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‘Charlie Hebdo’ motiva choque entre policiais e manifestantes no Paquistão

Três pessoas ficam feridas em Karachi, entre eles um jornalista da France Presse

Manifestantes com um cartaz na que se lê: "Se é Charlie, eu sou Kouchi".Foto: reuters_live | Vídeo: Reuters-LIVE! / EFE
Ángeles Espinosa

Os protestos contra as novas caricaturas de Maomé na revista satírica francesa Charlie Hebdo deixaram três feridos nesta sexta-feira no Paquistão, entre eles um fotógrafo da agência France Presse. No entanto, e apesar do mal-estar que a representação do profeta causa entre os muçulmanos, os grupos radicais que convocaram os protestos conseguiram apenas poucas centenas de seguidores. No Irã, a manifestação de indignação foi suspensa sem explicação.

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Apenas 200 pessoas, segundo a Reuters, se concentraram diante do Consulado da França em Karachi, a grande cidade portuária e comercial do sul do Paquistão, onde vivem 23,5 milhões de indivíduos. Em todo o país, após as preces do meio-dia, manifestantes atenderam ao chamado de vários grupos islâmicos para expressar sua repulsa ao último número do Charlie Hebdo. Na capa dessa edição – a primeira depois do atentado islâmico que matou 12 pessoas na redação do semanário – aparece um desenho de Maomé com lágrimas nos olhos, dizendo “Eu sou Charlie”, o lema de solidariedade ao jornal depois do ataque.

De acordo com o relato da Reuters, os manifestantes estavam armados com paus e algumas pistolas e reagiram com pedras e disparos quando a polícia impediu sua aproximação até o consulado francês, usando gases lacrimogêneos e jatos de água. Na confusão que se seguiu, pelo menos duas pessoas foram baleadas: o fotógrafo do France Presse Hasif Asam e um membro de uma das organizações responsáveis pelo protesto, segundo fontes médicas citadas pela Efe. Além disso, um policial levou uma pedrada, mas estava fora de perigo.

Foi a primeira vez que o mal-estar pela nova caricatura se transtorna em violência no segundo país do mundo com maior população muçulmana, 97% de seus 196 milhões de habitantes. O primeiro-ministro Nawar Sharif e o Parlamento condenaram na quinta-feira o semanário francês, enquanto líderes religiosos pediram abertamente que seus jornalistas sejam atacados. A facção Jamat-ul-Ahrar, o Taliban paquistanês, declarou, por sua vez, que os dois irmãos que realizaram o ataque contra o semanário satírico “libertaram o planeta dos blasfemos”.

Mas o eco dessa incitação foi muito menor do que em 2006, quando milhares de paquistaneses protestaram pela publicação de caricaturas de Maomé em um jornal dinamarquês, e houve várias dezenas de mortos em todo mundo.

Enquanto isso, no Irã, onde existe uma especial prevenção contra o Ocidente, a manifestação de raiva prevista para depois da prece foi cancelada sem explicações. Mesmo assim, membros do Basij (organização estudantil islâmica) anunciaram um protesto na segunda-feira diante da Embaixada da França, se obtiverem a permissão das autoridades, segundo a agência Fars.

Significativamente, o chanceler iraniano, Mohamed Javad Zarif, encontrava-se em Paris, como parte de uma viagem a várias capitais europeias, antes de retomar as negociações nucleares no domingo que vem em Genebra.

Durante o seu sermão da sexta-feira, o influente aiatolá Movahedi Kermani condenou a publicação dos quadrinhos retratando Maomé, que descreveu como “sacrílegos”. O pregador, que evitou mencionar o nome da revista, afirmou que o motivo desse comportamento é que o islamismo está crescendo e se fazendo notar no Ocidente. Marzieh Afkham, porta-voz da chancelaria iraniana, qualificou como “ofensa aos muçulmanos” a decisão do Charlie Hebdo de insistir em retratar o profeta muçulmano. Mas Kermani, assim como os veículos da imprensa iraniana que repercutiram sua fala, centrou-se sobretudo em criticar a presença do primeiro-ministro israelense, Benjamim Netanyahu, na passeata antiterrorista de Paris.

“É surpreendente que estes criminosos participem de uma manifestação e condenem o terrorismo, quando eles não só são os verdadeiros terroristas, como também fomentam o terrorismo”, declarou o clérigo a uma plateia que respondeu com os tradicionais coros de “Morte à América, morte a Israel, morte à Inglaterra”.

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