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Por que Anna Karina se divorciou de Godard

A atriz recém-falecida disse diversas vezes que seu casamento não era um mar de flores

Anna Karina duranteas gravações de 'O Demônio das Onze Horas' (1965), de Jean-Luc Godard.
Anna Karina duranteas gravações de 'O Demônio das Onze Horas' (1965), de Jean-Luc Godard.

Anna Karina, que morreu em Paris neste sábado, aos 79 anos, provavelmente deve a Jean Luc Godard toda a sua carreira no cinema e o status de novo ícone da nouvelle vague: foi ele quem a descobriu em um anúncio de produtos de banheiro e ficou obcecado até conseguir que ela estrelasse O pequeno soldado, um filme sobre a guerra na Argélia que seria o primeiro de muitos. Ele já havia tentado que ela fizesse parte do elenco de Acossado, mas a atriz rejeitou o papel porque precisaria se despir. Godard não entendeu aquela objeção na época: ele disse a ela que já a tinha visto nua naquele anúncio em que a notara.

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A atriz respondeu que o suposto nu fazia parte de sua imaginação: no anúncio em que ela apareceu dentro de uma banheira, ela só exibiu um ombro e usava um maiô debaixo d'água.

No entanto, Anna Karina também deve a Godard alguns dos piores momentos de sua vida. Quando eles começaram o romance, em 1959, ela ainda tinha 18 anos. “Estávamos filmando O pequeno soldado e ele me ligou para encontrá-lo à meia-noite no café Prez. Eu tinha um relacionamento com outro homem, mas não pude evitar, não consegui me afastar dele. Eu estava totalmente fascinada. Perdi todos os meus amigos daquela época porque eles gostavam muito mais do meu outro namorado ”, disse a atriz à revista Vogue há apenas dois anos, ao lembrar as origens de seu relacionamento com o diretor.

Karina e Godard se casaram em 1961 porque ela engravidou, mas acabou perdendo o filho. O relacionamento estava longe de ser perfeito, como ela contou em diferentes ocasiões. Em 2016, ela disse ao The Guardian que tinha dificuldade em entender o comportamento errático de seu marido da época, que se ausentava sem explicação prévia: "Ele era capaz de dizer que estava saindo para fumar e não aparecer em três semanas”.

Contou a mesma coisa um ano depois, em sua entrevista para a Vogue, quando deu ainda mais detalhes: "Naquele momento, tudo o que se podia fazer era ficar ao lado do telefone e esperar uma ligação. Quando ele desapareceu, ela pensou em tudo, que qualquer coisa poderia ter acontecido com ele. Soube, então, que talvez ele tivesse ido à Itália ver Roberto Rossellini, ou que havia saído para ver Bergman na Suécia ou, às vezes, a explicação era que ele estava em Nova York com William Faulkner. Ele tinha amigos em todos os lugares e saia sem aviso prévio. Ele sempre carregava o passaporte e eu sabia onde ele estava quando voltava e me mostrava os carimbos da imigração. Ele sempre me trazia presentes. As opções que a atriz tinha na época eram muito limitadas: "Esse foi um momento muito complicado para as mulheres. Não podíamos ter nossos próprios cheques. Você não tinha direito a nada, apenas a calar a boca.

Karina disse que depois de perder o bebê teve um momento terrível. “Eu não queria estar viva”, disse ao The Guardian. Ela havia tentado suicídio, então foi internada em uma espécie de sanatório psiquiátrico. "E eu não estava nem um pouco louca. Mas essa era uma situação terrível para as mulheres. Você poderia ser trancada para sempre. No entanto, um psicanalista me ajudou. "Mais tarde, seu marido ofereceu a ela um papel em Banda à parte: “Acho que esse filme provavelmente salvou minha vida”, disse ela ao jornal inglês na mesma entrevista.

O casamento durou até 1967, ano em que as mulheres conseguiram dispor de seu próprio dinheiro sem a permissão do marido. Anna Karina se casou ainda mais quatro vezes. Embora nunca tenha ocultado as dificuldades que enfrentou com Godard, sempre fez uma análise final positiva desse relacionamento, como explicou à Vogue: “Era uma história muito bonita, mas cansativa para uma garota tão jovem.”

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