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O regime sírio usou gás de cloro pelo menos oito vezes no mês de abril

Um relatório da ONU menciona execuções públicas e amputações realizadas pelo Estado Islâmico

Alepo, no norte do país, em 27 de agosto.
Alepo, no norte do país, em 27 de agosto.ZEIN AL-RIFAI (AFP)

Uma comissão de investigações da Organização das Nações Unidas (ONU) acusou o Governo sírio de usar agentes químicos em oito incidentes distintos no mês de abril, segundo um novo relatório divulgado pela entidade sobre crimes de guerra na região. Concretamente, durante dez dias de abril foi utilizado gás de cloro sobre a população das localidades de Kafr Zeita, Al-Tamana’a e Tal Minnis. As testemunhas afirmam ter visto helicópteros lançarem cilindros com gás de cloro e ter notado o odor característico que se espalhava após o impacto.

O relatório afirma ainda que médicos encarregados de tratar vítimas relataram sintomas semelhantes aos de outros agentes químicos, como vômitos, irritações na pele e nos olhos, e problemas respiratórios. O gás de cloro em estado puro é um pouco menos prejudicial que outros compostos de uso bélico, como o gás mostarda, mas também é capaz de matar e foi usado em diversas guerras.

O documento da ONU também destaca que o Estado Islâmico (EI) realizou frequentes execuções públicas que os cidadãos, inclusive as crianças, eram obrigados a assistir. O EI, que controla áreas do norte e do leste da Síria, é um dos grupos que combatem o presidente sírio Bashar Al-Assad, em um conflito que já dura quatro anos.

O período analisado pelo relatório da ONU coincide com o crescimento do EI na Síria. A comissão relata que “membros do EI cometeram crimes de guerra e crimes contra a humanidade em Alepo e Raqa, inclusive atos de tortura, assassinato, desaparições forçadas e deslocamentos da população”. “O EI representa um claro perigo para a população e em particular para as minorias, que se encontram sob seu domínio na Síria e na região”, adverte Paulo Pinheiro, o presidente da comissão da ONU.

Os investigadores acusam ainda o EI, instalado também no norte do Iraque, de praticar amputações, execuções e linchamentos públicos em suas vítimas. “Os corpos dos assassinados são deixados à vista de todos durante dias, aterrorizando a população. Em Raqa, meninos de até 10 anos são recrutados e treinados em campos para a guerra”, diz o relatório, que alerta sobre as consequências para toda a região.

As forças do Governo de Bashar Al-Assad, por sua vez, também cometeram atrocidades, que incluem estupros, crimes de guerra e crimes contra a humanidade, com total impunidade. Entre janeiro e julho, centenas de homens, mulheres e crianças foram assassinados pelo fogo indiscriminado do Exército sírio, com mísseis e bombas lançadas sobre áreas habitadas. Em alguns casos, há claras evidências de que reuniões de civis foram o alvo deliberado, o que provocou massacres, diz o relatório.

A comissão relata que os soldados de Bashar Al- Assad, nos postos de controle, impediram que civis feridos chegassem até os hospitais. Os centros de saúde se tornaram alvos e as forças do Governo impediram que chegasse até eles a ajuda e o fornecimento de remédios e material cirúrgico. Nas prisões sírias, os detidos são vítimas de horríveis torturas e violência sexual. Os métodos empregados e as condições dos detidos confirmam a tortura sistemática e as numerosas mortes de prisioneiros.

“A comunidade internacional fracassou em seus deveres mais elementares: proteger os civis, deter e prevenir atrocidades e criar um caminho de transparência, que encontraram na área o abandono até da pretensão de aderência às leis internacionais”, disse Pinheiro. Os investigadores afirmam que existe uma possibilidade real de que o conflito, que já entrou no Iraque, se estenda para toda a região.

Na semana passada, os Estados Unidos anunciaram que a neutralização do arsenal químico que a Síria entregou foi completada em alto mar. A destruição dos componentes químicos, 581 toneladas de “precursores químicos” para fabricar gás sarin e 19,8 toneladas de agentes para fabricar gás mostarda, segundo informa a AFP, foi mais rápido do que o previsto embora a complexa operação internacional tenha sofrido diversos atrasos. Depois de um suposto ataque em 2013 com gás sarin nos arredores de Damasco, no qual morreram centenas de pessoas, o regime de Al-Assad concordou em setembro do ano passado com a proposta russa de entregar seu arsenal químico para evitar um ataque com mísseis dos EUA.

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