Novas formas de aprender e de ensinar
Jovens brasileiros reclamam da falta de sentido e da desconexão entre o que aprendem em sala e aquilo que vivenciam fora dela
Enquanto você lê esse texto, milhares de jovens brasileiros estão conectados, trocando mensagens, baixando e vendo vídeos, ouvindo música. E criticando a escola. Reclamam da falta de sentido e da desconexão entre o que aprendem em sala e aquilo que vivenciam fora dela. Alguns chegam a um ponto de tamanho desinteresse que desistem e abandonam os estudos.
Esse cenário revela um grande desafio para a educação contemporânea: oferecer uma escola aberta às questões da atualidade, às novas tecnologias e à comunidade, que seja um espaço do encontro e do diálogo, que priorize a construção coletiva do conhecimento e que seja, portanto, um centro irradiador de novos saberes.
Tal desafio nos remete a uma necessidade urgente e dupla: reorganização da escola e mais foco na formação do professor. Entre os muitos caminhos para isso estão a adoção de estruturas mais horizontais nos ambientes educativos, com a construção colaborativa do conhecimento, diálogo permanente, interdisciplinaridade e ocupação do espaço público. Dessa maneira, a escola se conecta mais à comunidade onde está inserida e, assim, pode conceber, coletivamente, soluções novas e criativas para suas questões.
Sob esse novo olhar, o professor, por sua vez, atua como um importante co-criador de conhecimento, a partir de uma visão holística e transversal. Ele deve ser alguém que domina as novas tecnologias e que está apto a tocar em assuntos como mobilidade urbana, economia, saúde, meio ambiente e política e a ajudar os estudantes a formarem um olhar crítico sobre o mundo. Ele deve propor tarefas desafiadoras, usar exemplos e casos reais, estimular o discernimento e o questionamento e proporcionar ao jovem a experiência, a vivência e o protagonismo que ele tanto anseia.
Essas práticas de um novo ensino-aprendizagem são resultado não só de uma boa formação inicial do docente, mas também de uma boa formação continuada. No Brasil, ambas ainda precisam integrar mais os conhecimentos teóricos à prática da sala de aula e à vivência do mundo atual. É exatamente aí que entra a responsabilidade fundamental das secretarias de educação de proverem ao professor as condições para que ele assuma esse novo papel, dando-lhes apoios pedagógico e administrativo.
As políticas públicas têm de apoiar e assegurar ao docente as condições objetivas para o desenvolvimento de sua atividade. E isso vale desde o início, na graduação, que, na maioria das vezes, não prepara o educador para atuar na realidade da sala de aula, gerando, muitas vezes, uma sensação de insegurança, solidão e desamparo.
Sabemos ainda que, durante os anos de atuação, o professor enfrenta outros obstáculos: plano de carreira pouco estimulante, remuneração insuficiente e perda de prestígio social da profissão. Tudo isso precisa ser enfrentado de frente e com persistência. Nosso Plano Nacional de Educação já contempla em suas metas e estratégias a necessidade de darmos um salto na formação inicial (meta 15), na formação continuada (meta 16), no salário (meta 17) e na carreira (meta 18). Sem a concretização desses propósitos, continuaremos a navegar nesse imenso mar de desconexões entre o jovem, a escola e o mundo.
Neca Setubal é formada em ciências sociais pela USP, com mestrado em ciências políticas pela mesma instituição e doutorado em psicologia da educação pela PUC-SP. Preside o Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisa em Educação, Cultura e Ação Comunitária) e a Fundação Tide Setubal.
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