_
_
_
_

Brasil, mostra a sua cara

Uma biografia do país analisa traços essenciais da sociedade brasileira Dupla de autoras apresenta o livro na Flip no sábado, dia 1 de julho

Início da concretagem da cúpula do Senado Federal, em 1958. / Marcel Gautherot
Início da concretagem da cúpula do Senado Federal, em 1958. / Marcel GautherotReprodução da capa

Quem assistiu às aulas de História do Brasil na escola e conhece a rica historiografia brasileira tem nas mãos as ferramentas para tentar entender o país que somos hoje. Mas e se essa trajetória fosse narrada em tom literário, fluindo ao pé do ouvido como um enredo de novela épica? Tanto mais agradável. Brasil: uma biografia, tomou essa missão para si e faz o Brasil encarar a sua própria história.

Mais informações
Beatriz Sarlo: “A América Latina não inspira mais ingenuidade”
“Pichar festival literário como badalação frívola é elitista”, diz o curador da Flip
Mário de Andrade inspira uma Flip ‘pop’ e de qualidade
A revolução de Mario de Andrade, que será homenageado em Paraty

O livro, da antropóloga Lilia Moritz Schwarcz (professora da USP) e da cientista política Heloisa Murgel Starling (professora da UFMG), ambas também historiadoras, foi lançado em maio pela Companhia das Letras e tem sido bastante elogiado por especialistas e leitores em geral. Com tantas críticas positivas, passou a integrar a programação oficial da 13a Festa Literária de Paraty (Flip), que abre as portas na próxima quarta-feira, com uma mesa-aula que acontece no sábado, dia 4, às 14h30.

Brasil: uma biografia surgiu de uma encomenda do grupo Penguim (do qual faz parte a Companhia) a Lilia Schwarcz, às portas do Copa do Mundo de 2014. A ideia era um livro de História que fosse capaz de explicar a nacionais e estrangeiros um país “complexo” e de “dimensões continentais”. “Diante dessa tarefa titânica, pensei em convidar a Heloisa para trabalhar comigo, já que temos especialidades diferentes em historiografia”, explica Lilia. Heloisa Starling aceitou, e elas dividiram a pesquisa e o texto com a missão imperativa de garantir qualidade e livrar-se dos ranços acadêmicos.

Há reflexões contundentes na obra, de rica iconografia, que destrincham traços essenciais da nossa sociedade e ajudam a olhar o Brasil sob uma visão alternativa. Um deles é a mania nacional de rechaçar a realidade ou, em outras palavras, o bovarismo. O termo, cunhado a partir de Madame Bovary, o romance de Gustav Flaubert, se refere àquele que se olha no espelho, mas sempre vê algo diferente do que está ali. “O Brasil tem a mania da identidade. De tempos em tempos, em lugar de entender quem somos, construímos uma nova”, afirma Lilia. Também se analisa o talento para o improviso e a espera por milagres e como muitas das questões públicas passam pela esfera da intimidade. “A falta de água que estamos vivendo exemplifica isso. Em geral, acreditamos que ‘Deus vai dar um jeito’”, afirma a antropóloga.

A questão da escravidão tardia, marca da nossa República, “ainda em processo de amadurecimento”, também é abordada. “A origem escravista marca a sociedade até hoje. Todo brasileiro carrega dentro de si o escravo, independente de qualquer coisa. Isso esclarece muito. O papo de que o brasileiro é pacífico, por exemplo, é balela. É violento, inclusive consigo mesmo”, analisa Heloisa Starling.

O esforço, segundo as autoras, foi partir das periferias para criar um retrato geral, como ensinam dois historiadores que, segundo Heloisa, ajudaram a “formar o olhar do livro”, Evaldo Cabral e Sérgio Buarque de Hollanda. “Cabral, em seu trabalho sobre Pernambuco, nos ensina a ver o Brasil pelas margens, e Sérgio Buarque, na minha opinião, é o maior historiador do país”, opina. É deste último a ideia de cordialidade que define o brasileiro: “Daremos ao mundo o homem cordial”, escreveu.

Um dos maiores desafios da dupla foi estabelecer os limites da história a ser contada, que ambas entenderam que deveria começar com a viagem de Pedro Álvares Cabral, em 1500, até o que elas consideram ser "o final da fase da redemocratização", consolidada com a posse de Fernando Henrique Cardoso (1995). O que vem depois ainda está em movimento, e não cabe a um historiador, “que é aquele que analisa processos fechados”, diz Lilia. “O país vive hoje um momento diferente, está nervoso. O cidadão está cobrando muitas coisas, e isso é positivo. Só falta se cobrar também”, opina.

As autoras, Heloisa Starling e Lilia Schwarcz.
As autoras, Heloisa Starling e Lilia Schwarcz.Divulgação

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_