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Ministro das Finanças da Grécia renuncia para “facilitar negociação”

"Na esquerda sabemos como agir coletivamente sem importar-se com os privilégios", disse

Yanis Varoufakis, em Atenas antes de sua entrevista coletiva.Foto: atlas | Vídeo: afp / ATLAS

O ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, anunciou na segunda-feira sua renúncia porque acredita que desta forma pode ajudar o Governo a conseguir um acordo com as instituições europeias, horas depois da vitória do ‘não’ na consulta realizada no país. Varoufakis enfrentou os credores em várias ocasiões nos últimos meses e representou a ala mais dura de seu Governo, até mesmo acusando a troika (grupo formado por Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) de usar o “terrorismo” contra o povo grego.

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Em seu comunicado, intitulado Já não sou Ministro!, Varoufakis argumenta que a consulta “permanecerá como um momento único no qual uma pequena nação europeia se levantou contra a servidão pelas dívidas”. “Como todas as lutas pelos direitos democráticos, essa histórica negativa do ultimato feito em 25 de junho pelo Eurogrupo (instância que reúne ministros de Finanças e outras autoridades da zona do euro) vem com um grande custo associado”, afirma. “Por isso, é essencial que o grande capital concedido a nosso Governo pelo esplêndido ‘não’ seja investido imediatamente em um ‘sim’ a uma resolução adequada, a um acordo que contemple a restruturação da dívida, menos austeridade, redistribuição a favor dos necessitados e reformas reais”, diz.

Varoufakis revelou também que depois do anúncio dos resultados da consulta ele recebeu o comunicado de que existia “uma certa preferência por parte de alguns membros do Eurogrupo e outros ‘parceiros’ a favor de sua ‘ausência’ durante as reuniões”. “Essa é uma ideia que o primeiro-ministro (Alexis Tsipras) considerou que poderia ser de potencial ajuda para chegar a um acordo. Por essa razão abandono hoje o Ministério das Finanças”, explicou.

Como todas as lutas pelos direitos democráticos, essa histórica negativa do ultimato feito pelo Eurogrupo vem com um grande custo associado

“Considero que é minha tarefa ajudar Tsipras a explorar, tal e como considerar adequado, o capital que o povo grego nos concedeu através da consulta do domingo, e carregarei o ódio dos credores com orgulho”, acrescentou. “Na esquerda sabemos como agir coletivamente sem importar-se com os privilégios do cargo. Apoiarei totalmente o primeiro-ministro Tsipras, o novo ministro das Finanças e nosso Governo”, frisou Varoufakis.

Por último, o já ex-ministro das Finanças grego afirmou que “o esforço sobre-humano de honrar o valente povo da Grécia e o famoso ‘oxi’ (‘não’, em grego) que passou aos democratas de todo o mundo acaba de começar”.

Varoufakis não foi o responsável pelo programa econômico do Syriza, não o único pelo menos. Na autoria, está um escalão abaixo de Yanis Miliós, um professor marxista formado na Alemanha, e que ficou de fora do Parlamento e do Governo (o único sem ministério da equipe de assessores econômicos de Tsipras). O próprio Varoufakis, sem maior experiência política do que a de ser um “marxista errático”, como ele se mesmo se define, será agora deputado na Câmara.

Euclidis Tsakalotos, novo ministro das Finanças da Grécia

María Antonia Sánchez-Vallejo, Atenas

Euclidis Tsakalotos, coordenador da delegação grega nas negociações com os credores e até agora vice-ministro das Relações Exteriores, será a partir de amanhã, terça, o novo ministro das Finanças da Grécia. Tsakalotos assume o cargo no lugar de Yanis Varoufakis, que deixou o ministério na manhã desta segunda.

Tsakalotos era o nome mais cotado para substituir Varoufakis no ministério. Economista com prestigio e catedrático universitário, possui uma grande vantagem com relação ao seu antecessor: suas maneiras de gentleman e sua disposição para dialogar. Ainda assim, todas as fontes consultadas ressaltam que, ideologicamente, é ainda mais radical que Varoufakis e, ao contrário dele, parte orgânica do Syriza, partido governista.

Tsakalotos já comandava a negociação em Bruxelas desde abril, quando o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, retirou Varoufakis das negociações devido às fortes críticas dos sócios europeus. O novo ministro nasceu em Rotterdam (Holanda) há 55 anos e estudou em Oxford e na Universidade de Kent (Reino Unido) antes de regressar a Atenas nos anos noventa.

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