Os rebeldes entregam os corpos e as caixas-pretas do Boeing
Os combates entre ucranianos e pró-russos em Donetsk dificultam a investigação do ataque à aeronave
O recrudescimento da violência em Donetsk, tanto na capital da província como em uma vasta área em torno da cidade controlada pelos separatistas, dificultava nesta segunda-feira o deslocamento dos especialistas internacionais que, na sua maioria, esperavam em outras cidades, como Kiev e Carcóvia, até que houvesse condições de segurança para investigar in loco as causas da queda do Boeing 777 da Malaysia Airlines a 50 quilômetros da fronteira com a Rússia, na quinta-feira.
O trem que transportava os corpos das vítimas partiu na segunda-feira à tarde da cidade de Torez, controlada por separatistas pró-russos, com destino a Carcóvia, controlada por Kiev. Ali esperava um grupo de 31 especialistas de vários países, incluindo Holanda e Malásia, que se encarregarão do trabalho forense e da repatriação dos corpos, informa de Haia Isabel Ferrer. O primeiro-ministro holandês Mark Rutte, anunciou que havia chegado a um acordo com as autoridades ucranianas para que os corpos sejam levados diretamente de Carcóvia para a Holanda. A viagem "poderia demorar entre 10 e 12 horas", calcula Rutte, uma informação dada a ele pelo presidente ucraniano, Petro Poroshenko.
O primeiro-ministro malásio, Najib Razak, afirmou que os rebeldes pró-russos asseguraram que as duas caixas-pretas da aeronave serão entregues a uma equipe de especialistas da Malásia e que garantirão a uma equipe de pesquisadores internacionais um "acesso seguro" ao local da queda, para que possam começar a investigação.
"A estação ferroviária é uma zona morta, 90% das lojas fecharam antes do final do expediente e as ruas estão quase desertas. A Administração municipal pediu que as pessoas fiquem longe das varandas", contava por telefone a jornalista Adriana Dergam, de Donetsk. Em seu site, Igor Strelkov, o ministro da Defesa dos insurgentes, informava sobre os combates – com resultados variados para as tropas do governo e separatistas – em pontos de uma faixa que se estende do norte de Donetsk (Dzerjinsk) para o leste (Snizhne), esta última em área próxima ao local da queda. Os ukri (como os separatistas chamam as tropas leais a Kiev) provocaram pelo menos 15 baixas entre mortos e feridos.
Em Donetsk, Alexandr Borodai, chefe de Governo da autoproclamada República Popular de Donetsk (RPD), transmitiu uma mensagem ambígua aos especialistas internacionais: por um lado convidava a ir ao local da tragédia e, por outro, desencorajava mencionando riscos à segurança. Borodai, que disse estar disposto a entregar a caixa preta aos representantes da comissão de investigação, pintava uma paisagem repleta de perigos para os "corajosos" que se atrevessem a vir, passando por "zonas de combate", com "enormes quantidades de postos de controle" e a possibilidade de "serem atacados pelo ar".
Em Kiev, o presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, ordenou uma trégua em um raio de 40 quilômetros em torno do local do desastre, mas Borodai negou a existência dessa trégua. "Há combates por toda parte (...) Ninguém chegou a um acordo conosco", disse ele, que se identifica como o único interlocutor válido para falar com os especialistas da missão da OSCE. Contudo, os três peritos forenses holandeses conseguiram trabalhar em Torez, de onde partiu o primeiro trem refrigerado levando os restos mortais de 192 pessoas.
Enquanto no local do desastre se perdia um tempo precioso para a investigação, os representantes russos faziam declarações. Primeiro foi o presidente Vladimir Putin, que em caráter de urgência e no insólito horário de 2h da madrugada de segunda-feira (19h de domingo em Brasília) transmitiu um pronunciamento pela televisão no qual afirmou que "ninguém tem o direito de usar a tragédia para atingir os seus fins políticos egoístas". O presidente russo disse ainda que "essa tragédia certamente não teria ocorrido" se Poroshenko tivesse mantido a trégua que declarou (por dez dias). De acordo com o canal de televisão Dozhd, as palavras de Putin eram dirigidas aos EUA e foram gravadas às pressas depois de várias conversas com líderes ocidentais. Hoje, Putin convocou uma reunião do Conselho de Segurança da Rússia para tratar da "integridade" do Estado.
Às portas da embaixada holandesa em Kiev, Poroshenko se recusou a comentar a declaração de Putin. "Tenho certeza de que o mundo está dividido em duas partes, uma é o mundo inteiro que julga os terroristas e outra, os próprios terroristas. E todos devem decidir onde estão, isso é tudo", disse o presidente da Ucrânia.
Em Moscou, o Ministério da Defesa realizou uma entrevista coletiva para contar que os radares russos haviam detectado um caça ucraniano Su-25 próximo ao avião abatido, a uma distância de "3 a 5 quilômetros" por 4 minutos, de acordo com o General Andrei Kartopolov. Poroshenko negou a presença de um avião ucraniano na área no momento da queda.
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