_
_
_
_

Cresce o número de judeus que abandonam a França e partem para Israel

As comunidades hebraicas observam um aumento do antissemitismo na Europa

Gabriela Cañas
O líder de uma comunidade judaica examina tumbas pintadas com suásticas em um cemitério perto de Estrasburgo, em 2010.
O líder de uma comunidade judaica examina tumbas pintadas com suásticas em um cemitério perto de Estrasburgo, em 2010.VINCENT KESSLER (REUTERS) Reuters

O Governo francês está preocupado. Acredita que há recaídas inaceitáveis de antissemitismo. O presidente François Hollande, o primeiro-ministro Manuel Valls e o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, lançaram alertas reiterados nas últimas semanas. Valls reagiu duramente no final de agosto contra o ataque a sinagogas e contra algo que passou décadas sem ser ouvido nas ruas de Paris: “Morte aos judeus”. A guerra de Gaza exaltou os ânimos, e o medo se instalou nas comunidades judaicas europeias.

“Minha amiga acaba de ir embora com toda a família. Agrediram o seu pai, de 80 anos, na rua, e ela disse: ‘Até aqui chegamos’”, conta ao EL PAÍS um judeu de Paris, que prefere ficar no anonimato.

Mais informações
Uma piada antissemita de Le Pen pai arruína a estratégia de sua filha
Cerca de 26% dos judeus europeus dizem ter sofrido preconceito
A Bélgica solicita ajuda depois do atentado antissemita

Joël Mergui, presidente do Consistório Israelita da França, não duvida de que haja um antissemitismo crescente e certo ataque à liberdade religiosa, gerando dúvidas sobre o futuro na França. “Muitos consideram que este já não é seu lugar”, acrescenta Roger Cukierman, presidente do Conselho Representativo das Instituições Judaicas da França. Philip Carmel, conselheiro do Congresso Judaico Europeu, relativiza: “Os que vão embora são apenas 1%. Os demais 99% acreditam que o país lhes oferece um futuro, sim”.

Na França, com a maior comunidade judaica do continente (600.000 cidadãos), a migração para Israel disparou, a ponto de este se tornar o país que mais cidadãos envia neste ano. Em 2012, apenas 2.000 judeus franceses partiram para Israel. Já em 2013, a cifra subiu para 3.280. Nos oito primeiros meses deste ano, 4.566 fizeram a aliyah (migração), segundo o ministério israelense de Integração. Isso é quase o dobro das migrações oriundas da Rússia ou dos Estados Unidos.

“Muitos acreditam que este já não é o seu lugar”, diz o líder de uma associação

A última pesquisa da Agência de Direitos Fundamentais da UE, de novembro passado, mostrou que 76% dos judeus europeus acreditam que a sua situação se agravou nos últimos cinco anos. Um em cada três sofreu uma agressão física. Os insultos, a perseguição e a violência não são casos isolados. E muito menos na França.

A crise econômica é, sem dúvida, uma razão fundamental para a fuga. “O futuro é incerto e, sobretudo, os jovens procuram se desenvolver profissionalmente”, diz Zvi Tal, ministro plenipotenciário da embaixada de Israel em Paris. Em algumas reportagens televisivas feitas ultimamente pela imprensa francesa em Israel, boa parte das famílias ouvidas admite que o antissemitismo também as estimulou a partir.

O Governo de Hollande manifesta sua preocupação com o fenômeno

A internet, concordam as fontes consultadas em Paris, favoreceu a desinibição na propagação de mensagens antissemitas. O Governo francês, muito criticado recentemente por proibir dois protestos violentos nos quais houve gritos antissionistas e antissemitas, está analisando com Israel formas de controlar o fenômeno digital. Mas o maior temor tem a ver com o jihadismo e com os combatentes europeus que retornam radicalizados da Síria. Mais de 800 franceses se envolveram no conflito, e alguns já se tornaram tristemente famosos por seus atos terroristas. Mehdi Nemmouche, francês de 29 anos, supostamente matou quatro pessoas em maio no Museu Judaico de Bruxelas. Agora, sabe-se que ele foi o carcereiro de quatro jornalistas franceses que estiveram até abril como reféns do Estado Islâmico.

Nemmouche, já extraditado para a Bélgica, é, segundo seus antigos reféns, um homem muito violento e antissemita, que prometia “arrastar os judeuzinhos pelas tranças” antes de massacrá-los. Seu herói é Mohamed Merah, outro ex-combatente francês, acusado de matar sete pessoas há dois anos em Toulouse, entre eles um professor e três crianças de uma escola judaica.

A comunidade muçulmana francesa é de seis milhões de pessoas. “É uma pena que, em vez de aproveitar a convivência de comunidades tão grandes para estabelecer um diálogo na Europa, só tenha sido possível estender o conflito do Oriente Próximo para cá”, diz com pesar o rabino Rivon Krygier, de Paris.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_