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Catalunha faz consulta popular pela sua independência da Espanha

Votação, que não tem validade jurídica, pode fortalecer movimento separatista

Miquel Noguer
Ato em apoio 'direito de decidir', em Pamplona.
Ato em apoio 'direito de decidir', em Pamplona. Ivan Aguinaga (EFE)

O Governo catalão acredita que nada impedirá que a votação deste domingo transcorra com normalidade e que seu presidente, Artur Mas, possa gabar-se de ter cumprido sua palavra: ou seja, que os catalães expressem sua opinião sobre o futuro político da Catalunha, apesar de a votação não ter validade legal. Embora o Governo regional da Catalunha continue no comando da votação, a maior participação dos voluntários deveria servir, aos olhos da própria Generalitat (como é chamada a Administração local), para que tanto o Governo quanto a Justiça aceitem uma consulta que será, acima de tudo, uma mobilização independentista.

Governo Catalão quer enviar nesta semana uma carta ao primeiro-ministro Mariano Rajoy para solicitar um plebiscito oficial

“Por um mínimo senso comum, qualquer ação fora de lugar seria um ataque direto à democracia e aos direitos fundamentais de expressão e de participação das pessoas”, alertou Mas.

Com o sucesso de participação quase garantido pela enorme mobilização que os partidos e entidades independentistas e a própria Generalitat fizeram nos últimos meses, as incógnitas recaem sobre o que acontecerá a partir de segunda-feira. Os dirigentes do partido Convergência e União (CiU) afirmam que apenas Artur Mas sabe se haverá eleições antecipadas, como foi solicitado pela Assembleia Nacional Catalã e partidos independentistas.

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O cenário do presidente mostra que tudo dependerá de dois fatores. Em primeiro lugar, do grau de sucesso que Mas possa conseguir nas urnas. “Não é o mesmo a votação de meio milhão de pessoas que a participação de mais de dois milhões”, dizem essas fontes. Em segundo lugar, ele quer esperar para ver se há alguma reação por parte do Governo da Espanha. “A disposição de Mariano Rajoy em reformar a Constituição ou fazer uma mudança importante do encaixe da Catalunha na Espanha mudaria muitos planos”, dizem.

O certo é que o nacionalismo conservador acredita ser hoje menos provável, ao contrário da situação há um mês, que a Catalunha realize eleições antecipadas de forma imediata. A consulta do domingo, embora sem qualquer tipo de garantias legais e sem validade jurídica, é vista por bases independentistas como um sucesso quase pessoal do presidente da Generalitat. De certa maneira é como se Mas tivesse conseguido recuperar a liderança do processo independentista que durante meses foi conduzido pelo presidente da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), Oriol Junqueras, e pela presidenta da Assembleia Nacional Catalã, Carme Forcadell. “Mas demosntrou que manda”, afirma um deputado veterano do CiU.

Pep Guardiola, técnico do Bayern de Munique, vota em Barcelona.
Pep Guardiola, técnico do Bayern de Munique, vota em Barcelona.Toni Albir (EFE)

Os partidos Convergência e, especialmente, a União Democrática, tentam não falar de eleições antecipadas e sim de muito trabalho que o Generalitat tem pela frente. Para começar, Mas se comprometeu em enviar esta semana uma carta ao primeiro-ministro espanhol Mariano Rajoy para solicitar um plebiscito oficial e a reabertura do diálogo sobre assuntos do dia a dia. Mas admitiu no sábado que não espera “muito” da resposta, porém acredita que deve enviar esta carta porque “nunca” se deve perder “a convivência entre a Catalunha e a Espanha”.

Artur Mas também disse em uma entrevista à rede TV-3 que, a partir de segunda-feira, escutará todos os partidos independentistas para negociar um possível plebiscito, mas reforçou que isso dependerá de um acordo entre os partidos para se “agruparem” com o objetivo de transformar eleições normais em uma consulta sobre a independência.

O Convergência tem consciência de que, após o referendo, a pressão para convocar eleições será enorme, especialmente por parte da ERC. No entanto, acreditam que o presidente do Governo Catalão terá maior poder de decidir por si só. Essas fontes citam a última pesquisa do CIS, que pela primeira vez, reflete um aumento da intenção de voto para o CiU à frente da ERC em eleições gerais.

Na ala moderada do Convergência, representada pelo conselheiro de Território Santi Vila, entre outros, defende-se esgotar a legislatura. Isso significa governar dois anos mais. O União tampouco quer facilitar ainda mais o caminho para a ERC.

Artur Mas tentará prolongar o mandato levando ao Parlamento os orçamentos de 2015 nos próximos dias. Atualmente, ele não tem o apoio da ERC. A aprovação das contas ficará a cargo de outras alianças parlamentares consideradas impossíveis há dois meses. O Partido dos Socialistas da Catalunha (PSC) é o melhor posicionado para aprovar as contas, em uma tentativa de dar estabilidade e evitar as eleições que não apenas elevariam a temperatura independentista, mas que também poderiam abrir a porta do Parlamento catalão ao Podemos.

Dados da consulta

  • A Generalitat autorizou centros de votação em 941 dos 947 municípios catalães. No total, haverá 1.317 centros de votação.
  • Como não há um censo anterior, o número de catalães que participarão da consulta é uma incógnita. A Generalitat estima 5,4 milhões, mas admite que há outro milhão de pessoas, basicamente estrangeiros, que também poderão participar.
  • Os resultados da consulta serão conhecidos às 22h30 do horário local (19h30 em Brasília) e, os números definitivos, na segunda-feira.

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