Avanço republicano também na batalha pelos governos estaduais
Democratas cedem pelo menos quatro Estados em um retrocesso sem paliativos
O avanço conservador nos Estados Unidos verificado com a votação da terça-feira arrasou os democratas nas eleições para governador, um território no qual tinham alguma esperança de evitar uma noite fatídica. Não foi assim. Até pouco depois das 0h (3h em Brasília), o partido de Barack Obama tinha cedido até quatro Estados dos 14 que defendia (Arkansas, Illinois, Massachusetts e Maryland). No Colorado, com a contagem ainda em andamento, a vantagem era do candidato conservador, o que agravaria o resultado.
Os republicanos, que defendiam 24 postos, cederam apenas a Pensilvânia, enquanto esperam o resultado do Alaska, onde um candidato independente fazia frente ao governador conservador. A destruição sofrida pelos democratas e o sucesso de seus rivais oferece muitas interpretações para a corrida que se inicia agora nos Estados Unidos: a da presidência em 2016.
A vitória de Tom Wolfe na Pensilvânia sobre o republicano Tom Corbett, que tentava a reeleição, uma das primeiras a ser anunciada, deu esperanças aos democratas. Mas foi um ganho efêmero diante da perda de Estados importantes, como Illinois e Maryland, entre outros. Antes da votação da terça-feira, os republicanos tinham 29 governadores contra 21 dos democratas. Após as eleições, a diferença se ampliou, e ainda são esperados os resultados definitivos.
Dos 13 Estados onde a batalha era incerta (Flórida, Geórgia, Connecticut, Illinois, Kansas, Massachusetts, Maine, Michigan, Rhode Island, Maryland, Colorado, Wisconsin e Alaska), os republicanos levaram pelo menos nove. Apenas Rhode Island e Connecticut resistiram à cor azul.
Um total de 19 governadores republicanos tentavam a reeleição (os outros três eram candidatos novos). Dezessete deles conseguiram. No lado democrata, nove aspiravam conquista semelhante. Só cinco foram bem sucedidos. Um detalhe relevante: as mulheres se fortaleceram nos postos de governador. As quatro que tentavam se reeleger conseguiram, entre elas Susana Martínez, republicana do Novo México.
O lastro representado por um desgastado Obama também pesou na corrida pelos Governos dos Estados, além da questão da economia e da sensação de que a recuperação ainda não chegou ao bolso dos norte-americanos, segundo uma pesquisa de boca-de-urna do Edison Research sobre as principais preocupações dos eleitores. As interpretações sobre o que estes resultados significam para a corrida presidencial não se farão esperar. Cada Estado oferece análises interessantes.
Entre os concorrentes vitoriosos, destaca-se o republicano Scott Walker, governador do Wisconsin que aspirava um segundo mandato. Presidenciável favorito dos setores mais conservadores e do Tea Party, por causa de suas ideias sobre o aborto, seus enfrentamentos com os servidores públicos e suas medidas restritivas para exercer o voto, Walker teve um duelo difícil com a democrata Mary Burke. Sua popularidade tinha caído e as pesquisas indicavam um empate técnico. No entanto, Walker se impôs com oito pontos de vantagem.
Walker não é o único governador alçado ao poder com a onda conservadora de 2010 que teve que se empenhar a fundo para ganhar. Foi também o caso de Sam Brownback no Kansas. As pesquisas não indicavam uma vitória sua, mas sim a do democrata Paul Davis. Brownback tinha perdido fôlego eleitoral com um programa econômico que rebaixara a classificação da dívida do Kansas. Mas na terça-feira, ele recebeu um importante aval com sua apertada vitória.
Na Pensilvânia, entretanto, o governador Tom Corbett caiu por deméritos próprios e pelo bom trabalho do democrata Thomas Wolfe, um dos poucos que permitiu ser acompanhado por Obama na campanha. Boa parte da impopularidade de Corbett vem dos cortes aplicados nos financiamentos para educação, que prejudicaram as famílias mais pobres. A Pensilvânia é o Estado de número 45 da União no que se refere ao orçamento para a educação. Além disso, Wolfe prometeu aumentar o salário mínimo.
