europeias”

Primeiro-ministro grego explica sua proposta ao Parlamento Europeu

Foto: AGENCIA_DESCONOCIDA | Vídeo: REUTERS/LIFE EFE/Patrick Seeger
Lucía Abellán

O primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, compareceu na manhã desta quarta-feira ao Parlamento Europeu para se explicar. Tsipras apresentou a crise grega como um problema mais amplo que afeta todo o projeto da comunidade. Em sua opinião, a difícil situação na Grécia mostra “a incapacidade europeia de encontrar uma solução duradoura para o problema da dívida. É um problema europeu e os problemas europeus precisam de soluções europeias”.

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Recebido com aplausos e vaias quase em partes iguais na sede do Parlamento Europeu em Estrasburgo, Tsipras expôs seu diagnóstico sobre a deterioração em seu país e expressou sua confiança no acordo com a Europa. “Pedimos um compromisso produtivo e justo. Acho que juntos podemos conseguir”. Na entrada do anfiteatro um grupo de deputados o esperava, entre eles o líder do partido espanhol Podemos, Pablo Iglesias. Todos eles aplaudiram e o cumprimentaram antes de que Tsipras chegasse ao lugar em que faria seu discurso.

Depois de se referir várias vezes ao apoio obtido no referendo de domingo passado, Tsipras apelou a um acordo “que permita sair de maneira definitiva da crise, que demonstre que no final do túnel há luz”. Para conseguir isso, é preciso “soluções críveis” que façam recair o peso “sobre os que podem assumi-las”. O primeiro-ministro grego prometeu reformas pelos erros, reconhecidos, de seu próprio país. “A Grécia chegou praticamente à bancarrota porque durante muitos anos o Governo criou um Estado clientelista e permitiu a corrupção”. Confrontado com esse modelo de “oligarquia e cartéis”, Tsipras prometeu “verdadeiras reformas cujo objetivo é mudar a Grécia e que os governos anteriores não quiseram aplicar”.

Consciente de que boa parte dos países europeus estão frustrados depois de dois resgates milionários que não recuperaram o país, o líder grego se referiu a uma questão controversa: o destino desses empréstimos de 320 bilhões de euros (1,1 trilhão de reais), no total, concedidos à Grécia desde a crise. “Devemos ser sinceros: o dinheiro que foi dado a Grécia nunca chegou ao povo grego. São fundos dados para salvar os bancos gregos e europeus”, afirmou. Essas palavras provocaram aplausos em um anfiteatro cheio de cartazes com o não da cédula de votação (oxi em grego).

Sem entrar nas medidas que seu Governo precisa detalhar até amanhã para que a zona do euro concorde em negociar o novo resgate solicitado por Atenas, Tsipras apresentou um desejo: “Espero que nos próximos dias possamos responder a essa conjuntura tão grave, para o benefício da Grécia e da Europa”.

O líder grego não se referiu diretamente aos prazos apertados de negociação impostos pela zona do euro para resolver o problema. Atenas já apresentou formalmente o pedido de resgate e amanhã terá que detalhar as medidas que irá oferecer para conseguir um novo compromisso dos sócios. O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, também presente no Parlamento Europeu, desenhou um panorama aterrador se as negociações não derem frutos: “Se não chegarmos a um acordo devemos contemplar até mesmo o pior cenário, no qual todas as partes perdem. Isso poderia levar à quebra da Grécia e à insolvência do sistema bancário. E afetaria toda a Europa, no sentido geopolítico”.

“Aplaudido pelos extremistas”

Muitos eurodeputados quiseram responder esta manhã às palavras de Tsipras, alguns com forte dose de emoção. O líder do Partido Popular Europeu no Parlamento, Manfred Weber, foi muito crítico com Tsipras, a quem atacou: “A Europa já não confia em você para negociar”. Ele também ironizou os apoios que recebe entre dois polos opostos do Parlamento, a esquerda minoritária e os eurocéticos conservadores. “Ele é aplaudido pelos extremistas da Europa”, frisou.

Em um tom muito mais suave, o presidente dos sociais-democratas, Gianni Pittella, excluiu um futuro da UE sem Tsipras e apelou à sensatez do presidente grego: “Eu confio que o primeiro-ministro grego vai demonstrar sua visão política e sua responsabilidade pelo bem do povo grego.”

Entre a enxurrada de intervenções no debate, que começou pouco depois das 10h da manhã (5h no horário de Brasília), destacou-se a de Pablo Iglesias, que agradeceu o povo grego “por ter levantado melhor do que ninguém a bandeira europeia”. Em sua opinião, “a Europa não está se destruindo por perguntar ao povo, mas pelo totalitarismo financeiro e pela arrogância do povo alemão”.

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