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Podemos transforma marcha em ato político com milhares de pessoas

Pablo Iglesias diz que é o momento da mudança e que a Grécia demonstrou que é possível

Francesco Manetto
Panorâmica da Puerta del Sol, ao final da marcha.
Panorâmica da Puerta del Sol, ao final da marcha.Alejandro Ruesga

Neste sábado, a direção do Podemos transformou a mobilização convocada em Madri em um comício –que reuniu uma multidão– para tentar consolidar uma de suas principais mensagens políticas: “A mudança é possível”. Pablo Iglesias, Íñigo Errejón, Carolina Bescansa, Juan Carlos Monedero, Irene Montero e Luis Alegre discursaram aos milhares de cidadãos que lotavam a Puerta del Sol depois de um percurso de menos de um quilômetro entre a Praça de Cibeles e a praça que reunia os simpatizantes das mobilizações de 15 de maio, em 2011. Não obstante, o ambiente da chamada Marcha da mudança foi menos festivo e mais político do que aquelas mobilizações de 2011. A indignação e a indigestão foram duas das notas dominantes.

Iglesias fez um discurso próprio de um comício, com os olhos voltados para as urnas, reivindicando o direito ao sonho quixotesco. “Hoje sonhamos para tornar o nosso sonho realidade em 2015. Neste ano começamos algo novo, este ano é o ano da mudança e vamos derrotar o PP nas eleições”, proclamou antes de citar o exemplo de Alexis Tsipras, líder do Syriza e ganhador das eleições gregas no domingo.

Iglesias acena, no início de sua intervenção.
Iglesias acena, no início de sua intervenção.Paco Campos (EFE)

O secretário-geral do Podemos apelou ao patriotismo. “Alguns dizem que a Espanha é uma marca, acreditam que se pode comprar e vender. Malditos sejam os que querem converter nossa cultura em mercadoria”, enfatizou. “Somos um país de cidadãos, sonhamos como Quixote, mas levamos muito a sério os nossos sonhos”, acrescentou. "A soberania não está em Davos", continuou Iglesias para contrapor os capitalistas que "viajam de jato" aos despejados, doentes de hepatite C, yayoflautas [idosos que tomam parte nas lutas sociais nestes tempos de crise], extorquidos pelas fraudes bancárias e outros grupos que sofreram de forma especial as agruras da crise. "Quiseram humilhar o nosso país com essa fraude que chamam austeridade", indicou quando defendeu "realizar um plano de resgate cidadão". Também abordou o problema da corrupção, um fenômeno que não restringiu a quem põe a mão no dinheiro: "Corrupção é que a parcela 1% mais rica tenha o mesmo de 73% dos espanhóis", e que desde que começou a crise "o número de ricos cresceu no mesmo ritmo que o dos cidadãos em risco de pobreza".

Íñigo Errejón, número dois da formação, resumiu a filosofia da marcha. “Protestamos muito sem que ninguém escutasse. Viemos festejar que no ano de 2015 a população recuperará a soberania e a população recuperará o nosso país”. A ideia era que os cidadãos fossem os protagonistas, e por esta razão os líderes do partido não lideraram a manifestação. Mas o peso político das mensagens lançadas centrou as atenções no palco. Juan Carlos Monedero, responsável pelo programa do Podemos, exortou a romper “os cadeados da velha política” e se dirigiu aos simpatizantes. “A democracia não foi trazida pelo Rei, não foi trazida por [Adolfo] Suárez, não foi trazida por [Manuel] Fraga, foram vocês que a trouxeram. É preciso resgatar as pessoas, não os bancos. Temos a prova de que este povo está acordado”, clamou.

O Podemos mede suas forças nas ruas de Madri com a mobilização “por mudanças” que tenta ser o primeiro marco do partido de Pablo Iglesias em um ano eleitoral que começa em 22 de março com as eleições autônomas da Andaluzia. No ato com o que se encerrou a marcha, Iglesias destacou que chegou o momento da "mudança, porque a mudança é democracia" e deu como exemplo a Grécia: "Que fez mais em seis dias" que os Governos que até agora haviam na Europa durante os últimos seis anos.

Bandeiras republicanas e gregas, e cartazes nos quais se podiam ler frases como “Políticos, o povo está acordando” ou “Seu tempo está acabando, PSOE” eram erguidos pelos manifestantes, que também faziam coro para gritar “Agora é hora”, o lema principal da marcha. Outro lema bastante escutado foi “Tic, tac”, uma referência à contagem regressiva até uma possível mudança de Governo. Na Puerta del Sol, vários manifestantes seguravam letras gigantes que, juntas, formavam as palavras “povo” e “democracia”.

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Mais de 260 ônibus viajaram a Madri financiados pelos simpatizantes com a ajuda de um crowdfunding específico que, até sexta-feira à noite, tinha recolhido 4.600 euros (cerca de 13.700 reais), segundo a organização. Aproximadamente 100 membros das assembleias regionais ofereceram também seus carros particulares para se deslocarem até a capital para participar do que Iglesias chamou de “acontecimento histórico” ao convocar a marcha.

Anunciada semanas depois da constituição do Podemos como um partido político organizado, a passeata não teve nenhum objetivo instrumental declarado. Não é um protesto nem foi convocada para pedir algo concreto ao Governo. A direção do partido convidou cidadãos, simpatizantes e membros de outras organizações políticas a se manifestarem para demonstrar que a mudança política é possível.

Com informações de J. Jiménez Gálvez e Virginia López.

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