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A melhor salsa do mundo

A brasileira Anita e o uruguaio Adrián criaram um 'império' deste ritmo na Espanha

Felipe Betim
Anita e Adrián na competição ‘World Salsa Masters’, na última sexta-feira.
Anita e Adrián na competição ‘World Salsa Masters’, na última sexta-feira.kike para

À meia-noite e meia, o apresentador chama ao oitavo casal, entre os 16 que competem no World Salsa Masters, em Madri. “Adrián e Anita!”. O público põe-se de pé. Gritam, assobiam, aclamam. Os dançarinos entram caminhando no palco. Ela, com uma saia e um top dourados; ele, com uma calça preta, justa, e uma camisa aberta da mesma cor. Se preparam. Ela ergue a perna esquerda e ele a levanta acima da cabeça. Assim que começa a música, o movimento inunda o palco: piruetas, giros e rapidez. Com o toque sabrosón da salsa, se converteram na última sexta-feira em campeões do mundo por sexta vez.

O uruguaio Adrián Rodríguez e a brasileira Anita Santos Rubín, ambos de 30 anos e residentes em Barcelona, são a principal referência da salsa na Espanha, país que representam em várias competições, e, segundo opinam muitos no âmbito deste ritmo, “o melhor casal do mundo”. Ganharam as principais competições internacionais: três World Salsa Open, em Porto Rico (2007, 2008 e 2011); dois Todo Latino, na Grécia (2009 e 2010); e o World Salsa Masters, celebrado na última sexta-feira no Hotel Auditorium de Madrid. “Ninguém ganhou tantos torneios. Mas também estão considerados os melhores porque são os que mais fazem pela salsa”, opina Pablo Vilches, diretor de Salsea, a organização responsável do V Madrid Salsa Festival, no qual se celebrou a última competição.

Dançam juntos há 10 anos e hoje treinam equipes de 15 países

Adrián e Anita têm vários projetos e construíram um império da salsa na Espanha. Abriram uma escola de ritmos latinos em Barcelona chamada New Dance Center, onde, além de salsa, ensinam bachata, zumba e kizomba. Possuem também companhias de dança em Valência, Valladolid, Barcelona, Zurique (Suíça) e Stuttgart (Alemanha). “Ainda que estas companhias não sejam profissionais, têm um nível bastante alto e competem com outros grupos. Uma vez por mês vamos a essas cidades para fazer um trabalho personalizado: praticamos as coreografias e lhes exigimos muito”, explica Adrián.

Seu melhor projeto, o que eles definem como seu “filho predileto”, é o World Team Project, uma rede de equipes de baile em 15 países e 39 cidades. “É um programa do qual participa gente de todas as idades. Praticamos com todos os grupos a mesma coreografia. Dançam entre eles, fazem shows, se apresentam em congressos… Preparamos aos treinadores e mantemos contato online com os participantes. Não são profissionais, fazem por amor à dança”, conta Adrián. “Quando estamos em turnê e vamos a uma dessas cidades, lhes treinamos pessoalmente”.

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Adrián tinha 16 anos quando começou a dançar em Montevidéu. Dois anos depois, quando já dava aula e espetáculos —“deixei os meus estudos e só pensava em dançar”—, teve a oportunidade de se mudar para Barcelona. “Cheguei em 2002 e comecei a trabalhar em um bar de salsa limpando o banheiro. Fui subindo pouco a pouco. Em seguida, comecei a dançar profissionalmente e fui campeão da Espanha em 2004 com outra dançarina, antes de conhecer a Anita”.

Têm uma escola de ritmos latinos e cinco companhias de dança na Europa

Nessa época, Anita ainda era uma dançarina de balé clássico. Chegou do Brasil com 15 anos, depois de sofrer um acidente de carro. “Meu pai é galego e me disse que viesse para operar o braço. Adorei a Espanha e fiquei”. Depois de uma temporada parada, passou três anos na companhia de balé de Zaragoza. Quando esta fechou suas portas em 2004, decidiu provar algo novo com uns amigos que dançavam salsa. “Comecei a me mover por esse mundo e, meses depois, já em 2005, fui a um congresso em Tarragona, onde estava Adrián. Assim nos conhecemos”.

—Como começou tudo?

—Fiquei impressionado quando a vi e pensei: “Tenho que dançar com ela!”

—Ele me disse: “Sei que você ainda dança pouco, mas acho que podemos fazer algo bonito juntos”.

A partir desse momento, foi tudo muito rápido. Anita mudou-se para Barcelona e, pouco depois, ganharam um campeonato na Suécia representando a Espanha. Ainda eram pouco conhecidos no mundo da salsa e, durante o primeiro ano, decidiram trabalhar em congressos e festivais de graça. Logo foram chamados para dançar no programa Mira quien baila, do canal TVE, no qual foram professores de salsa e bachata durante cinco anos. “Para mim foi difícil ao princípio, porque venho do balé clássico. Mas Adrián via que eu tinha condições e me exigia muito”, enfatiza Anita. Adrián acrescenta: “Sim, sou muito exigente, mas Anita também não é normal. É muito versátil”.

Anita e Adrián, ao receber o prêmio do 'World Salsa Masters'.
Anita e Adrián, ao receber o prêmio do 'World Salsa Masters'.kike para

Os primeiros títulos importantes não demoraram. Em 2006, ganharam o principal torneio nacional, o España Salsa Open. No ano seguinte, seu primeiro título internacional, o World Salsa Open, em Porto Rico. “A competição é algo pessoal. Muitos dizem que deveríamos parar, mas, para nós, é uma forma de seguir ativos e melhorar”, explica Adrián. Hoje, quase 10 anos após começar, têm inclusive uma linha própria de sapatos de dança com o fabricante Reina, um dos principais da Espanha.

Adrián é o autor das diferentes coreografias que apresentam nas competições. “Mas ela é minha musa. É fácil quando tem uma pessoa ao lado com quem se pode fazer o que quiser”, assegura. A última, que apresentaram na sexta-feira, se chama Ten [dez], pelo tempo que estão juntos. Explicam que, após o festival, a seguirão representando e melhorando ao longo do ano. “O segredo do nosso trabalho é que ele tem uma cabeça criativa que nos permite mostrar sempre algo diferente”, explica Anita.

—O que falta fazer?

—Dançar em grupo. E também mais lento, romântico... Mudar um pouco o estilo—, explica Anita.

—A problema do dançarino é que só dança. As pernas não vão funcionar para sempre. Não quero estar dançando com 80 anos em um palco. Só se tiver vontade—, finaliza Adrián.

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