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O Brasil sufocou Nelson Mandela de “tanto amor”

Os ex-presidentes Lula e FHC sempre foram prestigiados por Madiba. E o povo brasileiro não economizou carinho para prestigiá-lo em suas duas visitas ao país

Carla Jiménez
Lula da Silva e Nelson Mandela em 2008.
Lula da Silva e Nelson Mandela em 2008.Ricardo Stucker

Não é fácil encontrar outro Nelson Mandela, vaticinou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ao falar do líder sul-africano, de quem recebeu uma carta-convite para integrar o The Elders, um grupo seleto de lideranças mundiais, que inclui o ex-presidente americano Jimmy Carter, e o ex-secretário geral da ONU, Kofi Annan. O ex-presidente Lula também deveria integrar esse time, mas não pôde conciliar sua agenda com as viagens do The Elders. Lula, entretanto, tinha um lugar especial no coração de Mandiba. Em 2008, ele interrompeu sua reclusão voluntária, depois de quatro anos afastado da vida pública. Mandela estava com a saúde debilitada, mas não resistiu ao pedido do ex-presidente de visitá-lo em pleno retiro.

Em (mais) uma atitude generosa, o líder da África do Sul recebeu Lula por 15 minutos em Maputo, e ainda pousou para fotos com o ex-presidente brasileiro. “Estou muito honrado com a visita de Lula”, afirmou para os jornalistas que esperavam a saída apenas de Lula, e se surpreenderam com a aparição de Mandela, andando de bengala, apoiado ao presidente brasileiro. Eram dois ícones mundiais, que se tornaram referência no século 20 e 21. Mandela era o idealista que resistiu a 23 anos de prisão, e que trabalhou para superar a segregação na África do Sul. Lula, o ex-operário que superou a pobreza e promoveu a distribuição de renda no seu país.

Em uma declaração logo após a morte do líder africano, o ex-presidente fez menção a suas trajetórias. “O grande legado do Nelson Mandela foi fazer com que o povo negro da África do Sul descobrisse uma coisa que parece simples, mas não é simples: de que se a maioria do povo era negra, não tinha nenhum sentido a minoria branca continuar governando aquele país. E isso foi uma coisa extraordinária. As pessoas se descobriram por uma força motora capaz de mover a sociedade. E eu estou falando do Nelson Mandela porque acontecia comigo a mesma coisa e aconteceu com o Evo Morales”. Lula resumiu, em nota, a maneira carinhosa como o mundo sentiu Mandela. “Foi uma coisa boa que dez vez em quando Deus projeta nas nossas vidas.”

Mandela tinha lugar de honra no Brasil, onde foi sufocado de “tanto amor”, segundo ele próprio, em sua primeira visita ao país em 1991, recém-libertado, quando buscava apoio internacional para assumir a presidência do seu país. Seu sorriso marcante ficou ainda mais vívido diante de milhares de pessoas que o receberam na praça da Apoteose, no Rio de Janeiro. Estava ao lado da sua segunda mulher, Winnie Mandela, e foi ciceroneado pelo cantor Martinho da Vila, que compos uma música em sua homenagem.A segunda viagem ao Brasil aconteceu em julho de 1998, numa visita oficial ao ex-presidente Fenrnando Henrique, quando ambos cumpriam os últimos anos de seus mandatos – FHC seria reeleito no ano seguinte, e Mandela reduziria a marcha, pois tinha, na época, 80 anos.

Mais uma vez, Lula, então líder do PT, deu um jeito de se encontrar com Mandela, apesar da sua viagem curta de apenas de três dias. Quando assumiu a presidência, em 2003, o presidente petista investiu para aprofundar as relações comerciais com a África do Sul e todo o continente africano. Mas isso já é outra conversa. Mandela era negro, e superou as adversidades da sua vida. Foi sempre um espelho para os brasileiros mais sofridos, que enxergavam nele a grandeza de sobreviver e ir além dos seus limites sempre. O presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, o primeiro negro a presidir a mais alta côrte no Brasil, fez menção à inspiração que Mandela personificava. “O mundo ficou mais pobre de referências de coragem, dignidade e obstinação na defesa das causas justas”. 

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