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Hollande: “Não perderei nem um minuto para continuar com as reformas”

O presidente se mantém firme apesar do aumento das críticas

Carlos Yárnoz
Hollande, depois do discurso de 14 de julho no Champs Elysées.
Hollande, depois do discurso de 14 de julho no Champs Elysées.Reuters

François Hollande deixou muito claro que não haverá nenhum recuo em suas duras reformas econômicas apesar da resistência crescente nestes dias. O presidente francês aproveitou sua habitual intervenção pública na festa nacional da França para assegurar que são precisamente estas reformas "o principal objetivo" de seu mandato e que não perderá tempo em executá-las. "Farei as reformas até o último minuto de minha presidência", afirmou. Hollande mantém essa firmeza apesar de que, nos últimos dias, aumentaram as críticas vindas dos sindicatos, da ala esquerda do Partido Socialista e até de alguns membros do Executivo.

Hollande explicou que o objetivo de recuperar a competitividade, o crescimento e o emprego é uma tarefa de todos e que por isso lançou em janeiro o Pacto de Responsabilidade. Este projeto, estrela de seu mandato, que termina em 2017, inclui cortes de 18 bilhões de euros (mais de 54 bilhões de reais) na administração central, 11 bilhões na regional, 21 bilhões no terreno social (10 bilhões em saúde, 3 bilhões na previdência social e 8 bilhões em ajudas sociais). O plano também inclui descontos para empresas num total de 40 bilhões em contribuições sociais e impostos, assim como redução de descontos fiscais para os salários mais baixos ou o congelamento das pensões que forem superiores aos 1.200 euros mensais (3.600 reais).

"A condição para tomar medidas é o diálogo, mas chegando o momento, eu decido", afirmou ao se referir às discrepâncias que estão surgindo. A última veio na última quinta-feira do ministro da Economia, Arnaud Montebourg, que se mostrou partidário de que os esforços do plano reformista sejam divididos em três partes iguais para reduzir o déficit, melhorar a situação das empresas e favorecer as famílias, de forma que não sejam as empresas as maiores beneficiadas. Sua posição foi apoiada pelos 40 deputados socialistas rebeldes que não apoiaram as primeiras leis reformistas.

As pesquisas também são desfavoráveis nestes meses a Hollande, que sofre o apoio mais baixo entre todos os chefes de Estado. A última pesquisa publicada no domingo pelo Le Parisien indica que só um em cada quatro franceses o apoia, enquanto que sete em cada dez pessoas acham que a França estará pior em 2017 do que agora.

 A condição para tomar medidas é o diálogo, mas chegado o momento, eu decido. François Hollande

Apesar de tudo, Hollande reafirma que seguirá no caminho empreendido. "A França não pode esperar", argumenta. O presidente opina que já se detectam alguns sintomas de recuperação, "mas ainda são muito fracos", acrescenta. Por isso, louva a aceleração que aplica seu primeiro-ministro, Manuel Valls, a esse Pacto de Responsabilidade desde que tomou posse do cargo em março. "Eu o designei por sua eficácia, por sua capacidade de organização e por sua rapidez." "Alguém acha que eu nomearia um primeiro-ministro para que fizesse uma política que eu não quisesse?", indicou para responder àqueles que sustentam que Valls está indo longe demais nas reformas. "Nada nos separa em nossos objetivos", enfatizou.

O presidente francês sustenta que, apesar de que seu plano inclui sacrifícios, não chegará aos limites alcançados por outros países europeus, como Alemanha fez há uma década ou Espanha agora, embora não tenha citado nenhum exemplo. Reconheceu que alguns desses países jã estão recolhendo frutos. "Mas, a que preço?", perguntou para se referir depois a reduções salariais ou cortes na Educação que a França não prevê fazer.

Junto com o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, Hollande empreendeu uma batalha em Bruxelas para que a UE dê preferência ao crescimento sobre a austeridade. "A França fez sua parte nos esforços", diz, "mas depois de feitas as reformas é preciso que tenhamos mais margem." "Não vamos arruinar a recuperação com políticas de austeridade." A França está hoje sob vigilância especial de Bruxelas, que exige que diminua o déficit para 3% (este ano acabará em 3,8%) depois de ter ampliado em dois anos o prazo para que consiga isso.

O presidente francês fez estes comentários nas redes de televisão TF1 e France 2 depois do grande desfile militar por Champs Elysées, dedicado especialmente este ano ao centenário da I Guerra Mundial. Nos atos participaram representantes de 80 países, incluída a Argélia, fato criticado pela Frente Nacional.

Ao concluir sua intervenção, Hollande insistiu em que não vai recuar em seu programa reformista. "As reformas significarão uma mudança para a França. Quero que digam de mim: fez tudo o que disse que ia fazer. Um país é forte quando tem uma dinâmica clara. Quando temos dúvidas, perdemos credibilidade."

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