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Convidados ao Congresso abrem outra frente na política cubana de Obama

Obama convida Alan Gross para respaldar sua nova política para Cuba Os republicanos respondem levando dissidentes que criticam as mudanças

Silvia Ayuso
Alan Gross e sua mulher, Judy, no seu regresso a Cuba, em 17 de dezembro.
Alan Gross e sua mulher, Judy, no seu regresso a Cuba, em 17 de dezembro.SAUL LOEB (AFP)

Em política, os gestos importam, e muito. O discurso sobre o Estado da União é o primeiro comparecimento público de Barack Obama no Congresso – que é quem tem a chave do embargo contra Cuba – desde que em dezembro ele anunciou a intenção de normalizar relações com a ilha, uma questão que terá espaço em seu pronunciamento.

Do lugar reservado à primeira-dama, escutará suas palavras Alan Gross, o prestador de serviços norte-americano cuja condenação a 15 anos de prisão em Cuba representou o maior obstáculo para Obama a uma mudança de política em relação à ilha. Convidado pela Casa Branca, essa será sua primeira aparição pública desde que chegou a Washington em 17 de dezembro, enquanto Obama anunciava o restabelecimento de relações diplomáticas com a ilha, que começarão a ser negociadas esta semana em Havana.

Segundo o Governo, sua presença terá o significado de um respaldo à mudança de rumo decidida por Obama depois de mais de meio século de antagonismo com Cuba. Afinal, em suas primeiras e, até agora, únicas declarações públicas, logo depois de regressar ao território norte-americano em dezembro, após cinco anos de prisão, Gross manifestou a esperança de que os dois países “consigam superar as respectivas políticas beligerantes”.

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“Cinco décadas e meia de história nos demonstram que a beligerância inibe o critério mais adequado. Dois erros não fazem nunca um acerto”, enfatizou então um Gross abatido, mas feliz.

Conscientes do papel crucial dos congressistas no processo que agora começa a ser lançado para normalizar relações marcadas pela Guerra Fria durante mais de meio século, altas personalidades do país também vêm procurando respaldar abertamente o passo dado pelo presidente norte-americano.

Cerca de 78 políticos, ex-altos funcionários do governo –sobretudo, democratas, mas também republicanos –, empresários cubano-americanos e especialistas nas relações bilaterais publicaram na segunda-feira uma “carta aberta” a Obama expressando seu “apoio à nova política para Cuba” e parabenizando-o por sua audácia.

A diversidade de assinaturas que respaldam a carta é, afirmam, “exemplo do amplo apoio que essas mudanças têm em todo o espectro político”, as quais muitos deles já haviam reivindicado em outra carta aberta em maio.

“Podemos estar em desacordo sobre uma série de questões, mas encontramos terreno comum por uma simples razão: que nosso enfoque de cinquenta e quatro anos estabelecido para promover os direitos humanos e a democracia em Cuba fracassou”, ressaltam na nova mensagem.

Há, porém, um grupo de congressistas republicanos que insiste em demonstrar que a mudança de política de Obama não conta com o aplauso unânime do Congresso, o único que pode acabar de forma definitiva com o embargo imposto à ilha há mais de meio século.

A oposição a Obama também vem querendo jogar com as imagens e, por isso, na noite desta terça-feira dissidentes e membros mais inflexíveis do exílio anticastrista estarão no Congresso como convidados de republicanos.

Como convidados do presidente da Câmara de Representantes, John Boehner, escutarão o discurso de Obama Jorge Luis García Pérez, “Antúnez”, e sua mulher, Yris Tamara Pérez Aguilera. Ambos criticaram de modo muito duro as mudanças em relação à ilha anunciadas pelo presidente democrata e compareceram às manifestações de protesto contra as novas medidas, realizadas pelos exilados mais radicais de Miami desde dezembro.

A congressista republicana pela Flórida Ileana Ros-Lehtinen, de origem cubana, levará a filha de um dos pilotos dos Irmãos ao Resgate que morreram quando seu avião foi derrubado por Cuba em 1996. Esse incidente levou o então presidente Bill Clinton a assinar a Lei Helms-Burton, que endureceu o embargo contra a ilha.

Marco Rubio, um dos políticos norte-americanos que mais fortemente condenaram a mudança de política anunciada por Obama, e possível candidato presidencial para 2016, também quis dar um rosto a essa divergência. Para isso, o senador republicano pela Flórida, e também de origem cubana, convidou para o discurso do presidente Rosa María Payá, a filha do dissidente Oswaldo Payá, que morreu em um acidente de trânsito em 2012, no qual sua família vê a mão do Estado cubano.

“Espero que a presença de Rosa María Payá pelo menos lembre (a Obama) que os assassinos de seus pais não foram levados à Justiça e que os EUA, de fato, vão sentar-se à mesa com eles”, antecipou Rubio, que reivindicou novamente que Washington exija de Havana “reformas e mudanças na atitude cubana antes de normalizar as relações”.

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