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A UE avisa a Rússia de que haverá consequências pela consulta “ilegal”

Os ministros de Exteriores se dispõem a impor nesta segunda-feira as primeiras multas a Moscou

Lucía Abellán
Um veterano do Maidan ante um cartaz que diz: "Ajudem a Ucrania, parem a guerra".
Um veterano do Maidan ante um cartaz que diz: "Ajudem a Ucrania, parem a guerra".ROBERT GHEMENT (EFE)

A União Europeia não precisou sequer que fechassem as urnas na Crimeia para se pronunciar sobre a votação. O referendo orquestrado pelas autoridades dessa região para se separar da Ucrânia e se anexar à Rússia é “ilegal, ilegítimo e seu resultado não será reconhecido”, advertiram no meia tarde o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, e o do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, em um comunicado. Mais que as autoridades da Crimeia, a mensagem se dirigia à Rússia, cujo o presidente, Vladimir Putin, é apontado como culpado pela escalada de tensão nesse território. O comunicado avançava o que previsivelmente farão hoje os ministros de Exteriores da UE: adotar pela primeira vez multas contra a Rússia. 

A inquietude que o problema ucraniano suscita em toda Europa é palpável em cada declaração pública. Para além da Crimeia, o ministro alemão de Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, considera que a Ucrânia em seu conjunto está “em perigo de incêndio” pelo risco de que o conflito se estenda à zona este do país, também sob influência russa. “A Rússia se negou até agora a toda opção para dar uma saída à situação”, argumentou o chefe da diplomacia alemã, em declarações ao dominical Welt am Sonntag.

Mais direto, seu homólogo francês, Laurent Fabius, urgiu a Rússia a tomar “medidas imediatas” para reduzir as tensões “perigosas e sem sentido na Ucrânia”. O responsável pelos Exteriores britânico, William Hague, concluiu: “O referendo é uma farsa”.

Conscientes de que Putin se mostrou pouco receptivo aos múltiplos alerta similares enviados desde o Ocidente, os representantes diplomáticos dos Vinte e oito para a política exterior ultimavam ontem à noite as anunciadas multas contra Moscou. Consistem basicamente em identificar um grupo de cidadãos (ao redor de uma centena, segundo as primeiras estimativas, entre os que há menos de 10 ucranianos e o resto são russos) como responsáveis pelas anomalias ocorridas na Crimeia. Como castigo, se os proíbe entrar na UE e se congelam os ativos que tenham nos países membros. Os embaixadores propunham também suspender a próxima cúpula União Europeia-Rússia, prevista para o mês de junho em Sochi.

Ante o temor de que Putin endureça sua atuação na Crimeia depois do resultado do referendo, os ministros pedirão hoje abertamente a Moscou que não anexe a Crimeia e apelarão às oportunidades que existem para evitar uma maior deterioração da situação. Se esses apelos não funcionarem, os titulares de Exteriores ameaçarão com “consequências adicionais e de longo alcance para as relações [entre os dois blocos] em uma larga gama de áreas econômicas”, segundo o rascunho de conclusões que hoje debaterão os ministros. O texto adverte Moscou do risco de “se isolar mais diplomaticamente e economicamente”.

Embora o documento não as mencione, entre essas medidas adicionais figuram possíveis restrições à exportação de produtos russos, denúncias ante a Organização Mundial de Comércio por discrepâncias que agora se resolvem mediante o diálogo e uma maior diversificação das fontes de energia para reduzir a dependência europeia de Moscou.

A OTAN sofre um ciberataque

L. A.

A consulta da Crimeia desencadeou neste domingo uma guerra cibernética entre alguns dos protagonistas do conflito. O site da OTAN permaneceu bloqueado durante várias horas por causa de um ataque reivindicado por piratas informáticos ucranianos autodenominados Ciberberkut, segundo informa France Presse. O nome faz referência às Berkut, forças especiais ucranianas dissolvidas pelo novo Governo de Kiev como a cara mais visível da repressão no Maidán. A porta-voz da Aliança Atlântica, Oana Lungescu, explicou em sua conta de Twitter que o ataque não tinha consequências para o funcionamento da organização nem para a salvaguarda dos dados.

Horas antes, os boicotes na rede alcançava também ao lado russo. As páginas de Internet do Kremlin, do Ministério de Assuntos Exteriores russo, do banco central e da agência pública de informação Ria Novosti foram vítimas de ataques informáticos, segundo admitiram seus responsáveis. De menor envergadura, o portal criado pela autoridade separatista de Crimeia para seguir o escrutínio do referendo permaneceu bloqueado durante uma hora. As autoridades pró-Rússia dessa região disseram que os sabotadores eram de uma universidade norte-americana.

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