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O Brasil, pela força

Jogando firme e com gols dos zagueiros Thiago Silva e David Luiz, a seleção Canarinho elimina uma Colômbia dominada no começo e sem tempo no final

José Sámano
Marcelo e David Luiz consolam James.
Marcelo e David Luiz consolam James.Laurence Griffiths (Getty)

Com jeito ou com força. Assim é este novo Brasil do general Scolari, já na semifinal graças aos seus zagueiros, Thiago Silva e David Luiz, autores dos dois gols dos donos da casa. Num time sem jogadas, a defesa dá as ordens. A Colômbia ficou no vácuo, parca e dominada no começo e sem tempo para uma virada no final. Foi tão curta esta última etapa para os cafeteros como a Copa para James, o diamante lapidado neste mês, que se despede com tantas lágrimas quanto hematomas nas pernas. Este Brasil pode ostentar resultados, mas seu desapego pelo encanto que o distinguia é desanimador. É hoje uma equipe de armadura tosca, pernas de mármore e batedora demais: fez uma falta a cada três minutos, sem que aparentemente o árbitro, o espanhol Velasco Carballo, prestasse atenção à contabilidade. Tampouco percebeu a estocada de Zúñiga na coluna de Neymar, que obrigou o brasileiro a deixar o jogo de maca.

Logo de saída, não se via a tão badalada Colômbia, e sim uma equipe pálida, presa, com chumbo na cabeça e nos pés. Com o garrote na mão e muita voltagem, o Brasil encapsulou o seu adversário, sustentado por seu goleiro Ospina, a quem esse incrível Hulk de chuteiras fuzilou em mais de uma ocasião. Hulk, coberto de músculos, simboliza esta seleção Canarinho de bucaneiros, uma equipe transformada em um comboio de tanques. Na base da força, como se a cada disputa a Terceira Guerra Mundial estivesse a um passo, o Brasil, com seu futebol machão, submeteu o seu rival, incapaz de apanhar o fio da meada no jogo. Inferior no corpo a corpo, a Colômbia não conseguiu impor suas virtudes e, até o segundo tempo, o roteiro sempre foi brasileiro.

O grupo de Pékerman não conseguia recrutar James, contra quem Scolari havia encomendado um mandado de prisão. O primeiro encarregado de contê-lo era Fernandinho; em caso de necessidade, juntava-se qualquer um que estivesse à sua sombra. O objetivo: deixar James no chão. O árbitro espanhol fez pouco caso, mas não perdeu a chance de advertir o astro colombiano por uma bobagem em comparação ao tanto de pancadas que ele sofreu. Curiosamente, antes do gol de David Luiz, com mais de 40 faltas computadas (25 delas brasileiras), James e Yepes já haviam levado o amarelo. Pelo Brasil, só Thiago Silva, que ficará de fora da semifinal contra a Alemanha. O árbitro madrilenho contemporizou com o time local até com o spray, que nem sempre foi uma fronteira para a barreira brasileira.

O Brasil joga na pressão, com os tambores a todo vapor. E ainda mais nas áreas, que transforma em um fosso de crocodilos. Em território próprio ou alheio, seus zagueiros marcam a linha. Foi assim que, no primeiro escanteio cedido, o Brasil desfigurou a defesa cafetera. Neymar bateu um córner antes dos dez minutos, atacantes e defensores caçaram moscas, e a bola caiu junto a Thiago Silva, que marcou de joelhada. Uma vantagem rápida era o melhor que podia acontecer a este Brasil que chegava com tantas angústias. A Colômbia sentiu o baque e rapidamente percebeu que era um forasteiro em um terreno inóspito, que era preciso aceitar a partida golpe após golpe, e que nem sempre haveria um juiz para interromper o combate.

Com James amarrado pelo selvagem meio-campo local, o Brasil foi uma avalanche no primeiro tempo, e só Cuadrado conseguiu chutar na direção de Júlio César. Com Oscar mais centrado e Maicon no lugar de Daniel Alves com a lateral direita a seus pés, a Colômbia sofreu o assédio por todos os cantos, com sua retaguarda se embaralhando a cada investida de Hulk junto a Marcelo, ou a cada dança de Neymar. Os colombianos não encontravam uma solução. E, quando encontraram, já pareciam definitivamente condenados.

O árbitro sancionou a James Rodríguez por uma parvulada em relação com a lenha recebida

O conjunto de Pékerman começou o segundo tempo com maior desenvoltura, e o Brasil, mais recolhido – o que pelo menos lhe garantia a possibilidade de disputar o jogo longe da sua meta. Os centuriões do Scolari não abriam caminhos até Julio César, mas de Ospina tampouco se ouvia falar. Os colombianos rasgaram a fantasia. Deram uma olhada para frente e equilibraram o jogo. No melhor momento colombiano, Yepes, seu capitão, resolveu uma descomunal trama na área, mas um assistente invalidou o gol ao acertar um impedimento por uma unha no começo da jogada. Imediatamente, com o Brasil hesitante, de novo um zagueiro foi ao socorro. A léguas de Ospina, David Luiz traçou um gol sensacional. A pancada dele ao bater uma falta fez a bola desviar de rumo já durante o seu voo na direção das redes. Um golaço.

Brasil carrega com todo e converte as áreas em um feudo de cocodrilos

À seleção colombiana restou apenas o empenho de James Rodríguez, um grande jogador, por sua enorme classe e porque, com sua juventude, não se deixou anular por Fernandinho. Aguentou rangendo os dentes e remou o quanto pôde para encurtar distâncias num pênalti maiúsculo do goleiro Julio César sobre Bacca. James converteu, e a Colômbia lutou até onde pôde – só que morreu na praia. E morreu chorando como um chafariz, embora tenha todo um mundo pela frente para brigar pelos tronos.

Por enquanto, a isso aspira este Brasil de corsários, em que o gol também é assunto para os zagueiros. Como havia sido horas antes com a Alemanha, o seu próximo adversário. E uma ideia antinatural: a Alemanha quer a bola, que o velho Brasil adorava, enquanto o Brasil prefere os corpanzis que distinguiam a antiga Alemanha. O futebol virou pelo avesso.

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