EUA planejam presença militar inédita desde 1989 no Leste Europeu
Pentágono prepara envio de armamento a bases para fazer frente à ameaça expansionista
O conflito na Ucrânia e a preocupação dos Governos regionais com a ingerência russa estão propiciando um retorno dos meios de dissuasão militar próprios da Guerra Fria. O Departamento de Defesa dos Estados Unidos está preparando o envio de armamento pesado a bases militares no Leste Europeu, um material que poderia ser empregado por até 5.000 soldados norte-americanos.
A proposta, segundo o jornal The New York Times, deverá ser aprovada pelo presidente Barack Obama e o secretário de Defesa Ashton Carter antes da reunião de ministros de Defesa da OTAN no final deste mês.
O objetivo de Washington é reforçar as garantias de segurança dos países ex-soviéticos que receiam o expansionismo da Rússia, mais de um ano depois de Moscou anexar a península da Crimeia e estabelecer um apoio contínuo à insurgência separatista no leste da Ucrânia.
Se a mobilização militar for aprovada, será a primeira vez desde o fim da Guerra Fria, há mais de duas décadas, que os EUA estacionam armamento pesado nos novos países da OTAN do Leste Europeu, ou seja, aqueles que antes integravam a esfera de influência da União Soviética. Os Governos da Polônia e Lituânia confirmaram no domingo que estão em conversações com Washington para abrigar armamentos.
A iniciativa significa uma admissão implícita de que o Governo Obama não prevê um fim próximo da intervenção russa na Ucrânia, iniciada em março de 2013 depois das revoltas pró-democráticas e pró-europeias naquele país. O envio de material bélico pesado seria a decisão mais contundente já tomada por Washington para responder às ingerências da Rússia de Vladimir Putin. Até agora, os EUA já haviam intensificado os exercícios militares nos países parceiros da OTAN no leste, além de prestarem apoio militar a esses países e à Ucrânia, que não participa da aliança atlântica. No terreno diplomático, Washington impôs, junto com a União Europeia, sanções econômicas a Moscou.
Seria a primeira vez desde o fim da Guerra Fria, há mais de duas décadas, que os EUA estacionam armamento pesado nos novos países da OTAN do Leste Europeu
A proposta atual do Pentágono, que não detalha prazos, é levar à Lituânia, à Letônia e à Estônia material suficiente para 150 soldados em cada país, segundo o Times. A quantidade seria superior, para 750 soldados, na Polônia, Romênia, Bulgária e “possivelmente” a Hungria. Militares norte-americanos analisaram as bases que poderiam receber esse material. O armamento seria vigiado por contratados locais, não por militares norte-americanos. Seria uma mobilização similar à feita pelos EUA no Kuwait durante uma década, depois da primeira Guerra do Golfo, ocorrida em 1991.
“O Exército continua revisando as melhores localizações para armazenar estes materiais em consulta com nossos aliados”, observou o porta-voz do Departamento de Defesa, Steven Warren, em nota. “Neste momento, não tomamos nenhuma decisão sobre se ou quando mover este material.” A informação do jornal chega poucas semanas depois de o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, e o ministro da Defesa polonês visitarem Washington.
Com o envio de material bélico, Obama procura mandar uma mensagem de firmeza a Putin, mas seu alcance é limitado. A proposta exclui a mobilização permanente de tropas americanas, como tinham pedido altas autoridades militares do Báltico. Os carros de combate, veículos de infantaria e outro material bélico pesado não seriam colocados sobre o terreno, mas ficariam armazenados em bases aliadas para uso em caso de necessidade ou treinamento. E o volume de material, segundo o Times, seria inferior ao que a Rússia poderia mobilizar em sua fronteira.
A proposta deve ser aprovada antes da reunião de ministros de Defesa da OTAN no final deste mês
A filosofia por trás da decisão coincide com a obrigação dos Estados Unidos, como país membro da OTAN, de responder a uma ameaça à segurança de outro parceiro da aliança. E não inclui nenhuma assistência militar adicional à Ucrânia. O debate que houve em fevereiro no seio do Governo Obama sobre a necessidade de entregar armas ao Exército ucraniano parece ter ficado enterrado, apesar da frágil trégua no Leste da Ucrânia entre as forças nacionais e os rebeldes pró-russos.
Por enquanto, a iniciativa não suscitou nenhuma reação oficial russa, mas representa, sem dúvida, um abalo nos esforços que o Kremlin vinha fazendo para tentar convencer o Ocidente de que a Rússia não representa nem um perigo nem uma ameaça para a Europa. Ao mesmo tempo, os novos planos norte-americanos podem reforçar a posição da linha dura na Rússia, que poderia exigir a volta dos mísseis nucleares ativos apontando para a Europa, informa Rodrigo Fernández.
Apesar da crescente tensão, Washington mantém aberto um canal de comunicação com Moscou, como evidenciou a reunião em meados de maio na Rússia do secretário de Estado, John Kerry, com Putin. O papel da Rússia é crucial nas negociações nucleares com o Irã e na resolução da guerra civil síria. É presumível, apesar disso, que o envio do material bélico incomode a Rússia, como já aconteceu com o projeto do presidente George W. Bush de instalar um escudo antimísseis no leste da Europa para conter uma suposta ameaça do Irã. Ao chegar à Casa Branca em 2009, Obama barrou esse plano.
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