A Europa se mobiliza para salvar as eleições ucranianas
A Rússia acha que as eleições não fazem sentido no atual quadro de violência
A violência que se propaga com rapidez pela Ucrânia ameaça seriamente as eleições presidenciais, previstas, como as da União Europeia, para o dia 25 de maio. A diplomacia do continente intensifica seus contatos para manter o dia das eleições no calendário. Representantes de todos os Estados europeus —salvo a Rússia—, membros da OSCE (a Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa, que realiza tarefas de observação na Ucrânia) e destacados mandatários dos Vinte e Oito defenderam na segunda-feira essas eleições como antídoto contra o abismo na Ucrânia.
Os ministros das Relações Exteriores destacaram a necessidade de se respeitar os direitos das minorias no país, em clara alusão aos russos
“Se não ocorrerem, será o caos e haverá risco de guerra civil”, advertiu o presidente francês, François Hollande, em Paris. Uma “grande maioria de países europeus”, em palavras do ministro britânico das Relações Exteriores, William Hague, defende por garantir o voto dos ucranianos no próximo dia 25. Tanto Hague como o restante dos ministros do Conselho da Europa (a organização que vela pelos direitos humanos no continente, com 47 países associados) subscreveram um comunicado que sublinha a “importância essencial de eleições presidenciais livres e justas”. E também o “importante passo” que representam na “consolidação do progresso democrático do país”. Só a Rússia, também membro desta organização, se negou a respaldar a realização das eleições.
Como contrapartida a esse apoio eleitoral, os titulares das Relações Exteriores destacaram também a necessidade de respeitar os direitos das minorias no país, em clara alusão aos russos. Foi a principal conclusão do encontro que o Conselho da Europa realizou em Viena, com os olhos voltados para a Rússia.
As eleições precisam de mais segurança para que as pessoas possam votar Didier Burkhalter, presidente de turno da OSCE e ministro das Relações Exteriores suíço
Fora da reunião, o ministro russo das Relações Exteriores, Serguéi Lavrov, expressou as suas objeções. “Realizar as eleições em um momento em que o Exército está dispersado contra uma parte da população é bastante incomum”, ironizou em uma coletiva de imprensa. O encontro de Viena encenou com clareza a falta de entendimento entre russos e ucranianos, apesar de que ambas delegações se escutaram mutuamente na reunião conjunta. O chefe da diplomacia ucraniana, Andréi Deschitsa, se mostrou a favor de realizar outra rodada de diálogo (depois da estagnação dos acordos de Genebra, impulsionados pelos Estados Unidos e a UE) se Moscou apoiar as eleições. Lavrov condicionou esse diálogo à permissão da participação de representantes das zonas pertencentes à Rússia. E o ministro ucraniano descartou essa possibilidade de imediato com o argumento de que seu Governo já representa todo o país e que tampouco o resto de interlocutores envia porta-vozes de suas minorias.
Enquanto isso, a diplomacia europeia tenta conseguir o apoio da Rússia às eleições ucranianas com uma contrapartida: potencializar a maior autonomia das zonas de influência russa acelerando as mudanças na Constituição. A oferta, por enquanto, não suscita o entusiasmo de Moscou, peça-chave para que as eleições possam ocorrer.
Consciente de que a situação no terreno não favorece a via democrática, o presidente de turno da OSCE e ministro das Relações Exteriores suíço, Didier Burkhalter, pediu o cessar fogo. “As eleições precisam de mais segurança para que as pessoas possam votar”. Bulkhalter viajará na quarta-feira para Moscou para se reunir com Lavrov.
As turbulências na Ucrânia preocupam também o Ocidente pelo impacto no fornecimento energético. Os ministros do ramo do G-7 (os sete países mais industrializados do mundo) mostraram-se nesta segunda-feira “extremamente preocupados” com essas consequências e pediram que a energia “não seja usada como forma de coação política nem como ameaça à segurança”.
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