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Jorge Wilheim, o urbanista que projetou cidades brasileiras

Morre nesta sexta-feira um dos principais urbanistas do país, que deixa como legado projetos grandiosos em mais de 20 municípios

Jorge Wilheim durante entrevista ao Roda Viva, em fevereiro de 2013.
Jorge Wilheim durante entrevista ao Roda Viva, em fevereiro de 2013.

Um dos principais nomes do urbanismo no Brasil, o arquiteto Jorge Wilheim, de 85 anos, morreu nesta sexta-feira em São Paulo em decorrência de um acidente de trânsito que aconteceu em dezembro. Nascido em Trieste, na Itália, descendente de judeus húngaros, Wilheim se mudou com a família para o Brasil em 1940, aos 11 anos de idade, em meio a II Guerra Mundial.

Apesar de ter nascido na Europa, fazia questão de dizer que era brasileiro. Na biografia que consta do site de seu escritório profissional ele não cita suas outras nacionalidades, apenas a que adotou com o tempo.

Na capital paulista ele fez os projetos de revitalização de dois cartões postais da cidade o Pateo do Collegio (que era seu maior orgulho) e o Vale do Anhangabaú

Formado no Mackenzie, em São Paulo, participou da elaboração de mais de duas dezenas de projetos urbanísticos e planos diretores de cidades espalhadas por vários Estados do país, como . Atuou em obras no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Norte e Bahia.

Mas foi no Estado em que escolheu para viver, São Paulo, que Wilheim mais se destacou. Na capital paulista ele fez os projetos de revitalização de dois cartões postais da cidade o Pateo do Collegio (que era seu maior orgulho) e o Vale do Anhangabaú, ambos na região central. Foi também o responsável pelos projetos do Parque Anhembi do Clube Hebraica e do Hospital Albert Einstein, local este onde ele ficou quase dois meses internado até falecer.

Um fato curioso é que em sua biografia Wilheim não destacava apenas as vitórias, mas também as derrotas. Em um dos trechos publicados em seu site, ele cita que participou do concurso da elaboração do plano piloto da capital federal, Brasília, construída durante a gestão de Juscelino Kubitschek. O projeto vencedor foi o de outros ícones da arquitetura e do urbanismo brasileiro, Lucio Costa e Oscar Niemeyer.

Um fato curioso é que em sua biografia Wilheim não destacava apenas as vitórias, mas também as derrotas. Em um dos trechos publicados em seu site, ele cita que participou do concurso da elaboração do plano piloto da capital federal, Brasília

Pela capacidade técnica e pelos bons contatos políticos (independentemente do partido), Wilheim também atuou diretamente junto ao poder público. No governo do Estado foi secretário estadual de Economia e Planejamento de São Paulo (de 1975 a 1979, no governo de Paulo Egydio Martins) e de Meio Ambiente (entre 1987 e 1991, na gestão Orestes Quércia), além de presidente da Empresa Metropolitana de Planejamento da Grande São Paulo (de 1991 a 1994, governo Fleury Filho). Assumiu, ainda, a presidência da Fundação Bienal de São Paulo, em 1985. Na prefeitura ocupou o cargo de secretário de Planejamento em duas ocasiões nas quais se reportava a prefeitos que eram de partidos adversários. Entre 1983 e 1986,trabalhou na gestão Mario Covas (PSDB), e de 2001 a 2004, no mandato de Marta Suplicy (PT).

Durante seus mais de 60 anos de carreira, o urbanista foi autor o coautor de 25 publicações, entre livros técnicos e capítulos de obras. Nos últimos anos, a pedido do Ministério do Esporte elaborou análises sobre o legado das Olimpíadas de 2012, de Londres, e participou de júris sobre propostas do parque olímpico do Rio, que sediará os jogos em 2016.

Repercussão

A ex-prefeita Suplicy, que hoje é ministra da Cultura, disse por meio de uma nota que Wilheim era um dos grandes homens públicos do Brasil. “Deixa enorme vazio pela sua lucidez, visão de mundo, competência e seriedade.”

O crítico Guilherme Wisnik, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, disse ao jornal Folha de S. Paulo, que o Estado perdeu um de seus mais ativos e influentes urbanistas. Em seu blog, o jornalista e arquiteto Silvio Lancelotti, um dos amigos do urbanista, afirmou que parecia uma imbecilidade um urbanista que projetou tantas cidades morrer em consequência de um “prosaico acidente de trânsito”. Como homenagem ao amigo, Lancelotti relatou uma das lições que Wilheim deu a ele. Não era de arquitetura, nem de como planejar uma cidade desde sua fundação, mas sim de que uma pizza deveria ser comida as mãos, não com talheres.

O corpo do urbanista foi enterrado na tarde desta sexta-feira no Cemitério Israelita, no Butantã, zona sul de São Paulo. Deixa viúva, dois filhos e netos.

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