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O mais emblemático preso do chavismo suspende sua greve de fome

Iván Simonovis, cuja libertação é negociada entre Governo e oposição, queria pressionar um tribunal a decidir sua soltura

Portada da autobiografía de Simonovis
Portada da autobiografía de Simonovis

O ex-delegado de polícia venezuelano Iván Simonovis, considerado pela oposição um preso político do chavismo, anunciou domingo que suspenderá a greve de fome iniciada na terça-feira passada. Simonovis deixou de ingerir alimentos como medida de pressão sobre um tribunal que deveria decidir se o libertava por motivos de saúde, mas estava demorando muito. Embora a juíza que conduz o caso lhe tenha negado a liberdade, o preso decidiu voltar atrás, porque ao menos tinha recebido uma resposta.

A oposição impôs sua libertação como uma das condições para retomar o diálogo com o Governo, que foi suspenso no início de maio. Em abril, as partes concordaram que se formasse uma junta médica para que, com a confirmação de seus problemas de saúde, ele fosse libertado. Embora tenha inicialmente aceitado essa solução, o regime decidiu recuar por temer o impacto que essa medida poderia ter em sua minguada popularidade, que tem caído nas últimas semanas por causa da crítica situação econômica. A negativa do Poder Judiciário, cuja independência sempre foi questionada pela oposição e por organizações como o Human Rights Watch, também cria obstáculos para que se reiniciem as conversações.

A negação de liberdade não foi, é claro, a resposta que Simonovis e sua família esperavam. A juíza Eda Armas, do Primeiro Tribunal de Execução do estado de Aragua (no centro da Venezuela), decidiu mantê-lo preso sob a alegação de que ele se encontra “em condições gerais estáveis”. A mulher de Simonovis, Bony, e seus advogados afirmam que o ex-funcionário da polícia científica sofre de sérios problemas de saúde que ameaçam sua vida.

A defesa de Simonovis, que foi condenado a 30 anos da prisão em 2009 como um dos responsáveis pelas mortes ocorridas na véspera de um golpe contra Hugo Chávez em abril de 2002, informou na sexta-feira que a juíza Armas tinha tomado sua decisão sem levar em conta os exames apresentados pela defesa, nem o critério da junta que as partes tinham concordado em criar. Ao criticar a decisão da juíza, o advogado José Luis Tamayo afirmou que nos registros só constam os relatórios médicos feitos em setembro de 2013.

Desde então, a saúde de Simonovis piorou. Em janeiro, ele foi internado de emergência no Hospital Militar de Caracas com enterocolite aguda e desidratação. Os médicos recomendaram operá-lo, mas não o fizeram para evitar complicações em sua saúde. O ex-delegado voltou para sua cela na prisão de Ramo Verde, nos arredores da capital venezuelana, onde também está detido o líder opositor Leopoldo López.

O padecimento de Simonovis deixou de ser um assunto exclusivo de seus familiares para atrair a atenção de todo o país. O ex-delegado foi detido em 2004 juntamente com a hierarquia da extinta Polícia Metropolitana de Caracas. Seu julgamento foi qualificado como o mais longo da história judicial do país e o caso acumulou cerca de 8.000 páginas. A defesa assegurou que o Estado nunca pôde provar a responsabilidade de Simonovis em duas das mortes daquele 11 de abril de 2002. Esse ponto de vista parece ter sido confirmado quando o magistrado do Supremo que revisou a sentença, Eladio Aponte Aponte, hoje foragido da Justiça venezuelana, assegurou em uma entrevista que o falecido Chávez tinha ordenado condenar Simonovis e outros oito funcionários policiais.

O chavismo pareceu preparar o terreno para a medida ditada na sexta-feira. Nas últimas transmissões de seu programa “Em contato com (Nicolás) Maduro”, o presidente venezuelano convidou os familiares das vítimas de abril de 2002 a falar como sobrevivem sem seus entes queridos. “Justiça é o que tem de haver aqui”, afirmou Maduro em seu programa mais recente, em 27 de maio. Os parentes agrupados na oficialista Associação de Vítimas do 11 de Abril não querem que o Governo anistie Simonovis.

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