O Papa se mostra consternado com os linchamentos na Argentina
“Sentia os chutes na alma”, escreveu Francisco a dois amigos sobre a morte de um jovem espancado em Rosário
O papa Francisco expressou a dor que sentiu ao saber do linchamento do jovem David Moreira, de 18 anos, morto na cidade de Rosário, ao norte de Buenos Aires na terça-feira dia 25 de março, depois da surra que recebeu três dias antes de vários vizinhos que o flagraram roubando a bolsa de uma mulher. Moreira ia de moto com um amigo. O amigo fugiu, mas sobre ele caiu uma surra pesada de dezenas de vizinhos. Aquele ato de barbárie não serviu como lição à sociedade, já que teve réplicas em outras cidades do país onde mais de dez supostos ladrões pegos em flagrante apanharam de pedestres. A única pessoa morta, até o momento, é Moreira. Uma parte da surra que sofreu pode ser vista em um vídeo arrepiante de poucos segundos. O Papa se refere a ele em uma carta dirigida aos irmãos argentinos Rodolfo e Carlos Luna, que moram na Suécia, responsáveis pela publicação da missiva no Facebook.
Na carta, Francisco lamenta: "A cena doeu em mim. Fuenteovejuna, eu me disse. Sentia os chutes na alma. Não era um marciano, era um rapaz de nosso povo; é verdade, um delinquente. E me lembrei de Jesus. O que ele diria se estivesse de árbitro ali? Quem esteja livre de pecado que dê o primeiro chute". Na mensagem fez referência à obra publicada no século XVII de autoria do espanhol Lope de Vega, Fuenteovejuna, que conta a história de um povo que se une para se vingar da tirania e injustiça a que é submetido.
Carlos Luna relatou à Radio Vorterix que enviou para o Papa a documentação sobre o linchamento no último sábado e no dia seguinte, no domingo, recebeu sua carta.
"Me doía tudo", lamentava Francisco, "me doía o corpo do rapaz, me doía o coração dos que o chutavam. Pensei que esse garoto foi feito por nós, cresceu entre nós, foi educado entre nós. O que falhou? O pior que pode acontecer é que nos esqueçamos da cena. E que o Senhor nos dê a graça de poder chorar... chorar pelo rapaz delinquente, chorar também por nós".
Os sucessivos linchamentos geraram declarações de todo tipo por parte dos políticos argentinos. A presidenta, Cristina Fernández de Kirchner, evitou pronunciar a palavra "linchamento" mas fez um chamado em várias ocasiões para evitar a violência. Em um discurso emitido na terça-feira pela emissora nacional -isto é, em todos os canais de rádio e televisão-, disse: "Uma das coisas que nos distinguem do Reino Animal é poder falar, embora alguns não pareçam porque falam. Mas realmente o que nos distingue verdadeiramente do resto da escala animal é que podemos pensar, raciocinar e falar. Não percamos, por favor, esses traços que nos distinguem como humanidade, ainda que tenhamos que enfrentar dificuldades ou fatos que nos provocam raiva e indignação. Transformemos isso".
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.