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O ano em que um avião de passageiros sumiu

Desaparecimento do MH370 com 239 pessoas a bordo em março constitui um fato inédito em um século da aviação comercial

Desde que os humanos voam nunca havia ocorrido um acontecimento tão enigmático como o que surpreendeu o mundo em 8 de março do ano que está acabando. Nunca antes em um século da aviação comercial um avião de passageiros havia sumido sem deixar rastro. A busca submarina prossegue em uma remota zona do sul do oceano Índico sem que até agora tenha sido encontrado um só destroço.

As autoridades australianas, encarregadas da investigação - porque se supõe que o avião sumiu na área de resgate marítimo de sua jurisdição - sugeriram há alguns dias a possibilidade de que as correntes arrastassem um pedaço de fuselagem, algum colete salva-vidas... até as praias indonésias.

Para desespero das famílias das vítimas, que já entraram com ações judiciais na Malásia, França e China, nesse tema quase tudo é probabilidade, possibilidade, conjectura... Os únicos fatos comprovados do caso são os seguintes: à 0h41 hora local, um Boeing 777 da Malaysia Airlines com 227 passageiros (na maioria, chineses) e 12 tripulantes decolou de Kuala Lumpur com destino a Pequim. À 1h19 os pilotos se despediram do centro de controle aéreo malasiano, que lhe ordenou entrar em contato com o de Ho Chi Min. “Boa noite. Malaysian Três Sete Zero”. Foram as últimas palavras recebidas. Até aí, tudo transcorria normalmente. Dois minutos depois, o código do voo MH370 desapareceu dos radares civis sobre o mar do Sul da China.

Um controlador vietnamita entrou em contato com Kuala Lumpur à 1h38 para perguntar pelo paradeiro do voo, que já deveria ter contatado o controle de Ho Chi Min. Nem o centro de operações da companhia aérea nem os controladores de Cingapura, Hong Kong e Phnom Penh tinham feito contato com o avião. Às 5h30, quatro horas depois de o Boeing sumir, teve início a operação de resgate.

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A versão oficial do ocorrido (um sucinto relatório de cinco páginas em espaço duplo) acrescenta que um radar militar detectou que um avião, “possivelmente o MH370” havia virado para oeste sobre a península Malaia. E que um satélite da Inmarsat captou sete transmissões do avião, a última delas às 8h19. As análises dos engenheiros dessa empresa determinaram que provavelmente (e só provavelmente) esse último sinal foi emitido de um ponto em meio da imensidão do Oceano Índico: 34,7 graus Sul, 93 graus Leste.

As teorias conspiratórias proliferaram nesses nove meses: de uma abdução extraterrestre (hipótese descartada pelo FBI no Facebook) até um ataque com míssil (que, tragicamente, foi de fato a causa do desastre de outro voo da Malaysia Airlines, o MH17, sobre a Ucrânia, em junho), passando por um complô para matar alguns cientistas chineses para se apoderarem de uma patente revolucionária. O sincretismo e a falta de reação das autoridades malasianas nos primeiros dias desencadearam as especulações.

Mas os especialistas coincidem em que alguém a bordo do B-777, uma enorme aeronave de 60,89 metros de envergadura, desligou os sistemas de comunicação intencionalmente, mudou o rumo do avião e o levou até o oceano Índico. Alguém que sabia pilotar um avião comercial. Possivelmente, um dos pilotos. Mas a análise de um simulador de voo caseiro do comandante, Zaharie Ahmad Shah, de 53 anos (e ativo opositor da coalizão que governa a Malásia há 57 anos, desde a independência) não resultou em nenhuma pista. Nem mesmo as investigações sobre o copiloto, Fariq Abdul Hamid, de 27 anos, foram esclarecedoras.

“A inegável realidade é que o transponder (o sistema emissor-receptor por meio do qual os controladores conhecem a posição exata do avião) do MH370 parou de funcionar. Sem especular sobre o que se passou, é necessário redesenhar os sistemas dos aviões para que os transponders não possam ser desconectados, embora isso seja algo que levará tempo”, explicou no dia 10 Tony Tyler, diretor-geral da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA, na sigla em inglês). Atualmente, para silenciar um Boeing 777 só é preciso desativar os disjuntores que estão no painel superior da cabine do piloto.

As críticas de muitos especialistas em segurança ganharam força depois do desaparecimento do MH370 porque já existia o precedente dos atentados de 11 de Setembro de 2001, quando um grupo de terroristas sequestrou quatro aviões e os derrubou depois de desconectar as comunicações.

Enquanto fabricantes e companhias aéreas debatem como manter o controle constante e total da comunicação com o avião (e quem o paga), dois barcos vão e voltam da costa oeste australiana até a zona do oceano onde (provavelmente) a aeronave pode ter caído. Já rastrearam 9.000 quilômetros quadrados do fundo do mar. Sem êxito.

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