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Podemos lidera pela primeira vez as intenções de voto na Espanha

Pablo Iglesias se torna o líder mais bem avaliado, segundo pesquisa do Metroscopia Nível de abstenções entre os eleitores do Partido Popular é de 20%

Pablo Iglesias posa junto com sua equipe em assembleia do Podemos.
Pablo Iglesias posa junto com sua equipe em assembleia do Podemos.CLAUDIO ÁLVAREZ

O recém-criado partido de esquerda Podemos já provocou um abalo sem precedentes na política espanhola e está em condições de virar de cabeça para baixo o tabuleiro eleitoral. O grupo liderado por Pablo Iglesias poderia, inclusive, ser o mais votado, com 27% dos votos, segundo pesquisa de intenção de voto do Metroscopia para o EL PAÍS. Neste levantamento, o Podemos tiraria 1,5 ponto do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) e 7 do Partido Popular (PP), que cairia para 20,7% dos votos válidos.

Nunca antes um partido recém-formado havia alcançado uma expectativa de voto tão alta como a que o Podemos conseguiu em apenas oito meses de vida. Já conseguiu um resultado espetacular nas eleições europeias de maio, e agora consolida seu crescimento a sete meses das eleições regionais e municipais e a um ano das gerais. Nas municipais não vai concorrer com sua marca, mas integrado a outras candidaturas.

O dado explica a comoção no Governo, que na próxima semana será confirmada por uma pesquisa do CIS, ainda que o trabalho de campo da pesquisa oficial tenha sido realizado antes da semana negra de corrupção que se viveu nos últimos dias. A série dos últimos meses, coerente com outros levantamentos, permite avistar um fim de ciclo na política espanhola, caso as previsões se confirmem nas urnas. A este resultado insólito é preciso aplicar algumas precauções que, em nenhum caso, reduzem a importância do futuro político que aponta. A primeira é a metodológica, porque o crescimento do Podemos muda o panorama de dois partidos consolidados como PP e PSOE, que disputavam sempre as eleições com uma terceira força muito distante. Agora é mais difícil ponderar critérios demoscópicos ou a aplicação de critérios estatísticos e subjetivos, como a lembrança de voto, que, obviamente, não existe no caso do Podemos.

É preciso ter em conta também que a pesquisa mostra um afundamento do apoio ao PP pelo profundo mal-estar de seus eleitores, que se manifesta em um índice de abstenção dos eleitores do partido próximo de 20%.

UPyD e IU retrocedem como refúgio para os indignados

Enquanto o Podemos mobiliza pessoas que se abstiveram em eleições passadas e novos eleitores, quase um quinto dos eleitores do PP passam a dar as costas para as urnas. Esse efeito abstencionista dificulta a estimativa porque pode ser conjuntural e poderia diminuir com a proximidade das eleições. O próprio fato de o Podemos estar em condições de ganhar poderia servir para mobilizar eleitores insatisfeitos do PP. Esse empenho mobilizador é o que vai ocupar o PP daqui até as próximas eleições e está por trás da estratégia do partido contra o novo adversário. Eleitores tradicionais do PP não perdoam neste momento que sejam esquecidos pontos fundamentais de seu programa, ainda que neste setor o primeiro-ministro Mariano Rajoy tenha a vantagem de não competir com outras opções em seu espectro ideológico.

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Joga contra o partido de Rajoy o acúmulo de escândalos e o fato de os cidadãos afirmarem que não percebem uma melhora na economia. O Governo apostou quase todas as suas fichas na recuperação e na reforma fiscal, mas esses não parecem ser agora fatores catalizadores por si mesmos. Ou não se percebe a melhora ou esta não serve para levar cidadãos às urnas. O fato de cerca de 8% dos eleitores do PP dizerem que podem votar no Podemos explica por si só o nível de mal-estar de seus eleitores. E também ajuda a entender a estratégia de transversalidade ideológica representada pelo Podemos nos últimos meses. Não fala de esquerda nem de direita para tentar ser um partido de amplo espectro ideológico e com as menores arestas possíveis.

Outro fator a se levar em conta é a comoção pela realidade dura. Além do escândalo de cartões de crédito não fiscalizados concedidos a conselheiros do Caja Madrid, nos últimos dias houve avanços no caso Gürtel relativo ao caixa dois do PP e na operação Púnica, que acabou com a prisão de mais de 50 empresários e políticos por um suposto esquema de comissões ilegais. Este tipo de acontecimentos de grande impacto emocional atuam as vezes como abalos conjunturais, e é preciso esperar que se assentem nos meses seguintes.

Os escândalos de corrupção funcionam as vezes como abalos conjunturais

De qualquer forma, o Podemos tira proveito desse efeito, enquanto o UPyD e a Esquerda Unida (IU) retrocedem como opções de refúgio para os indignados. O bipartidarismo pode ser uma relíquia dentro de um ano, e corre-se o risco de haver um Parlamento fragmentado, mas favorável principalmente ao Podemos e não aos partidos liderados por Rosa Díez e Cayo Lara.

Outro fator claro na pesquisa é que o Podemos se alimenta principalmente dos erros dos outros. Por isso a maioria não considera as propostas do partido de Iglesias realistas e não acredita que o grupo tenha ideias claras, mas pesa na balança o fato de os demais já terem demonstrado, segundo os cidadãos, que não se pode confiar neles. Entre os entrevistados, 42% atribuem o êxito do novo partido à decepção e ao desencanto com os outros. Sem minimizar o sucesso de ter conseguido capitalizar esse descontentamento, o grande desafio do Podemos é manter durante um ano essa sensação de desânimo com os demais e o fator novidade.

O partido precisa conseguir que se prolongue a tensão dos descontentes, que permite obter o voto daqueles que inicialmente podem não ser muito próximos, mas preferem o Podemos às outras opções, com as quais estão decepcionados. Ganham novos eleitores e setores que nunca foram às urnas, e têm também a vantagem da boa avaliação de seu líder, Pablo Iglesias. Ele é o único dos sete dirigentes de partidos políticos citados na pesquisa que recebeu nota positiva (ou seja, um saldo positivo entre os que o aprovam e os que o desaprovam). O índice de Rajoy, o pior avaliado, é de -63 e, muito perto dele, Soraya Saénz de Santamaría obtém -45.

A melhor pontuação, muito acima dos líderes políticos, é obtida pela Família Real. Pouco mais de cem dias depois de ter assumido a Coroaespanha, Felipe VI tem um saldo de +52 pontos, e Letizia, de +44, o que representa uma mudança radical de tendência frente à deterioração da imagem da Casa Real registrada em levantamentos anteriores.

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