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Uma cobertura de luxo para o cardeal Bertone

O ex-secretário de Estado do Vaticano ocupará um apartamento de 700 metros quadrados ao lado do quarto de 70 metros do papa Francisco

Bertone viverá com as três freiras que o auxiliam desde 2006.
Bertone viverá com as três freiras que o auxiliam desde 2006.Stefano Rellandini (REUTERS)

Na guerra de poderes que sacudiu o Vaticano nos meses anteriores à renúncia de Joseph Ratzinger, retransmitida graças ao vazamento de sua correspondência privada, os papéis ficaram —até onde é sabido— muito bem divididos. O L’Osservatore Romano atribuiu a Bento XVI o título de “o pastor cercado por lobos”, um Papa tímido cujo único grande golpe dado na mesa foi o de sua renúncia. Houve um ladrão com cara de bode expiatório –Paolo Gabriele, o fiel mordomo– e um banqueiro honesto que, diante da dificuldade de um papel em geral tão contraditório, foi tomado como louco e demitido —Ettore Gotti Tedeschi. Também havia um bom elenco de coadjuvantes de luxo –elegantes padres que iam e vinham com maletas misteriosas e mandavam cartas advertindo de um suposto atentado contra o Papa— e, sobretudo, o papel principal de mau, costurado pelo então secretário de Estado, o todo-poderoso cardeal Tarcisio Bertone.

A providencial chegada de Jorge Mario Bergoglio ao Vaticano acalmou de imediato as águas. O assunto das guerras vaticanas foi relegado ao esquecimento como um pesadelo e os protagonistas desapareceram do cenário com tanta discrição que nunca pareciam ter existido. Sem perder o sorriso —ao menos em público—, Francisco aposentou de suas funções Bertone, que desde então permanecia à margem dos holofotes. Até agora. A imprensa italiana informa que o cardeal está construindo uma cobertura de quase 700 metros quadrados no palácio de São Carlos, um edifício do Vaticano situado justo ao lado da residência de Santa Marta, onde o papa Francisco ocupa um quarto duplo que não supera os 70 metros quadrados. Asseguram que, além disso, Bergoglio —“que desejaria uma Igreja pobre e para os pobres”— está vermelho de “raiva” pela “megacobertura” do super cardeal. Até o momento, a Santa Sé não deu a sua versão, porque talvez na Itália tenha se comemorado ontem a Segunda-Feira Santa ou “pasquetta” e há poucas coisas mais sagradas que esse dia de tradicional descanso em família.

A cobertura de Bertone, que pelo que parece já está quase terminada, seria o resultado da união de dois apartamentos espaçosos, um deles ocupado durante mais de duas décadas por Camilo Cibin, chefe da polícia vaticana com João Paulo II, e o outro pelo arcebispo Bruno Bertagna, um alto mandatário da Cúria que faleceu em outubro passado. Bem é verdade que Bertone não se mudará sozinho, senão em companhia das três freiras que o auxiliam desde que, em 2006, Bento XVI o nomeou secretário de Estado. Em qualquer caso, e até que Francisco não tenha começado a lançar –pregando com o exemplo— suas repetidas mensagens de austeridade e simplicidade, na Santa Sé se via com absoluta normalidade que os cardeais dispusessem de grandes apartamentos, dentro ou fora dos muros da cidade do Vaticano, e uma vida de luxo que inclui carros oficiais, secretários e religiosas para as tarefas domésticas. Mas agora, ao menos no papel, o roteiro mudou. De fato, na Quinta-Feira Santa, Jorge Mario Bergoglio dirigiu-se aos sacerdotes na basílica de São Pedro para advertir que não devem ser “suntuosos nem presunçosos”. Talvez Bertone não o tenha ouvido com o barulho das obras.

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