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O presidente Abbas defende a criação unilateral de um Estado palestino

A nação, com capital em Jerusalém, teria as fronteiras anteriores a 1967

O presidente palestino reza em uma reunião em Ramala. / Foto e vídeo de Reuters (legendas em espanhol)Foto: reuters_live

Desde os Acordos de Paz de Madri, em 1991, pouco avanço foi feito na construção de uma convivência segura – não apenas no papel – entre os dois Estados, Israel e Palestina. Cansado dos fracassos e no calor da ofensiva em Gaza, que terminou ontem à noite com uma trégua por tempo indeterminado, o presidente palestino, Mahmoud Abbas, aposta agora em um novo caminho. Ontem à noite, na Mukata (sede de governo) em Ramala, propôs à liderança palestina um plano com um cronograma para a criação de um Estado palestino de pleno direito – já reconhecido como observador nas Nações Unidas em novembro de 2012 – com a ajuda da comunidade internacional, sem passar por outro processo de negociação como o que, em 29 de abril, afundou após nove meses de contatos.

De acordo com fontes da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), a proposta de Abbas pretende "marcar uma data para o fim da ocupação", mas o debate continuava na noite de ontem e as possíveis datas não foram divulgadas. Isso levaria à criação de um país chamado Palestina, nas fronteiras anteriores a 1967, ou seja, reunindo Gaza e Cisjordânia, com capital em Jerusalém Oriental, mas sem os cerca de 600.000 colonos judeus que vivem agora nesses dois últimos territórios. Em 2011, o presidente norte-americano Barack Obama aceitou as fronteiras para o novo Estado, assim como a União Europeia. O status de Jerusalém, contudo, é muito delicado para que o Ocidente se pronuncie com firmeza.

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Ofir Akunis, vice-ministro no gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, responde que "nenhuma nação renuncia a sua pátria nativa", que "Judeia e Samaria [como Israel chama a Cisjordânia] são o berço do povo judeu" e voltar às fronteiras de 47 anos atrás equivaleria a um "suicídio nacional". "Os resultados da retirada de Gaza, em 2005, não trouxeram paz, trouxeram a guerra", adverte. A proposta vem quando Netanyahu está cercado pelas críticas de dois de seus principais aliados de Governo por negociar com o Hamas e com apenas 50% da população satisfeitos com sua gestão da ofensiva em Gaza, segundo uma pesquisa do Canal 2. Na ofensiva terrestre, quando Netanyahu mostrou sua face mais belicosa, sua popularidade chegou a superar os 85%.

Abbas faz um apelo "intenso" à comunidade internacional para ajudá-lo neste processo e apoiar seu roteiro. O calendário pode ser definido em uma conferência internacional ou através de uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Ali, pode esbarrar-se com os EUA, que costuma exercer o seu direito de veto em favor de Israel. Se não der certo, fontes palestinas confirmam a intenção "resoluta" do Governo palestino de assinar o Tratado de Roma e, portanto, reconhecer o Tribunal Penal Internacional, em Haia, onde poderiam denunciar o seu adversário por supostos crimes de guerra, contra a humanidade e genocídio, uma ameaça que preocupa Netanyahu e Obama.

O que Abbas não deseja, explicam vários participantes da reunião em Ramala, é voltar ao palco resultante da operação Pilar Defensivo, no outono de 2012, quando se alcançou um cessar-fogo entre o Hamas e Israel que deveria aliviar parcialmente o cerco a Gaza mas não foi cumprido, com violações mútuas algumas horas após a assinatura no Cairo, e causou mais um ano e meio de isolamento na área. "Precisamos de uma solução definitiva que não nos dê uma crise a cada dois anos. Assim como existem casas em Gaza que já não podem ser consertadas, também não podemos colocar um remendo em uma situação de colapso político", resumiu um deputado do Fatah, partido de Abbas.

O presidente palestino já disse no fim de semana à televisão egípcia que sabia que sua proposta seria "pouco ortodoxa" e poderia não agradar muito aos EUA, mas já contava com o apoio dos países árabes. No final desta semana ou no início da próxima, ele vai explicar pessoalmente ao secretário de Estado norte-americano, John Kerry, que tem visita marcada ao Oriente Médio.

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