Argentina oferece refúgio a um gay discriminado na Rússia
O Governo de Cristina Fernández de Kirchner recebe um jovem vítima de perseguição, apesar das boas relações com Moscou
Em julho, o presidente da Rússia Vladimir Putin visitou a Argentina em uma viagem à América Latina em que procurou reforçar alianças e na qual ofereceu à sua colega Cristina Fernández de Kirchner um financiamento para que empresas russas construíssem usinas nucleares e hidrelétricas no país sul-americano. Desde agosto, a Argentina está gerenciando novas exportações de alimentos à Rússia, que busca fornecedores alternativos depois da guerra de sanções comerciais com a União Europeia. No começo de outubro, Putin e Kirchner fizeram uma videoconferência ao vivo para anunciar que o canal estatal Russia Today estava disponível na televisão digital aberta da Argentina. Apesar dessa aproximação cada vez mais forte entre ambos os países, Buenos Aires concedeu refúgio a um cidadão russo vítima de discriminação e violência por ser homossexual, segundo informou na segunda-feira a Federação Argentina de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Trans (FALGBT).
A Comissão Nacional para Refugiados da Argentina não emitiu nenhum comunicado a respeito, mas a FALGBT explicou que um relatório desse organismo sobre o caso apontou a "violência e perseguição" sofridos pelo jovem russo de 28 anos, cuja identidade não foi revelada e que há um ano tramitava seu refúgio. A comissão também reconheceu "a grave situação que enfrenta a comunidade LGBT na Rússia e a falta de proteção por parte do Estado russo", segundo a federação. A FALGBT acrescentou que outros russos discriminados por sua orientação sexual pediram refúgio à Argentina, país em que a lei do casamento de pessoas do mesmo sexo existe há quatro anos. Também há pedidos de refúgio de cidadãos de outros países pelo mesmo motivo.
O jovem russo havia recorrido à FALGBT para resolver sua situação migratória. "A Argentina é pioneira em matéria de reconhecer a discriminação motivada pela orientação sexual e identidade de gênero entre os critérios que habilitam o reconhecimento da condição de refugiado ou refugiada, em consonância com as recomendações do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR)", destacou a federação.
Alguns gays russos e de outros países pediram refúgio à Argentina e esperam resposta.
Alguns gays russos e de outros países pediram refúgio à Argentina e aguardam resposta
No relatório do Governo argentino no qual o país concede a condição de refugiado ao jovem russo, se reconhece que no país euro-asiático prevalece uma "situação generalizada de violência contra pessoas LGBT, baseada em documentação encaminhada por órgãos das Nações Unidas e por diversas organizações internacionais de diversidade sexual e direitos humanos", enquanto "as forças de segurança (russas) ao menos toleram" esse acosso, segundo relatou a federação. O refugiado russo e outros compatriotas que pedem a mesma condição disseram à FALGBT que a polícia de seu país não acolhe suas denúncias por violência e ameaças, e nem lhes oferece proteção. "A tudo isso se somam a lei contra a propaganda das relações não tradicionais, sancionada no ano passado pelo Parlamento russo, e outras iniciativas legislativas que não apenas implicam um risco certo de sanção estatal para as pessoas LGBT, mas que também aumentaram notavelmente o nível de violência e estigma nos discursos de funcionárias e funcionários públicos e jornalistas", afirmou a FALGBT.
"É uma grande alegria e muito tranquilizador saber que a Argentina decidiu dar a ele a condição de refugiado, que lhe permitirá continuar sua vida no país que escolheu precisamente porque a sociedade aceita amplamente a diversidade e porque, mesmo que alguns setores continuem discriminando e promovendo o ódio, o Estado está presente para proteger e fazer valer seus direitos", declarou o presidente da FALGBT, Esteban Paulón. Daqui a dois anos, o jovem poderá pedir a nacionalidade argentina.
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