A Flórida foi um dos Estados onde a disputa foi mais acirrada. O governador republicano Rick Scott acabou ganhando por uma margem estreita, de apenas um ponto. Para isso, teve que superar uma crescente impopularidade por suas medidas contra o aborto e por um corte orçamentário, entre outras políticas. Seu oponente foi Charles Crist, ex-governador republicano do Estado que se converteu em democrata e tentava dar a seu novo partido a primeira vitória em 20 anos. Os dois trocaram ataques sem trégua e, juntos, tiveram um gasto de campanha de quase 100 milhões de dólares.
Democratas e republicanos apostavam muito na Flórida já pensando na disputa pela Casa Branca em 2016. Tanto que Scott e Crist colocaram centenas de supervisores nas mesas eleitorais diante da previsão de uma contagem acirrada. A tensão não baixou em nenhum momento. Durante a terça-feira, Crist pediu a um juiz que prorrogasse o horário de votação por causa de problemas ocorridos em alguns condados, mas sua reclamação foi rejeitada.
Em Michigan, o republicano Rick Snyder se impôs na reta final sobre o democrata Mark Schauer, que vinha reduzindo a vantagem do seu oponente nos últimos dias. Snyder, que se indispôs com os sindicatos após reduzir o financiamento público destes, acabou mantendo o cargo. A seu favor esteve o fato de não ter se oposto como outros Estados a receber verbas para a reforma da saúde promovida por Obama.
Em Nova York, Andrew Cuomo esmagou o conservador Rob Astorino. A campanha do Governador democrata, apoiada em uma ambiciosa agenda social (igualdade salarial para as mulheres, mais proteção à legislação sobre o aborto e aos casais homossexuais) e nos seus bons resultados econômicos, foi insuperável para um candidato que não conseguiu se livrar da pecha de ultraconservador. O amplo triunfo de Cuomo, em contraste com o desastre de seu partido, sem dúvida lhe confere uma imagem nova para empreitadas maiores.
Os resultados de ontem significam um empurrão importante também para Chris Christie, um governador que não disputou a reeleição na terça-feira, mas que tinha muito a perder com elas. Como líder do grupo de governadores republicanos, Christie, de Nova Jersey, se dedicou nas últimas semanas a viajar pelo país apoiando seus companheiros. Depois do sucesso em Estados como Flórida, Michigan, Wisconsin, Illinois, Maryland e Arkansas, viu suas credenciais crescerem fortemente.
Não menos interessante foi o que ocorreu nos seis Estados da Nova Inglaterra (Maine, Vermont, New Hampshire, Massachusetts, Connecticut e Rhode Island), tradicionais redutos democratas, onde novos rostos se apresentavam. Os republicanos mantiveram o Maine com o ultraconservador Paul LePage. Os democratas, pelo contrário, perderam Massachusetts para o republicano Charlie Baker, que defende o aborto e os matrimônios homossexuais. Sem dúvida, a queda desse Estado foi uma das piores notícias da noite para os obamistas. Em Rhode Island, venceu a democrata Gina Raimondo, que concorria com o republicano Allan Fung. Em New Hampshire, Maggie Hassan se impôs ao conservador Walt Havenstein.
Em Connecticut, o duelo entre o governador Dan Malloy e o republicano Tom Foley se prenunciava apertado, e assim foi. Em 2010, Foley perdeu por apenas 6.500 votos. Empresário e ex-embaixador na Irlanda, o candidato conservador tinha centrado sua campanha na economia, enquanto seu rival, o atual governador, havia retratado seu rival como um homem afastado da classe média e dos trabalhadores. Restava ver se haveria desforra. Até a publicação deste texto, ainda havia cédulas a apurar, mas Malloy acumulava vantagem suficiente.
Em Vermont, outro Estado democrata, nenhum candidato obteve maioria suficiente, e por isso a eleição do novo governador ficará nas mãos da Assembleia Legislativa estadual.
Os republicanos, conforme esperado, ganharam sem dificuldades em seus Estados tradicionais: Alabama, Ohio, Texas, Oklahoma, Dakota do Sul, Tennessee, Novo México, Nebraska, Wyoming, Nevada e Iowa. Na madrugada desta quarta, os democratas abriam uma clara vantagem na Califórnia.
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